"... mas amá-lo por inteiro significa amar também os seus sonhos, e eu jamais pediria que abrisse mão do que o fazia mais feliz no mundo."
Hanami,
365 dias de Primavera
--------------------------------------------------Novembro de 2021
Eu nunca gostei de tomar grandes decisões. Para mim, grandes decisões vêm acompanhadas de grandes dores. Hoje sei que sempre estive certa. Escolher algo significa abandonar alguma coisa ou alguém, deixar para trás o que importar ou importou, e mudar, e isso é difícil. Dói! Porque mesmo que esse algo ou alguém não tenha mais o seu amor, tem algo de você, há uma ligação de alguma forma. Mas, quando se trata de alguém que você ainda ama... É imensurável o tanto que pode ser doloroso. Deixar alguém que se ama, é mais que infeliz, é angustiante. Porque a dor vem rápida, dói de uma vez, mas a angústia te corrói aos poucos, te mastigando com força, sem piedade.
Pior que tê-lo deixado, é sofrer com a crueldade do destino, que de forma maléfica me trouxe para sua cidade natal por conta de uma proposta de emprego. Pensei que seria menos dolorido se estivesse longe mas, essa cidade está marcada com vários momentos especiais que vivi com ele. Estar aqui, é estar perto dele, mesmo que não fisicamente. Andar por essas ruas, vendo o rosto dele nas TV's, a voz dele em todas as estações de rádio, as homenagens gigantescas no metrô, é torturante. Mesmo que eu tente, embora não queria, não consigo esquecê-lo. Tudo dentro de mim tem ele. Tudo que sou, continua sendo dele, mesmo sem poder ser. E eu queria, com todas as minhas forças, ainda estar com ele. Mas eu não podia mais.
Cansada desses longos nove meses longe dele, subo devagar as escadas do prédio, indo até a porta do meu novo apartamento, esperando ansiosamente encontrar algum conforto dentro da minha própria casa. Mas ao contrário do que desejo, não encontro nada além do desprazer de estar sozinha, como sempre. A visão que tenho parada na porta, é de Baby levantando a minúscula cabeça, esperançoso para encontrar Jungkook, e isso me fere mais um pouco. Ao perceber que não é quem ele espera, o cachorrinho volta para sua almofadinha, fazendo um som triste. Eu o entendo, é assim que me sinto. Tudo sem Jungkook é triste e vazio. Não é o mesmo sem ele, sem sua áurea leve pairando pela casa, que quando ele estava presente, era lar.
Vou lentamente até o bichinho, depois de tirar os sapatos e jogar a bolsa em qualquer lugar. Me abaixo a sua frente, e o pego no colo.
— Eu também sinto falta do papai.
O animal me olha cabisbaixo, porém não faz mais nada. Esse é o efeito da ausência de Jungkook, um enorme nada. E eu tenho vivido nesse enorme nada, submersa num poço de melancolia. Minha mente cansada demais de sofrer, como válvula de escape, propaga a imagem do sorriso bonito dele em minha memória, que mesmo quando estava com uma aparência cansada, ainda assim cintilava sua luz interna. Lembro da voz suave dizendo: "Noona, senti sua falta." Essa frase soava como um eu te amo para mim. Essa frase, que ele disse tantas vezes no passado, era um lembrete feliz de que os dias distantes dele, haviam acabado. Mas agora, a ausência é uma realidade constante, não passageira. Lembrar disso me causa um nó na garganta, minhas mãos trêmulas mal conseguem segurar o cachorro que nem três quilos pesa. Me esforçar para não definhar de solidão está sugando todas as minhas forças.
A cama parece tão grande e fria sem ele aqui. Nem mesmo tem o seu cheiro suave nos lençóis, porque ele nunca esteve aqui. Esse apartamento é só uma tentativa infrutífera de conseguir recomeçar. Todas as lembranças estão só na minha memória, sem resquícios físicos. E já é um tormento lidar com as recordações me inundando o tempo todo, se houvesse sinais materiais que ele esteve aqui em algum mínimo momento, não sei como seria. Acho que seria muito pior ter pequenos lembretes sobre Jeon pela casa, mas mesmo que fosse infinitamente mais cortante, eu ainda adoraria ter alguma blusa sua, só para lembrar do seu aroma suave impregnado na minha pele, ou então, um de seus cordões para carregar orgulhosamente comigo durante vinte e quatro horas, os sete dias da semana, os trinta dias do mês, os trezentos e sessenta e cinco dias do ano, me fazendo ter a certeza que ele foi real, que eu fui dele porque escolhi me entregar. E essa foi minha melhor escolha.
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O efeito doloroso da sua ausência
Short Story[Oneshot] "Ele está aqui. O rosto mais másculo do que quando o conheci, os olhos grandes com lágrimas de emoção, o sorriso de amor estampando os lábios finos, a atmosfera bonita e reluzente em volta dele. O meu Jungkook. O homem que eu amo. Ele não...