Acordo em uma cama de hospital, a última coisa que me lembro é Akira correndo pra chamar ajuda e um grupo de homens me levantando, fui resgatado. Ouço pessoas falando alto de fora do quarto e consigo identificar a voz de uma das pessoas. É a voz de Akira.
- Você tem que me deixar vê-lo!- Grita meu amigo
- Você é da família? - Pergunta uma mulher, ela parece ser nova, tem uma voz fina
- Quase, sou o melhor amigo dele! Sou tipo um irmão! - Grita ele
- Você ainda não é da família, desculpe. - fala a mulher
Não ouço mais nada. Estou sozinho no quarto e penso por um momento, onde será que Fernando e Laila estão? Será que estão bem? Onde minha mãe está? Nem um acidente faz ela dar prioridade pra mim.
- Licença - Uma mulher bate na porta, ela é alta, tem a pele escura e cabelo cacheado e argolas nas orelhas, ela é linda. - Me chamo Michele, sou a doutora que cuidou de você. Então, você não quebrou nenhum osso, nem fraturou, só teve uma pequena concussão na cabeça e desmaiou.
- Minha mãe está vindo? - pergunto
- Sim, entramos em contato com ela- ela responde com um sorriso.
- Obrigado
Quando ela sai do quarto sinto meu rosto esquentar e as lágrimas brotarem de meus olhos e escorrerem pelo meu rosto, não sei ao certo porque estou chorando, acho que foi a soma de tudo o que passei hoje.
Acabo pegando no sono e acordo com um toque gelado em meu pé, a mão da minha mãe está nele, ela está de pé em frente a mim com um sorriso tímido no rosto, consigo ver seu olhar cansado, sei que ela deu seu melhor para conseguir estar comigo aqui. Minha mãe não é uma mulher feia, tem um cabelo preto e curto na altura dos ombros, tem olhos castanhos e é bem magra.
- Oi filho - diz ela quase sussurrando.
- Oi, mãe - respondo
- Seu amigo ainda está aí - Diz ela
- Que horas são? - pergunto
- dez da noite - Ela me diz - Já me passaram todas as informações, você vai ficar bem, já poderá voltar pra escola depois de amanhã.
- Ah, tudo bem - digo, tentando não manter contato visual com ela - Pode pedir pra deixarem o Akira entrar?
- Claro! Vou ficar ali fora pra você falar com ele - ela diz sorrindo e saindo do quarto, um pouco tempo depois Akira entra no aposento.
- Cara, tá tudo bem? Esse hospital é tão estranho, não me deixaram entrar e nem me passaram nenhuma informação! - Ele diz de um jeito irritado, mas ao mesmo tempo engraçado
- Tô bem sim, e eu já sabia que você estava ali fora, ouvi sua voz - digo sorrindo
- Ah, eu falo tão alto assim? - ele diz rindo
Gargalhamos juntos por um tempo, logo depois nos despedimos e ele vai embora, eu pego no sono novamente.
Acordo de manhã, o sol que invade o quarto pelas janelas incomoda meus olhos, levanto e caminho em direção ao banheiro onde encaro meu reflexo pelo espelho, meu cabelo cacheado está bagunçado e estou com olheiras profundas. Faço minhas necessidades e vou ao encontro de minha mãe que já está parada na frente do meu quarto, me esperando para irmos para casa.Ando pelo hospital, indo em direção a saída, o local é limpo e bem claro, o teto é feito quase que totalmente de vidro, fazendo com que muita luz natural entre e ilumine o local, a maioria dos comércios são feitos de vidro, assim podemos utilizar a luz solar a noite e usar luzes artificiais a noite. Saímos por uma porta que se abre automaticamente quando passamos por ela, eu e minha mãe nos dirigimos pelo Jardim em direção ao carro que está estacionado próximo a estrada, minha mãe dá um toque em seu relógio e as portas do carro se abrem sozinhas.
- Bem vindo de volta, Ângela e Alef - Uma voz feminina diz, ela sai dos alto-falantes do carro, a voz é uma inteligência artificial chamada Alexa, ela vem com o automóvel
- Obrigada Alexa - Diz minha mãe se sentando no assento do motorista, sento-me do lado do lado dela, as portas se fecham e vamos para casa.
Em casa resolvo me comunicar com meus amigos, não pude fazer isso antes, pois meu relógio estava em casa. Dou um leve toque na tela dele e um holograma se abre em cima do aparelho, abro o aplicativo de mensagens e entro no grupo "Quarteto fantástico", constituído por mim, Fernando, Laila e Akira. Mando a seguinte mensagem: " Fernando e Laila, onde vocês se meteram ontem? Eu e Akira fugimos e vocês sumiram!", eles não respondem de imediato, mas Fernando responde minutos depois: " Saímos pela saída de emergência oras! Vocês que saíram pelo caminho mais longo e danificado pelo fogo!". Realmente, mas na hora nem pensamos em sair pela saída de emergência, seria a forma mais fácil e segura de sair da escola.
Me sento na frente da televisão em busca de algo para passar meu tempo, minha mãe já saiu para trabalhar e a médica achou melhor hoje eu ficar em casa para descansar, por isso não fui para a escola e ficarei sozinho até a minha mãe chegar. Passo os canais rapidamente, controlando a televisão pelo meu relógio e paro no canal de notícias que está transmitindo ao vivo um discurso da presidenta Verônica Lima, ela tem uma postura ereta que transmite confiança, tem um cabelo loiro platinado amarrado em um rabo de cavalo muito bem preso e firme no alto da cabeça, ao lado dela está minha mãe, segurando um tablet e se certificando que nenhum repórter ultrapasse a linha de segurança e ameace a segurança da presidenta.
- Atenção todos! O Brasil está entrando em estado de alerta! Diminuímos a quantidade de água distribuída para a população em um litro, ou seja, cada pessoa poderá usar somente três litros de água por dia. - Diz ela firmemente.
Logo depois dessa revelação bombástica todos os repórteres começam a fazer diversas perguntas à presidenta e assim a transmissão se encerra e os comerciais começam a passar, não presto muita atenção porque ainda estou digerindo o que acabei de ouvir. Eles estão tendo que racionar a água, ou seja, estamos tendo uma crise de superpopulação novamente. Tudo o que aconteceu a quinze anos atrás vai acontecer de novo.Entro no banheiro, desnorteado e sentindo uma forte dor de cabeça, clico na tela ao lado da pia e escolho a quantidade de água que desejo gastar, como só preciso lavar um pouco meu rosto, uso apenas 200ml de água. Levanto meu rosto encarando meu reflexo molhado no espelho, meu relógio apita indicando que é hora do banho, tiro minhas roupas e entro no box de vidro, meus dedos tocam o chão gelado e me causam arrepios. Toco na tela presente dentro do box e escolho a opção de banho, espero um tempo e uma fumaça começa a sair do chão. Os banhos tem que ser a seco, pois não temos água para gastar, pode parecer anti-higiênico, mas limpa tão bem quanto a água limpava.
Saio rapidamente do banheiro, envolto com uma toalha, visto meu pijama, deito em minha cama e pego no sono rapidamente. Acordo na madrugada com um barulho vindo do andar de baixo, saio silenciosamente de baixo dos lençóis e desço as escadas com cuidado, sinto um arrepio subir pelo meu corpo e me fazer estremecer. Vejo uma faca em cima da pia, a pego e me abaixo, caindo para baixo da mesa da cozinha, me escondendo. Não sou o tipo de pessoa covarde, se eu vejo um problema, vou atrás e o resolvo sem medo, mas nesse caso, confesso que estou com tanto medo que posso sentir até os dedos dos meus pés tremendo.
Ouço um som de algo se remoendo atrás da geladeira, parece que é alguém ou algum animal tentando tirar algo de trás dela, resolvo não me aproximar, mas fico de prontidão, pronto para atacar caso algo apareça.
De trás da geladeira sai um drone, diferente do que é comercializado, é um drone usado por empresas e pelo governo, ele é uma esfera vermelha, tem uma abertura na parte de baixo onde tem as hélices que o fazem voar. Ele se move um pouco mais pela cozinha, mas sai pela janela aberta e sai voando para longe, me levanto e fecho a janela, demoro um pouco para andar, porque ainda estou com minhas pernas moles por conta do medo. Subo para meu quarto e deito na minha cama sem saber porque aquele drone estava na minha cozinha e porque ele estava mexendo atrás da geladeira. Penso em algumas teorias bobas, mas acabo caindo no sono

VOCÊ ESTÁ LENDO
2050
Science FictionEm 2035 o mundo ultrapassava a marca de 12 bilhões de habitantes, não tinha água e nem comida para todos, porém uma doença altamente mortal começou a proliferar, dizimando metade da população. 15 anos depois, em 2050, um menino começa a duvidar de t...