Capítulo 01

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Atravessou um corredor escuro. Parecia tudo feito de madeira. Caio lembrou da velha casa no rio Caciporé onde ficava a fazenda de seu pai falecido. Mas o corredor não tinha fim. Andou por várias horas nele carregando uma lamparina de querosene. Tinha algo de errado. Nenhuma casa era daquele tamanho. Nas paredes dos corredores laterais não havia portas. Das brechas a noite soprava e Caio podia jurar que o lado fora estava repleto de feras terríveis e fantasmas. Seguiu até que chegou ao fim do corredor, que dava para um cômodo escuro. Na casa antiga que lembrava, aquela devia ser a velha cozinha, alguns degraus abaixo do restante da casa. Ele avançou, mas no interior a lamparina não conseguia afastar a escuridão. Olhos vermelhos passaram a dançar diante dele.

— O que você quer de mim? — Caio estava trêmulo.

— Eu? Foi você quem me procurou.

***

Caio chegou no colégio exausto. Depois que despertou do sonho, não conseguiu mais dormir. Em sua carteira, rabiscava num papel para não ser notado. Não deu pra evitar seu amigo mais próximo.

— Não dormiu direito? — Era o intervalo e Rodrigo sentou na cadeira vaga diante do amigo.

— Dormi feito uma pedra. — Respondeu sem levantar da cabeça do papel que rabiscava.

— Então por que está com essa cara amassada?

— Não tem nada de errado com a minha cara. Sempre foi assim.

— Seu humor está horrível. Não acredito em uma palavra do que você diz.

— Você nunca acredita em mim.

— É porque você é um mentiroso compulsivo. Olha quem entrou na sala? — Caio levantou o olhar e ficou observando a moça magra com longos cabelos negros. — Ela é linda, não é mesmo?

— Linda quem? — Caio finalmente olhou para o amigo por um breve instante

— A Morgana.

Caio não podia revelar seus sentimentos por Laura, que ele gostava de sua aparência de morta-viva, de bruxa de Avalon. Teve a impressão que a observou por tempo demais. Alguns segundos pareceram uma eternidade. Torceu para o amigo não perceber depois que voltou para o papel com a cara ainda inexpressiva, mas o coração acelerado.

— Que coisa feia você a chamar assim.

— É porque ela parece um fantasma. Ela é linda, mas me dá um pouco de medo. O povo diz que ela gosta de vampiros e anda no cemitério.

— Deve ser tudo mentira. Você devia evitar se meter com fofoca.

— Os boatos são uma importante fonte de informações, camarada. Você deve aprender a falar com as pessoas corretas. E falando em cemitério, saiu aquele filme de terror. Vamos assistir?

— Não quero.

— Por que não?

— Acho filme de terror muito chato. — Não queria lembrar dos sonhos que o atormentavam noite após noite.

— Essa é nova. Desde quando você pensa isso. No começo do ano a gente foi assistir um filme de terror.

— A gente muda de ideia. Estou agora em outra vibe.

— Vibe de quê? — Caio apontou para a folha rabiscada.

— Poesia.

— Que porcaria é essa, velho? Deixa esse negócio e vamos assistir o filme hoje. Vai terminar meia-noite.

Caio reparou que o amigo não falou mais nada. Ficou silencioso de repente. Quando levantou a cabeça, sua colega de sala de longos cabelos negros e a pele muito clara estava diante deles, com uns olhos de um verde escuro.

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⏰ Last updated: Feb 09, 2020 ⏰

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VAMPIROS NA FLORESTAWhere stories live. Discover now