Dois e demais pra você?

capitulo 1

            _Anne_

É errado espionar seu vizinho com binóculos? E por espionar, digo espiar pelas persianas da janela do segundo andar com a língua para fora enquanto assiste vários músculos gostosos sem camisa, ensopados e esfregando um Camaro no calor de verão. Sabonete tem um gosto de merda, mas eu amaria lamber a água brilhante de cada centímetro dos corpos dos meus vizinhos. Dos dois. Que amigos. Sorri para mim mesma enquanto o vizinho número dois sai da casa como se estivesse pronto para entrar em uma sessão de fotos para um calendário de bombeiros. Jeans rasgados e gastos. Cabelos loiros perfeitamente arrumados. E você sabe. Sem camisa. Meu rosto dói de tanto sorrir enquanto eu o olho lascivamente, pensando no que eu poderia fazer com aquele corpo. Eles são um par perfeito. Um moreno, outro loiro. Um amplo e expansivo, o outro esguio e contido. Ambos poderiam ser modelos. Inferno, eles podem ser, pelo que eu sei. Os dois dirigem carros legais. Ambos têm uma aparência de matar. Ambos preenchem minhas fantasias à noite desde que se mudaram há duas semanas. Umedeço meus lábios com a língua enquanto observo Sr. Loiro pegar uma esponja do balde de sabonete para ajudar seu amigo. Eles têm que ser gay, percebo com uma leve franzida. Eles são lindos demais,e nunca vi dois caras lavarem um carro assim juntos. Retiro meus dedos das persianas e ouço o som metálico delas se fechando, então viro e pressiono minhas costas contra a parede, inspirando profundamente. Apenas observar os dois me deixou excitada. Uma pena que seja tudo por nada. Mesmo se eles não forem gays, seria tudo por nada. Realisticamente, eu não teria chance com nenhum deles. Eles são perfeitos demais, e duvido muito que eu seja o tipo de garota deles. Meus olhos foram para meu estômago pouco plano. Estou longe de ser gorda, mas eu certamente poderia perder alguns quilos. Caras como eles provavelmente namoram garotas magricelas com cabelos perfeitos, maquiagem impecável e seios gigantes. Pelo menos, tenho uma dessas coisas a meu favor. Eu apalpo meus seios e os reajusto no sutiã esportivo que estou usando.
O coitado já viu tantos quilômetros que o elástico dele está prestes a soltar. Preciso me livrar dele, mas é um dos meus sutiãs mais confortáveis, e não vejo problema em andar com ele pela casa. Além disso, não é como se alguém fosse ver. Não é como se eles fossem ver. Mordo meu lábio inferior por um momento antes de sucumbir à vontade de espiar meus vizinhos novamente. Um está se esticando sobre o capô enquanto o outro está esfregando o porta-malas. Suspiro enquanto observo seus corpos brilhando das pequenas gotas de água cobrindo a pele deles. Talvez eu devesse colocar algumas roupas e ir até lá me apresentar. É a coisa educada a se fazer, afinal. Disse a mim mesma que seria exatamente isso que eu faria quando descobri que novas pessoas estavam se mudando para a casa da frente... até que vi o quanto eles eram lindos. Para ser justa, eu até que tentei.
Alguns dias depois deles se mudarem, assei alguns cookies com pedaços de chocolate. Me vesti com minhas roupas de ginástica e puxei meus cabelos morenos para cima em um rabo de cavalo alto, esperando impressioná-los os fazendo pensar que me importava com exercícios. Não é realmente uma mentira. Ir para a academia uma vez por semana com minha melhor amiga se qualifica com me importar com exercícios? Dei a mim mesma uma conversa motivacional enquanto andava com os cookies para a porta da frente. Mas assim que abri a porta e meus olhos encontraram o vizinho de cabelos escuros trabalhando no seu carro na entrada da garagem, minhas bochechas ficaram cinquenta tons de rosa e imediatamente voltei para dentro de casa. Então minha mente ficou louca com desculpas sobre porquê eu não deveria ir até lá. Coisas tipo: ele parece ocupado. Talvezeu devesse tentar outra hora. E os dois têm menos de dez por cento de gordura corporal. Eles provavelmente nem comem cookies. Então os cookies ficaram plantados na minha cozinha durante dias antes que a frustração e a tentação me vencessem e eu acabasse comendo o prato inteiro sozinha, enquanto sentava no sofá refletindo sobre minha timidez. Eu soube então qual era a verdadeira desculpa. As chances de tentar falar com eles sem corar como se meu rosto estivesse pegando fogo eram quase nulas. Sempre fora uma reação incontrolável que eu tinha a homens deslumbrantemente atraentes – uma entrega certeira do que eu pensava. Essa é uma forma super estranha de começar um relacionamento com seus vizinhos. É melhor eles apenas continuarem estranhos, para me polpar o constrangimento. Suspiro, deixando meu desejo de conhecê-los se dissipar.

Continua...