Luzes. Câmeras. Silêncio.

84 22 7
                                    



   Sobre o palco minha dança colide com minha dor, minha respiração se torna suave, assim como o movimento de meu corpo, e as batidas de meu coração sincronizam com os movimentos de meus pés, os quais sangravam sobre as minhas sapatilhas.

   Estou cega, não posso mais ver o mundo ao meu arredor; Talvez tenha sido resultado do brilho dos holofotes sobre mim, e suas tentativas falhas de criar uma estrela. Eu dançava sobre pregos, e a cada passo dado, uma dor insuportavelmente diferente dominava meu corpo, e embora meu sorriso não pudesse desaparecer, meus olhos gritavam por socorro. Eu estava presa, o palco havia me calado, e as luzes criado um mundo sem imperfeições, o qual eu era a protagonista, e sendo assim, ser perfeita não era uma escolha.

   No momento estou de costas para o público, e lágrimas transbordam de meus olhos, embora eu saiba que não posso chorar, pois tenho que manter a maquiagem perfeita. Meu estômago dói, porém desejo vomitar ao apenas pensar em ter que colocar algum tipo de comida em minha boca, meu cérebro dizia coisas que rebatia os desejos de meu corpo.

   Por que enquanto ninguém está olhando, tudo se torna frio demais?

   As cortinas se fecham, e então posso respirar. Não consigo me manter em pé, preciso de ar, como posso respirar? Estou morrendo com minha arte, mas se abandona-la morrerei da pior forma que um artista poderia morrer.

   Pessoas correm ao meu arredor, ocupadas demais para se preocuparem com minha dor, afinal, todos haviam dores, todos haviam preocupações. Eu era apenas mais uma, eu escolhi ser assim, eu aceitei isso.

   As pessoas, as que nos olhavam por trás das luzes intensas, elas me montaram, escolherem meu cabelo perfeito, minha postura de boneca, minhas roupas de grife; Mas acho que esqueceram de montar a parte essencial em um ser humano: sentimentos, caráter, psicológico. Me tornei superficial demais, agora sou baseada apenas em uma imagem, a qual nunca poderá se tornar diferente da qual criaram.

    Agora estou sobre o palco novamente, as cortinas se abrem, mas não há holofotes, tudo está escuro e frio demais para identificar algo, estou confusa. Questionamentos me invadem, o que eu fiz? A escuridão me domina, enquanto lágrimas transbordam como nunca haviam feito antes, meu peito se aperta e minhas pernas fraquejam.

    No entanto, mãos quentes e delicadas me seguram pela cintura, dizendo que tudo ficará bem, e que por um momento eu deveria apenas seguir seus passos.

    Estou sendo segurada por alguém nas alturas, meus pés não estão sendo mais pressionados, e finalmente posso respirar um pouco, as luzes se acenderam e pela primeira vez não eram apenas para mim; ele havia me acolhido em seus braços, me aquecido do frio e me feito sentir confortável ao ponto de pela primeira vez sorrir verdadeiramente sobre o palco. 

   Meus movimentos se sincronizaram aos dele, e agora o peso era distribuído para duas pessoas. 

   Percebi, no fim de tudo, que aquele brilho, logo após a escuridão, não vinha dos holofotes e sim de nós. E que com meu próprio brilho, tudo poderia ser possível.







Nota da autora: Foi um poema o qual eu senti que deveria escrever, ele veio até mim em uma noite comum e expressou uma dura realidade (ao menos é o que se parece para mim); Achei que deveria compartilhar com vocês. Espero que gostem!

A BailarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora