O som da melancolia

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"Imagine que tudo que mantinha a sua autoestima, sua segurança, sua vida feliz e o que fazia sua mente entrar em equilíbrio com o trabalho duro e com o desgaste mental. Imagine que tudo que mantinha isso e mais outras coisas da sua vida, ruísse bem em sua frente. Dando lugar ao nada, simplesmente ao nada.

Não ter vontade de fazer nada, de não viver mais daquilo que traz memorias ruins. De se sentir um fardo em tudo que faz parte, de tudo que coloca a mão e ter medo de estragar as coisas. Se sentir inútil e nem ao menos ter vontade de sair de casa. Nem vontade de viver mais.

Eu me sinto assim, todos os dias. Eu me entrego de bandeja a esse sentimento, o sentimento de me sentir o nada.

Na madrugada da noite me pego chorando sem motivo nenhum, me sentindo sozinha o tempo todo e me recusando a ouvir qualquer coisa que tenha som de uma música. Porque tudo isso me faz sofrer. Tudo isso me leva de volta aquele dia, ao dia que perdi tudo que eu mais admirava em mim mesma. Meus sonhos, meu esforço para realizá-lo, a minha vontade. Eu perdi tudo isso."

"Oh, I hope some day I'll make it out of here

Even if it takes all night or a hundred yearsNeed a place to hide, but I can't find one nearWanna feel alive, outside I can't fight my fear"

"Oh, espero que algum dia eu consiga sair daqui
Mesmo que demore a noite toda ou cem anos
Preciso de um lugar para me esconder, mas não consigo encontrar nenhum por perto
Quero me sentir vivo, lá fora não consigo enfrentar meu medo"


O barulho da classe de adolescentes conversando, deixava Hinata um pouco mais nervosa ao ver que estava chegando ao local da sua primeira aula a uma nova classe. Mas o silencio veio quando ela abriu a porta e todos a olhavam. Com misto de emoções, com alguns surpresos e outros um pouco chocados todos analisavam a nova professora de piano de cauda.

A Hyuuga se aproximou da mesa maior, que pertencia ao professor e todos aguardaram sua apresentação. Hinata encarou aqueles alunos com um olhar sereno e calmo. Respirou fundo e se lembrou de cada coisa que aprenderá por todos aqueles anos.

"Meu nome é Hinata Hyuuga. Sou a nova professora de piano de cauda e sua mentora até o fim do ano. Aqui vocês aprenderão de uma maneira objetiva e direta, como tocar de forma correta esse grande instrumento.
Aprender a tocar é um desafio. No entanto, para notar o seu progresso, é importante definir claramente suas metas, suas vontades e seus desejos."
As palavras ditas pela nova professora, chamaram a atenção. Hinata sabia do que estava falando muito bem. Afinal, foram anos na frente dos palcos, foram anos dedicados a somente por tocar piano.

A aula foi apenas Hinata falando, por uma hora e meia, ela deu introdução a tudo que podia, para alertar aos alunos o que vinha pela frente. Mas, mesmo pela ótima aula que ela tinha certeza de que tinha dado, só pouquíssimos alunos estavam levando-a a sério, e Hinata havia percebido. Por causa da sua deficiência, muitas das vezes é difícil acreditar que uma pessoa com apenas um braço, pode tocar ou até mesmo ensinar, Hinata sabia disso.

"Como ela pode nos ensinar daquela forma?"

"Ela nem pode tocar e fica nos falando o que fazer?"

"Como deixam ela dar aula, ela não deve nem saber tocar."

"Olha, ela não tem um braço."

Foram poucos dos comentários que a Hyuuga teve que escutar naquele dia.

Hinata então, se despediu brevemente e saiu sem olhar para trás. Mas antes de ir para outra classe, ao passar pelos corredores, Hinata ouviu sons de pessoas cantando e tocando. A curiosidade da morena falou mais alto e decidiu dar uma espiada. Ao chegar mais perto e olhar pela janelinha da porta daquela classe, viu uma roda de alunos e no centro, estava aquele loiro com um violão. Ele tocava e a classe acompanhava.

Lembrou-se do nome dele e viu que ele havia conseguido o emprego. Ao observar mais, que o loiro tocava e as vezes parava para dar conselhos. Ele demonstrava interesse com os alunos e trocava palavras. Hinata ficou um pouco admirada e bem surpresa. Até que o mesmo olhou pela janela e a viu. Pega no fraga, Hinata escondeu-se e seu coração palpitou um pouco mais rápido.

O sinal tocou novamente, dando a entender que era a hora da troca de professores. Hinata saiu dali o mais rápido possível para não ser pega espiando e foi direto para a sala dos professores.

Ao adentrar a sala, para pegar o resto de suas coisas e ir embora, viu os outros professores conversando animadamente, mas o silencio veio quando ela chegou. O que já estava acostumada. Alguns nem davam bola, ignoraram e continuaram a papear. Mas alguns a olhavam, com certo desprezo e outros com pena da moça.

"Hina... "Um dos professores a chamou. Já sabia quem era, a voz firme, o perfume inconfundível e as veste elegantes daquele homem, os cabelos curtos e castanhos, penteados para trás e cicatrizes na parte direita de seu rosto, sem dúvidas.

"Oi Obito." Hinata responde hesitante.

"Que bom te ver. " O rapaz cuja o nome era de uns dos maestros mais renomados do país, estava ali em sua frente.

" É. " A Hyuuga tratou de andar direto ao seu armário para pegar suas coisas e ir embora o mais rápido possível dali. Com dificuldade para pôr a chave no cadeado que prendia a porta do armário, Obito pegou a chave de suas mãos e abriu.

Hinata se afastou com a aproximação dele, viu ele pegar suas coisas e sua bolsa.

" Vamos, eu te ajudo com isso."

Hinata assentiu um pouco constrangida e seguiu para fora da sala até o estacionamento. Enquanto andavam, ela permanecia com a cabeça baixa até chegar ao seu carro.

"Olha... Não precisava se afastar daquele jeito na sala dos professores. " Obito disse sério, abrindo a porta do carro para ela.

Hinata nada disse, apenas entrou no carro adaptável para ela e esperou ele se afastar. Assim que viu que ele já tinha ido embora, Hinata sentiu seus olhos marejarem.
Mas antes de se mergulhar no choro, ouviu dois toques no vidro do carro. Hinata se assustou e olhou para ver que era.

Era Naruto novamente. Ele apontava para ela descer o vidro. Hinata abaixou um pouco hesitante.

" Oi... " O loiro sorriu, mas logo percebeu as lagrimas da Hyuuga. "Ta tudo bem?"

Hinata percebeu e logo enxugou seu rosto, olhando para frente, para o mesmo não a encarar olho a olho.

"O que você quer?" Questionou áspera.

"Bem... eu vi você espiando minha aula... e pensei que..."

"Pensou o que? Se eu quero aprender com você? Porque claro, eu não posso dar aula ne? Porque sou deficiente, nem ao menos consigo tocar a merda do instrumento que eu ensino! " Alterou a voz.

Naruto piscou várias vezes surpreso pela raiva repentina.

" Uou, calma... Eu só queria conversar... Não é nada disso."

Ela viu que se exaltou e com raiva fechou os vidros e saiu dali acelerando o carro, Deixando Naruto para trás, sem entender nada. Hinata sabia que descontou a raiva nele. Se sentiu uma idiota por isso. As lagrimas caiam cada vez mais a cada minuto que se passava dirigindo até sua casa.

O som do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora