Sinfonia das Águas

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As emoções são tão passageiras quanto as nuvens que são tragadas pelos ventos de um lado a outro. Poderia tentar controlar as suas emoções e seus sentimentos, e menos livre te tornaria. Apenas as mentes sonhadoras são capazes de viverem nas nuvens e somente os corajosos são capazes de suportar uma tempestade estando à deriva.

Yasmin encarou as marés com expectativas fulgentes de uma criança em êxtase ao ver o mar pela primeira vez. As ondas vinham serenamente até a costa da praia respingando na areia quente.

Seu rosto tranquilo transformou-se na expressão amarga quando se lembrou do quanto seu coração havia sido corrompido e maltratado ao ponto de comprimi-lo em seu peito. Era desajeitada e seu corpo era grande demais para caber em vestidos pequenos e apertados. Seria a última vez que sentiria tão enfadonha comparada às outras meninas.

"Eu sei que sou tão feia e suja, mas peço que me aceite, porque eu não sou capaz disso", sussurrou.

Seu pequeno barco a esperava com um lampião já aceso. O pôr-do-Sol brilhava no horizonte se despedindo de mais uma tarde quente. Remou e remou. A luz fraca do lampião iluminado sua silhueta em meio a escuridão que a engolia aos poucos.

O anseio de chegar ao seu destino aumentou conforme não restaram mais ondas para enfrentar para seu objetivo final. Carregava uma flor atrás da orelha para que desse boa sorte. Não desistiria e nem resistiria. Seu vestido colado no seu corpo e as lágrimas silenciosas inundavam sua face.

"Senhor dos mares e das marés, eu peço que me aceite como sua. Não sou de ninguém, e por mais que me importe com meus pais e meus irmãos, ele nunca entenderiam que não posso ser quem eles pensam que sou", soluçou.

Não era a lenda sobre as esposas que o mar pegava para si que a consolava. Desejava que fosse levada para tão longe que não se recordaria de nada que a amedrontasse ou a deixasse insegura. Queria uma nova chance de fazer tudo certo dessa vez.

A criatura a observou furiosa. O que faria um pescador no mar naquela hora? Ela os odiava. Já bastava que pescassem durante o dia, antes mesmo que amanhecesse. Por que estaria ali, afinal? Para caçá-la? Fazia tanto tempo que evitava a superfície, que não entendia como saberiam de sua existência. Os mares reagiram às suas intenções, iria afundá-lo e afogá-lo antes que ousasse tocá-la.

Os Céus se fecharam naquele instante e os trovões cortaram a visão límpida das estrelas, impedindo que brilhassem mais que eles. As gotas caíram como martírio no mar quieto transformado na ira implacável das águas.

Yasmin entregou-se no momento que a tempestade começou. Seu corpo chocou-se na água, afundando lentamente. Duas mãos estranhas a seguraram pelos ombros, e se perguntou quem seria o ser inconveniente que tentava salvá-la.

Somente percebeu seu engano quando as mãos que a cercavam apertaram seu pescoço e a puxou para o fundo do tão rápido que já não sabia o quão longe estava. Seus pulmões cediam a forte pressão da água, debateu-se sem saber o por que. Era o queria, não era? Abriu os olhos sem enxergar nada, e voltou a fechá-los.

Parou de se debater. Talvez o Senhor do mares realmente existisse e a havia a tomado para si. Todo o pavor, tristeza e medo desapareceram em um estalar de dedos.

Finalmente seria livre.

As mãos que a puxavam para baixo afrouxaram o aperto e não estava mais afundando. Abriu os olhos de novo vagarosamente e olhos incandescente a encaravam com a mais completa confusão. Yasmin percebeu quer o que fosse aquilo era muito maior do que parecia. Sentiu a água movendo-se a sua volta, como se ela, julgou ser "ela", estivesse muito próxima e seu corpo fosse grande o suficiente para cercá-la ou esmagá-la se quisesse em instantes.

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