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Caroline escolheu a vaga mais próxima do prédio onde ficava o apartamento de sua amiga, Olivia. Ela olhou ao redor. Aquela era a parte mais pacata do bairro, e parecia mais deserta ainda por causa da noite. Por outro lado, algumas ruas mais para frente levavam ao trecho cheio de lojas, letreiros coloridos, bares e outros motivos por que pessoas costumavam aparecer ali. Mas não Caroline, esta noite.

Ela analisou o prédio antes de entrar. Portões pretos, tijolos vermelhos. Normal demais para Olivia. Ela imaginava algo diferente, talvez não tão diferente. Não conseguiria explicar para quem não tivesse estudado com as duas no Ensino Médio da Parnel.

A maçaneta do portão de barras pretas cedeu facilmente, como se estivesse esperando por ela. Os moradores e visitas deveriam seguir um longo corredor de piso áspero até chegar à entrada principal do edifício: uma porta de vidro grosso escondida depois de pilastras e plantas decorativas. Outro espaço mais estreito levava a uma parte de trás do local que ela imaginou ser a garagem. Não poderia dizer dada a escuridão que ia além de sua visão daquela parte, contrastando com a luz branca fraca acima dela.

Caroline notou como o prédio não tinha portaria. Nenhum interfone que ela tivesse notado. A porta de vidro estava trancada. Ela formou conchas com as mãos e se aproximou do vidro para enxergar o ambiente completamente escuro através dele.

-Está procurando alguma coisa? – a voz veio do caminho sombrio que levava à garagem. Caroline se assustou, dando um solavanco para longe da porta. Puta que pariu. Quando o homem se aproximou, não queria demonstrar o susto.

-Sim, ahm... A minha amiga morava aqui. – Agora havia outra luz vindo do beco, latejante como uma dor nas têmporas. – Olivia.

-Ela morreu? – o homem falou sem expressão na voz. Morreu. Uma palavra forte de mais para tratar da situação. A luz pulsava por trás dele, seu aspecto encardido cintilando. Como algumas faces que ela via na biblioteca, em seu turno da noite.

Caroline apenas balançou a cabeça.

-Certo – o homem tirou um pequeno molho de chaves do bolso com uma das mãos. Com a outra, segurava um pano e um balde vazio que Caroline tinha há pouco se dado conta. O zelador?

Ela passou para dentro do edifício logo quando o zelador abriu a porta. Uma luz acendeu com a sua presença.

-Obrigada – e sorriu um sorriso quieto. Ela virou o corpo para olhar ao redor.

Quando se voltou, já não estava mais lá. Ou qualquer rastro dele.

O elevador estava logo adiante. Parecia antigo, combinando com a estética geral do prédio. Um ponto de luz brilhou quando ela apertou o botão. Barulhos estranhos cuja origem era desconhecida por Caroline começaram a surgir. Por mais que o elevador estivesse se mexendo, enquanto ela esperava, os barulhos não pareciam estar vindo dele. Mas que seja. Ela não tinha medo dessas coisas. De ser levada para alto-mar, com certeza, mas não disso.

Ela ajeitou o cabelo curto preto com as pontas dos dedos magros. A porta do elevador se abriu em sua frente. Ela respirou fundo antes de entrar. Andar número 5. O último daquele prédio. Ela lembrou como sempre tinha achado certo charme nesses prédios mais baixos. Algo que Olivia não concordaria, o que tornava o lugar ainda mais estranho para alguém como ela. O elevador não tinha espelho. As paredes eram beges. No chão, um tapete cortado e manchado na ponta. A porta demorou mais do que ela esperava para abrir de novo no andar escolhido.

Existiam alguns apartamentos na parte de cima. Mais do que Caroline imaginava ao ver o prédio de baixo. O de Olivia era o último do corredor.

Caroline se aproximou da porta com passos lentos. Sentiu algo. Uma respiração em seu pescoço que fez a pelugem local se arrepiar. Não havia ninguém atrás dela. Só a luz iluminando o corredor vazio que, daquele ângulo, parecia mais comprido do que antes. Deus, como ela odiava imóveis antigos.

O Fantasma de OliviaWhere stories live. Discover now