Unforeseen; Galio

Cap 1 : Ocean eyes

As coisas começam a dar errado de forma repentina. Nenhum problema chega com algum tipo e aviso prévio, isso é fato.

Para Lio Fotia as coisas poderiam dar errado e ele não protestaria por simplesmente estar familiarizado com esse tipo infortúnio.

- Vamos ter que demolir o prédio no mês que vem.

As palavras da síndica do prédio eram contidas e um tanto trêmulas. Lio lembrava-se de quando atravessou a recepção do prédio e sem mais nem menos teria que ir embora.

- Tem um apartamento sobrando num prédio á quatro quadras daqui. É um bom lugar para você continuar a tocar. Pode ir visita-lo amanhã.

Dois dias depois Lio estava no elevador de carga do prédio amarelado da Greenstone avenue. Ele levava consigo quatro caixas e algumas poucas malas. O violoncelo estava em seus braços e nas caixas maiores havia apenas livros de direito. Ele olhou para as luzes do elevador tentando sem sucesso esquecer a frustração que sentia. Odiava fugir da rotina e gostava do antigo apartamento que era um pouco mais próximo do campus.

O zelador se ofereceu para levar as caixas até a porta mas Lio pedira que deixasse no corredor, o homem de meia idade nem ao menos insistiu. Os últimos dias haviam sido difíceis mas as últimas horas só iam de mal a pior. Dobrou os joelhos para apanhar uma das caixas.

- Lio? Lio Fotia?_ a voz minimamente familiar fez o rapaz parar o que estava fazendo para encarar seu portador. Os cabelos tingidos de um azul extravagante eram inconfundíveis.

Havia esquecido que Galo Thymos, um dos alunos de química da turma de Lucia, morava naquele prédio.

- Ah, oi._ Galo não pareceu incomodado com o modo seco que Fotia agira. Afinal, eles não haviam dialogado muito desde que Aina os apresentara no primeiro ano da faculdade mas desde então ambos não se falaram muito excerto por algumas trocas de olhares durantes festas após as aulas ou nas idas e vindas que se esbarravam no campus.

- Não esperava que você fosse o novo inquilino. Quer ajuda.

Ele não esperou que Lio responder e prontamente levantou uma das caixas. Lio não contestou apenas abriu a porta dando passagem para Thymos.

- É bom saber que você vai ser o meu vizinho de porta ninguém queria esse andar por causa do frio que faz a noite e por estar muito perto do sótão.

- Foi exatamente por isso que eu decidi ficar aqui._ respondeu erguendo a última caixa deixando-a perto do sofá de três lugares.

- Por que? Tem haver com seus vídeos?

Fotia sentiu um calafrio subir pela espinha ao perceber que deixou o violoncelo a mostra.

- A Lucia me contou que você toca eu não acreditei e procurei seu perfil no YouTube. Espero que não se importe.

Ele parecia ser uma espécie de stalker. Um péssimo stalker na verdade.

- Em todo caso, você sabe que não pode fazer barulho depois das dez da noite, não é?

Lio percebeu que estava em silêncio por um tempo consideravelmente desconfortante.

- Eu sei. A senhoria já me alertou.

Galo remexeu os pés no carpete mudando o peso de uma perna para a outra.

- Tem certeza que quer usar aquele sótão? É assustador e vazio sem contar que é muito húmido.

- Fala como se fosse mal assombrado.

- Eu sempre achei que fosse.

Ele é realmente muito idiota, pensava com o cenho franzido. Mas havia uma certa doçura nos olhos azuis que impedia Fotia de se irritar com o comentário.