Segunda Parte

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Com as folhas caindo das copas, os ninhos perdiam a proteção contra o vento forte.

Não havia mais nada a ser feito para adiar a viagem; Beija-flor perdera seu ofício e tinha de partir o mais rápido possível.

Em sua última tentativa de protelar, procurou aquela que aquecia o seu coração a fim de dividir o sentimento acolhedor.

— Venha comigo, doce senhorita. Não há mais lugar para nós aqui. Os dias estão ficando escuros e as árvores já não nos protegem. Venha comigo, por favor!

Palavras jogadas ao vento. De nada adiantara o tom poético e cativante.

A moça mais uma vez se afastou, mas nesse instante soou uma última nota que tocou o coração do Beija-flor como uma flecha que atinge o alvo.

A melodia ecoou no vazio que ali se fizera, e refletiu uma luz minguante do cristal gelado que cercava sua compositora e a isolava em seus anseios.

Foi um adeus.

A ave alçou voo e sumiu na cerração deixando o pobre Beija-flor devastado com seu pequeno, mas profundo, coração partido.

O amor o feriu como uma brasa incandescente e ele percebeu que nada mais poderia fazer.

Olhou para o sul e decidiu seguir o seu caminho sozinho, mantendo acesa a chama da esperança de um reencontro com sua doce senhorita, ainda que só por um lapso de segundo no aconchego do verão.

O Legado do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora