ESTE É UM ELEFANTE BRANCO

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Odorico Salgado

Essa edificação se localizava no centro da cidade, atrás da igreja matriz, numa das ruas principais.

Um projeto muito moderno e que causou certo alvoroço quando do início. Ninguém tinha visto um bate-estaca e, logo na primeira movimentação mais pesada, diante da obra ainda aberta para poder entrar equipamentos, compareceram o prefeito e autoridades locais. Só faltou quebrarem uma garrafa de espumante na primeira estaca.

Na frente da obra, ocupando calçada e asfalto, lotou de curiosos para verem a estaca de concreto receber o impacto de um martelo e ir se afundando quase dez metros nas profundidades do solo. A cada martelada, o povo aplaudia, entre feliz e assustado com tanta modernidade. Até escutaram, em meio aos aplausos:

-O "pogresso" chegou! Viva!

O deslocamento a partir de São José do Bravo era de uns cem quilômetros, ida e volta duzentos.
Em relação a Córrego da Barra, sede onde o " rubi" mantinha as nádegas acomodadas, trezentos e vinte ou seiscentos e quarenta quilômetros para que Antonielo visitasse a obra e, de fato, ele fez isso apenas uma vez,  estando ela toda levantada sem que o nome de Gabriel constasse também da placa. Perante o órgão de classe, ele não existia e nunca pesaria em seu currículo.

Essa obra foi ganha via  licitação pela unidade que o "homem da piteira" comandava. Pouco pude exigir, apenas cumprir.

O prazo de construção dessa agência foi cumprido em um ano, sendo executada dentro dos padrões da Ropase. O projeto era de magnitude absurda, diversos níveis em concreto armado, vãos amplos, lajes inclinadas com balanços, vidros temperados e furos redondos recortados na superfície.

Foram instaladas noventa e duas luminárias com lâmpadas fluorescentes. Era inimaginável a dor de cabeça que daria quando da necessidade de serem trocadas, pois estavam entre dez a doze metros do piso.

Absurdos da arquitetura e, no presente caso, uma obra de porte incompatível com o padrão da cidade. Praticamente um elefante branco.

Gabriel também passou alguns apertos que lhe tiraram o sono por muitas noites.
Quando da abertura de um imenso sub-solo, foi desconsiderada a possibilidade de se afetar a estrutura de uma antiga capela existente ao lado. Somando a essa falha grave, para ganhar tempo, ousou colocar em prática meios executivos rápidos que, chuvas fortes e fora de estação, contribuíram para um deslizamento de terra que soterrou, até a cintura, dois funcionários.

Foi um "pega prá capá".

Ao chegar, ficou branco como neve, nunca tivera essa experiência. Os dois que estavam na lama, já retirados e imundos, choravam. Até o mestre, experiente, ficou desesperado. Nada de grave aconteceu, mas o susto foi imenso.

Teve de correr conhaque, pinga para acalmar a situação que, no final, se transformou num churrasco. Passado esse ocorrido, levantou a preocupação de que o terreno encharcado pudesse vir a desestabilizar e afetar a estrutura da capela vizinha.

Todo piso ao redor foi coberto com lonas plásticas, como prevenção. A chuva cessou depois de alguns dias. Nada ocorreu e foi dado andamento aos trabalhos, num ritmo alucinante, devido à experiência passada.

O mestre Darcy ficava nessa obra, junto com um grupo de carpinteiros e armadores que voltavam para suas casas, em São José do Bravo, apenas nos finais de semana. De noite, assistiam a tevê, jogavam dominó e bebiam também, isso é difícil de se evitar.

Tinham alguns contratados na própria cidade e, um deles, depois da obra terminada, recebida pelo fiscal, foi contratado para servir como segurança.
E a festa?
Estamos no Brasil, portanto a festa da "inauguração" ficou para a abertura da agência e seus montes de funcionários devidamente concursados, assim esperava-se.

                                                                       Cont....

ASSIM CAMINHA A HUMANI....OPS.   CADÊ A ESTRADA?Where stories live. Discover now