Larissa cruza as ruas de São Paulo feliz como nunca. O cabelo loiro desgrenhado e ainda encharcado da poça d'água em que ela caiu brilha com o sol de 40 graus batendo em sua pele branca desprotegida contra os raios UV. Anda livre, sentindo-se sem nenhum peso no corpo, o que só aconteceu porque quando a carreta furacão passou por ela a Elsa lhe deu uma rasteira e o fofão afanou sua mochila. Felizmente, seu dinheiro estava guardado na sapatilha do pé esquerdo, a qual, infelizmente, foi arrastada pela chuva. Ela conseguiu ficar com seus documentos que estavam na sapatilha direita, mas só porque fugiu do incubus crackudo que tentou assaltá-la.
Um RG, um cpf e as roupas do corpo (parte delas), é tudo que lhe pertence nessa grande cidade. E o apartamento com seis meses pago que sua avó deixou para ela, mas a chave estava na mochila e a dona só consegue entregar a outra na segunda, daqui dois dias, então ela está, temporariamente, sem teto. A maioria das pessoas estaria chorando ou postando frases inspiradoras nas redes sociais, mas Larissa não tem tempo, nem celular, pra isso. Não ter nada é a chance perfeita de conquistar tudo, afinal, ela não tem mais o que perder.
Atravessando o centro da cidade, em busca de seu apartamento, escuta uma voz familiar. Procura a fonte e a identifica como sendo a pessoa na fantasia de frango da Moana, que gira uma placa com promoções de um restaurante, ilegalmente, temático da Disney. Além da voz, reconhece a aura amargurada da pessoa, a qual consegue ver com seu dom.
- Greg? - pergunta, aproximando-se rápido demais e sendo atingida no maxilar pela placa, quando o suposto Greg se virou para falar com ela.
- Larissa?! - questiona a pessoa dentro da fantasia, vendo a mulher se levantar. - Quero dizer... não te conheço, não. Compra o frango ou pode ir se fuder.
- Como não me conhece, bobo? Você até disse meu nome - afirma, rindo alegre.
- Quando?
- Agora mesmo. Você me acertou e me chamou de Larissa.
- Errado, eu te ofereci linguiça que tá na promoção por 10 reais a porção e se ninguém filmou você não pode provar que eu te acertei.
- Greg, você continua hilário - fala, risonha -, mas eu sei que é você. Lembro que quando nos formamos você mandou no grupo da sala que ia se mudar pra São Paulo e ficar famoso no teatro e que a gente podia lamber seu Kiu. Deu certo?
- Você está vendo alguém lamber meu cu, por acaso? Claro que não deu certo, Larissa! Eu ia tá falando com você usando essa merda se tivesse ficado famoso?
- Ah, às vezes era laboratório pra algum papel.
- Papel eu não arrumei nem de árvore, e olha que precisavam de 100 pra apresentação de "A menina branca no poço da floresta", mas contrataram fantasmas, porque aparentemente gente morta não cobra salário. O dinheiro que eu juntei acabou e meus pais não me deixaram voltar pra casa até pedir desculpas por chamar minha avó de vadia puta, mas eu me recuso porque foi meme e eles precisam entender isso.
- Ai, eu sei como é. Eu cheguei aqui pra começar uma vida nova...
- Eu não perguntei - interrompe, sendo ignorado.
- ...mas a chuva e a carreta furacão levaram todo meu dinheiro...
- Eu realmente não me importo.
- ...mas olha pelo lado bom, agora posso começar do zero!
- Esse seu otimismo de burguesa não vai durar nem um dia.
- E quer saber? Vou ir agora mesmo atrás de emprego. Eu te daria meu número pra mantermos contato, mas o homem aranha levou meu celular.
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Bem vindo à LGBT, compre um doce ou pode ir se fuder (degustação)
HumorUma série de coincidências completamente irreais une um grupo inusitado de pessoas. Larissa, Greg, Beatriz e Tadeu têm questões próprias a resolver num mundo onde a qualquer momento pode-se ser atacado por duendes armados e a carreta furacão, mas nã...