Dezembro – 2001
- Vem me ajudar a colocar os enfeites, filha. – mamãe me chamava da porta do meu quarto.
Aos oito anos o natal é o grande ápice do ano, após o meu aniversário. Era tão legal que podia ser natal todo dia.
- Já vou mamãe, a gente pode colocar aquela estrela grandona? – abracei a sua cintura e olhei para cima. Minha mãe era linda, tinha longos cabelos cacheados e os olhos de jabuticaba, como os meus.
- Podemos querida. – descemos e corri para a grande caixa de enfeite, retirei bolinhas coloridas e sorri.
- Será que o papai Noel vai lembrar-se da gente, mamãe? – olhei para ela que também pegava enfeites.
- Claro que vai. Ele lembra todos os anos. – sorriu. – Continue sendo uma boa garota e tudo ficará bem. – sorri. Mamãe tinha razão, o papai Noel iria deixar o meu presente e comer os cookies que ela me ensinou a fazer.Passamos boa parte da tarde arrumando a arvore, mamãe era estabanada e deixou vários enfeites se quebrarem, mas disse que compraria mais depois.
- Ficou uma beleza! – exclamou contente.
- Sim, ficou! – sentei no sofá para ficar olhando. Era impossível o Papai Noel se esquecer da gente com todas essas luzinhas indicando o caminho.
-Vá lavar as mãos, sua Tia Amber e Ian estão vindo comer cookies. – mamãe me lançou um beijo e foi para cozinha. Encaminhei-me para o banheiro sem vontade, amava a tia Amber, mas o Ian estava um garoto muito chato. Irritava-me toda hora até eu gritar com ele ou jogar alguma coisa na cara debochada dele. Lavei as minhas mãos e fui esperar na sala.**
Eles chegaram e mamãe e Tia Amber foram para cozinha, Ian ficou com a cara de bunda dele olhando para televisão.
- Você está me olhando demais. – senti minhas bochechas arderem de vergonha.
- Não estou não. – virei-me para o lado oposto dele.
- Quantos dias vocês levaram para montar essa arvore?
- Hoje à tarde, e é um pinheiro de verdade. – levantou-se e chegou perto dela.
- Por isso esse cheiro. – fez uma careta e revirei os olhos para ele.
- Deixe a arvore. – deu de ombros e fitou a meia que coloquei na lareira com a ajuda de papai.
- Meias na Lareira, Gabi? – sorriu. – O que você pediu?
- Não posso dizer. – balançou a cabeça.
- Por quê?
- Pois se não o pedido não tem validade. – gargalhou.
- Sério?
- Sim! – disse e ouvi os passou de mamãe, ela era sempre apressada.
- Venham comer cookies de chocolate, crianças! – ela esperou que passemos por ela para nos seguir. Em quanto comíamos Ian ficava me olhando e sorrindo, não era um sorriso bom.
Foram embora logo que papai chegou do trabalho. Depois desse dia, não os vi mais, mas sabia que no Natal eles estariam aqui.(*)
Hoje era véspera de Natal e já estava pronta para a festa que meus pais davam. Desci e logo fui abraçada por Tia Amber.
- Está cada dia mais linda minha pequena Gabi. – disse beijando a minha cabeça, sorri em agradecimento.
- Obrigada tia. – ela sorriu e foi à vez de ir até onde meus avós estavam.
- Oi vovó e vovô. – abracei meu avô que estava em pé ao lado da cadeira que vovó estava.
- Como cresceu minha menina! – sorri para ele e ganhei um beijo na testa.
- Venha cá dar um beijo na vovó minha criança. – soltei vovô e sentei no colo dela. Passei grande parte da noite com eles, não havia crianças além de Ian e eu na festa. Antes de dar meia noite todo mundo se reuniu na sala, fui para varanda, lá era o melhor lugar para se olhar os fogos de Natal que papai mandava soltar.
- O que você está fazendo aí, Gabriela? – olhei para trás e vi um Ian todo emburrado.
- Verei os fogos daqui.
- Hum. Eu também. – cruzei os braços e o encarei.
- Não te convidei.
- Não te perguntei. – deu de ombros e bufei com sua atitude.A meia noite os fogos subiram e o céu se encheu de cor, amava ver essas luzinhas brilhantes e reforçava meu pedido ao Papai Noel.
- Feliz Natal, Gabi. – me abraçou de surpresa.
- Feliz Natal, Ian. – retribui, afinal de contas eu não era mal educada.O resto da noite não foi longa, estava tão ansiosa para a manhã seguinte que nem dei tchau para quem ficou, o que queria mesmo era ver se o bom velhinho havia se lembrado de me trazer aquilo que tanto queria.
(*)
Acordei mais ansiosa ainda. Escovei os dentes o mais rápido possível e sai à procura de alguma coisa em baixo da arvore, mas não encontrei nada que fosse do tamanho de uma bicicleta da Barbie. Olhei ao redor e não vi nada, será que o Papai Noel havia se esquecido?
- MÃAAAENHÊ – logo apareceu na ponta da escada.
- Por que você não vê no quintal? – indicou com a cabeça na direção. Corri para lá, em meus oito anos esse era o presente que eu mais queria. Minha bicicleta estava no meio do quintal, cercada de neve, mas era a coisa mais linda com um laço rosa.
- Eu amo o Papai Noel! – minha bicicleta era linda, montei nela e queria andar, mas o chão estava escorregadio.
- Você vai cair, Gabi. – ouvi a voz de Ian.
- Não vou não!
- Vai sim, vou falar para o seu pai que esse presente é assassino. – revirei os olhos, Ian além de chato se achava e vivia querendo mandar nas minhas coisas só por ser dois anos mais velhos. - deixa o presente que papai Noel me deu em paz!
- Não foi o papai Noel nenhum que te deu.
- Foi sim! – disse irritada.
- O único papai que te deu algo foi o seu pai! Foi o tio Paulo que deu a bicicleta, o vi colocando ela ai.
- Não foi nada! - será? Papai e mamãe não mentiriam para mim assim?
- Quer ver? Eu tirei foto com a minha câmera que o meu pai me deu. – pegou a câmera que estava pendurada no pescoço e se aproximou e me mostrou a foto que estava em seu bolso. - É daquelas que saem à foto na hora. - me deu a foto e nela tinha papai colocando a bicicleta no quintal.
- Então quer dizer que não existe mesmo papai Noel! - meu coração doía em saber que havia sido engana por todos.
- Eu te disse que não tinha papai Noel nenhum. - ouvi Ian dizer novamente.
- Cala boca, garoto chato!
- Pirralha iludida!Aquela havia sido a primeira de muitas decepções natalinas...
(**)
Hey luzes! Esse é o novo prólogo de Hope, espero que gostem.
E para você que chegou agora, MUITO obrigada por ler minha neném!Beijos de luz no coração de vocês!
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ChickLitPLAGIO É CRIME. O natal não era a época do ano preferida da escritora Gabriela Sandoval. As luzes a irritavam e a hipocrisia mais ainda, magia natalina foi algo inventado na mente de algum empresário capitalista. Dezembro era tido como um mês qualqu...