Em dias de verão o coração de Yejin também derrete.

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Kang Yejin observava atentamente a loira recém chegada, tanto quanto esta última observava os picolés derretidos no freezer. Abe Haruno, vestindo o uniforme de seu primeiro emprego, estaria roendo as unhas de nervoso se isso não fosse um desperdício de manicure.


Havia se mudado para Seul há menos de dois meses. Ainda com a língua presa entre os dentes e o sotaque de estrangeira - natural de Miyagi, no Japão - soltou sua lástima em japonês. Ao mesmo tempo, Yejin desviou o olhar e fingiu que o frasco de doces sortidos era mais interessante que ver sua nova colega de trabalho em completa aflição.


― Ahh.. E agora?! Ottoke.. ― Haruno indagou a si, mal sabendo das olhadelas que estava recebendo da Yejin á alguns instantes atrás.


A coreana saltou do banquinho onde estava sentada atendendo o caixa, desnecessariamente, já que não havia porque guardá-lo tão cedo da manhã. A lojinha de conveniência tinha acabado de ser aberta e os clientes não tinham por costume chegar antes das oito horas. Mas, naquele dia, se sentia um pouco ameaçada, não poderia admitir - jamais - que era em razão de Abe Haruno.


Estranhamente, ela lembrou da sensação de entusiasmo quando viu a garota japonesa pela manhã deste fatídico dia, parada em frente a porta da loja com um largo sorriso. Os dedinhos tremendo segurando a chave da porta, "Olá Yejin-ah!", dizia ela, "Vamos ter um ótimo dia de trabalho hoje? Eu estava te esperando aqui...". Disse mais algumas coisas que a Kang não se lembra por ter se perdido observando a boina que a japonesa usava.


Ela sentiu o mesmo entusiasmo novamente, enquanto caminhava em direção ao freezer de sorvetes derretidos. A pobre garota aflita fazia sua melhor expressão de cãozinho apavorado.


― Qual o problema?


― É o freezer, ele deve ter quebrado! Eu estou apavorada porque isso deve ser por minha causa! Mas eu não fiz nada... Eu acho! ― a japonesa disse, frenética.


Por mais que parecesse que esta tinha parado de falar, Yejin ainda pode notar algumas palavras titubeando pela boca da garota. Prontamente Yejin apenas afastou o freezer e mirou o cabo do eletrodoméstico desplugado da tomada, lamentou em seu suspiro, antes de voltar o olhar para Haruno.


― Por acaso você não teria desligado ele ontem, sem nenhuma pretensão?


O silêncio de alguns segundos quase falou por si, mas a loirinha choramingou outra vez:


― Ahh... ahh... ah. ― Suspirou. ― Eu o desliguei ontem. Um cliente precisou que eu ligasse a máquina que ferve a água do macarrão instantâneo e... Eu esqueci de ligá-lo novamente, Haru-jang ― Haruno encerrou, martirizando-se.


Yejin não sentia remorso pelos picolés, mas notou que a japonesa, por outro lado, parecia triste demais pelos industrializados em palito.


― Fica tranquila, só foram alguns... ― Contou rapidamente pela superfície de vidro. Os pobres picolés haviam formado um rio de sorvete derretido, ainda mais se tratando do clima quente de ultimamente. ― Bem... acidentes acontecem.

Summer Sun, Something's BegunWhere stories live. Discover now