PRÓLOGO - Precipício

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AVISO
Essa shortfic possui assuntos como depressão, suicídio, conotação sexual e palavrões. Se você for sensível a qualquer um desses assuntos, por favor, não continue.
Caso sinta-se parecido com o personagem, por favor, procure ajuda de alguém que você confie ou ligue para o CVV.

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A visão que tinha naquele momento era talvez, a mais bonita que já tinha visto, me parecia uma tela pintada a óleo. Poderia ser a minha nova imagem de plano de fundo do smartphone. Tenho certeza que os fãs também amariam que eu compartilhasse essa imagem, mesmo que seu contexto fosse triste para eles. Se eu acreditasse em vida após a morte, com certeza me arrependeria daquele momento.

O céu azul claro começava a ser tomado por um laranja que chegava junto de um tom rosado, bem comum dessa época do ano. Uma linha cinza dividia o céu dos arranha céus de Seoul, abaixo da linha, em torno de uns 20 metros abaixo, acredito, o asfalto quente esperava meu corpo pesado e desengonçado que já não acreditava precisar permanecer nesse mundo.

Comecei a me sentir assim ainda muito novo, lá pelos 14 anos já questionava a importância da minha vida. Com o passar do tempo, essa angústia ia e voltava na mesma velocidade em que eu escrevia minhas primeiras músicas, cheias de melancolia e raiva.

Eu me tornei um trainee e esses sentimentos pareciam estar se afastando de mim no início. Nós nos destacamos logo no início da carreira. Mesmo que não quisessem, ou quando sequer nos davam ouvidos, de alguma forma, nossa música era escutada, nossos sonhos começavam a tomar forma. E ao mesmo tempo em que todos os meus sonhos pareciam começar a tomar forma, eu me via cada dia mais perdido entre os flashbacks, as câmeras e os roteiros que chegavam ao meu quarto todos os dias. A cobrança exterior era difícil de lidar, mas nem se comparava com a quantidade de sobrecarga emocional que eu mesmo colocava sobre mim.

Em 2017, com o fim da turnê "Wings", ficava ainda mais difícil manter a cabeça no lugar, porque tinha ficado nítido para o mundo todo que eu não conseguia, por mais que eu me esforçasse, me amar. Ainda que minhas letras carregassem elevada auto estima enquanto eu rimava cada um dos meus raps, meu solo dizia como eu me sentia profundamente.

Engraçado como agora que o vento de fim de tarde quase corta meu rosto, esses pensamentos tomam a minha mente. Eu colocava um pé à frente do outro, vagarosamente, esperando o melhor momento de completar meu plano, ou melhor, o momento em que eu criasse coragem para acabar com aquele amontoado de sentimentos. "Um passo de cada vez até que você pule e pare de se sentir assim", eu repetia como um mantra, de olhos fechados, torcendo para que por meu próprio azar, meus pés atrapalhados resolvessem aquele impasse.

— O que você vai fazer?! — a voz rouca me interrompeu imediatamente. Eu não tive outra reação senão abrir os olhos e encarar aquela expressão confusa e preocupada. Aqueles olhos castanhos eram quase hipnotizantes. Me senti completamente constrangido por ter sido pego quase acabando com a minha vida.

— Eu... — nenhuma palavra saia. Minha vista começou a ficar embaçada e eu desmaiei antes de conseguir esfregar os olhos.

MAKE IT RIGHT [Short Fic]Onde histórias criam vida. Descubra agora