(Ágatha)Sinceramente, as vezes da vontade de sumir, pegar essa pistola que está na minha cintura e acertar bem no meio da minha testa, sou uma baita fudida, mesmo agora tendo uma condição melhor não me sinto bem, sei que minha mãe não se orgulha nada doque me tornei, mas não me julga, pois é daqui que sai todo o nosso sustento. Sou filha única, meu pai é alcoólatra e não para em serviço nenhum, com o dinheiro que eu ganho a maioria tá sendo para pagar algum tratamento para ele em uma clínica de reabilitação, já a minha mãe era empregada doméstica, mas com a pandemia ela foi mandada embora e até então não conseguiu mais serviço. Nossa sorte é que não pagamos aluguel, então as contas são um pouco menores, mas mesmo assim á uns anos atrás era bem difícil.
Nunca fui de sentir vergonha de quem eu era ou sou, na escola até tentaram me intimidar, vinham tentar me chamar de pobre e essas paradas toda, mas só bastou duas vezes, pois na terceira mandei a pessoa para o hospital, isso gerou uma semana de suspensão, mas quando voltei, geral abaixava a cabeça. E foi assim até eu terminar o ensino médio, que mesmo com a força do ódio, completei.
E eu até tentei procurar serviço, mas se tem uma coisa que é difícil, e para piorar ser moradora de comunidade, as portas sempre se fecham, então o jeito foi tentar me virar. E como já conhecia o João, e ele era envolvido e um dos braços direito do chefe aqui do tráfico, ficou mais fácil, digo em modo de dizer, pois o LC é o cão, ele me aceitou porque o João incomodou pra caralho, mas se fosse por ele mesmo, teria me matado na primeira.
A gente não tem intimidade nenhuma, só falamos o básico, mas o cara não vai com a minha cara por nada nesse mundo, me trata mal, e vive querendo me rebaixar na frente dos parceiros, eu como não tenho sangue de barata, já bati de frente várias vezes, minha sorte é que sou boa no que faço, e comigo ele fatura muito, sou uma das melhor em vender, então provavelmente sou melhor viva doque morta.
Mas uma coisa que não posso negar de jeito nenhum, é que o cara é gostoso, e toda aquela marra me deixa excitada, se ele não fosse tão babaca e não tivesse fiel, eu já teria sentado nele e nem guindaste me tiraria.
Falando em fiel, coitada da Simone, o chifre é tão grande que nem de casa ela sai mais, o LC é um baita galinha, isso todo mundo vê, não tem vergonha nenhuma naquela cara bonita. Me pergunto o porque a mulher ainda tá com ele, mas logo a resposta vem, a mesma ama a vida que ele proporciona a ela, tem de tudo, a casa é a mais linda daqui, tá sempre montada, colocou silicone fez lipo e mais uns 10 procedimentos, ai é fácil, até eu iria querer ser corna.
Mas Deus me fez linda e não rica, infelizmente. Então todo dia é uma luta diferente, e agora que o morro tá com alguns problemas, a coisa fica pior, LC mais seus cachorrinhos, vulgo João e Pedro, ficam desconfiando de todos, e eu sou a mais cobrada, porque sou a única mulher no meio deles, e o LC acha que eu me vendo para facção rival, nem eu querendo teria tanta coragem assim, para isso sou muito cagona, e ainda prezo pela vida dos meus pais.
Encaro os menor tudo fumando e enrolando as drogas, a maioria tudo novinho, com a vida igual a minha. Eu meio que monitoro eles, fico na parte de olhar e ver se tá tudo certo, para depois mandar para as bocas de fumo, as vezes me pego rindo, pois funciona como uma empresa, e cada um tem seu cargo, e sua responsabilidade. A gente fica em uma casinha, e eu quando não estou olhando eles, aproveito para dar uma geral aqui, e sou sempre elogiada, pois a maioria dos meninos querem ficar aqui comigo, gosto de ser amiga de todos, e gosto de ser bem tratada e bajulada, então faço as coisas com gosto.
- Barbie ? - Olho para o Pedro que tinha acabado de entrar na casa - LC tá querendo falar com você.
- Oque ele quer ? - Reviro os olhos, pois sei que coisa boa não é.
- Sei não, mas ele tá com uma carranca dês de cedo, então provavelmente vem pedrada - Suspiro pesado - Se quiser levo tu até lá.
- Precisa não Pedrinho, tô de moto, fala para ele marcar 10, que logo pio pra lá - Ele da um joinha e sai.
Parada de merda essa, tudo que á de problema nesse morro é minha culpa, e olha que sou só contadora e vendedora, já pensou se tivesse um cargo a mais ? Taria morta e enterrada.
- Problemas barbie ? - Um dos meninos me pergunta, e sim, a maioria me chama assim, acho que por causa do cabelo e do corpo, e por ser delicada, até onde eles sabem.
- Seu patrão de novo - Ele faz uma careta - Fé aí, e já já eu broto aqui de novo, e bora agilizar as coisas - Falo para os menor escutar.
Saio dali indo até a minha moto, e ela era meu xodó, toda lindinha, bem a minha cara. Ligo a mesmo e parto para a boca principal, chegando lá paro na frente, e os menor que estavam ali tudo me encara com uma cara estranha.
- Perderam o cú aqui ? - Eles abaixam a cabeça, pelo menos ainda botava respeito.
Entro na boca e o João já vem reto até mim
- Olha o LC tá o cão hoje, então só fica quieta - Levanto uma sobrancelha - É sério Ágatha, hoje não é um dia bom, então oque ele falar tu apenas concorda e fica de boa.
- Oxi João, tá me assustando em - Ele me olha nos olhos - Eu fiz alguma coisa, e não tô sabendo ? - Na mesma hora que falo isso a porta da sala do LC abre, e ele aparece com o maxilar trincado e me encara.
- Entra aqui agora. - A voz dele é curta e grossa, engulo em seco.