Diferente da maioria dos dias, o domingo costuma ser uma espécie de estado de espírito, carrega com ele uma preguiça crônica e, a quase total impossibilidade de algo que difere do reino do tédio ansioso, alienado e angustiante que assola a humanidade hoje em dia.
Volta e meia alguém diz numa data não fausta em razão de um feriado ou catástrofe natural: Hoje está com uma cara de domingo,não é mesmo? Nunca consegui criar uma imagem que representasse a cara de um dia abstrato, mas na minha cabeça acho que tem alguma coisa de vermelho. Segunda e sexta-feiras são de um cinza meio esbranquiçado, terça verde e quinta-feira e sábado, laranjas. Domingo ficou lá no seu posto. Vermelhão e meio sem graça.
A idéia da cor Flicts, que não existia até Ziraldo a criar, sempre foi ligada à idéia de cor-de-burro-quando-foge. Que pra quem não sabe, é bege. Pelo menos é isso que eu sempre achei desde que comecei a pensar no assunto.
Fugindo da subjetividade, imagine John Coltrane tocando seu saxofone numa casa de Jazz enfumaçada em algum lugar da Europa na década de sessenta. O problema é que é domingo, e apesar de o público ser muito mais receptivo do que a platéia norte-americana, a casa não está lotada. Chove fino.
A partir daqui uma ótima narrativa tinha o dever de ser escrita. Faltou alguma coisa.
Quem se importa. Um novo compromisso se apresenta no horizonte do domingo que se aproxima após um par de dias. Até lá tudo pode mudar, diria algum outro. Sei não, exceções servem apenas para referendar a regra e fazer-nos de idiotas defronte a gramática.
Ideias são pensamentos que se repetem após contrassignificações de memórias criadas por impressões do cotidiano. De vez em quando, aumentando nosso vocabulário, algumas até soam como peças originais.
Enfim, esboços assim vazios de sentido servem apenas como um tapa-buracos para momentos estéreis à individualidade artificial da era digital que estrutura de maneira artificial e um tanto quanto imbecilizada o ato de ler. Acontece.