Bons sonhos

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     Sempre fui um menino normal. Gosto de ler, assistir filmes e séries e ouvir música. Mas algo eu fazia com uma frequência grande o suficiente pra me fazer ter sonhos ruins, consumir terror.

    Era uma noite normal. Antes de dormir assisti The Walking Dead e ouvi Nirvana. Deitei no horário normal, entre 22h30 e 22h35.

    Uma hora a imaginação fértil, os filmes/livros de terror seriam uma péssima influência pro meu sono e nesse dia, aconteceu de maneira memorável.

    No sonho, estava no meu quarto, mais precisamente na cama tocando violão. Junto comigo estavam dois amigos e uma amiga que no momento eu não identificava direito. Estava tocando Velha Infância, com um sorriso extremamente bobo no rosto, enquanto olhava pra menina, eu gostava dela.

   Chegou uma hora em que eu cansei de tocar e todos começaram a conversar. Coloquei o violão em cima da cama e me deitei. A conversa estava ótima, mas depois de um tempo, um silêncio passou a reinar no quarto. Quando foi quebrado, foi com um assunto um tanto quanto estranho.

    - Vocês acreditam em possesão? - Disse alguém, acho que era um dos meninos.

    Todos deram as respostas, mas eu só me lembro da minha, que, de acordo com meu pensamento na realidade, foi controversa.

    - Acredito em espíritos malignos, mas não acredito que eles tomem algo ou alguém pra cometer seus atos. - Respondi.

    O assunto foi abandonado rapidamente e algo sobre o episódio novo de Constantine tomou o lugar do assunto bizarro. A conversa foi bem acalorada, pelo fato da notícia da série poder ser cancelada entrar no sonho e algumas pessoas terem opiniões divergentes.

    Tudo estava tranquilo, até que o violão começou a tocar absolutamente do nada.

    - Guilherme, isso é algum tipo de pegadinha pra assustar a gente? - Perguntou a menina.

    - Não. Eu não faço a mínima ideia do que está acontecendo.  - Eu disse com a voz carregada de medo.

    O que quer que seja que estava tocando o violão, não era bom. As notas tocadas eram pesadas, típicas de uma música de Heavy Metal. Provavelmente dessas bandas satanistas.

    Não contente com o simples ato de tocar o violão e assustar todos no quarto, o "algo" começou a fazer com que o violão levitasse e se virasse de ponta cabeça, deixando o braço apontado diretamente para o chão, como uma flecha. A música ficou mais alta e tomou um ritmo mais acelerado e um pouco desafinado. Até que, para fazer com que tivesse um final épico, ao último toque, o violão se espatifou no chão.

    Todos se entreolharam e se perguntavam o que tinha acontecido ali. Logo na noite em que alguém levanta o assunto de possessão isso acontece. Não pode ser uma simples coincidência. Minha amiga, que agora eu reconhecia como alguém do colégio, começou a chorar e eu a abracei. Ela chorou mais um pouco, mas logo parou. Sentiu-se segura comigo.

    Resolveram dormir na sala. Lá nada tinha acontecido e era longe do quarto. 

    Depois que todos dormiram, ouvi alguém se levantando pra ir ao banheiro e era a menina. Tudo correu bem por lá, pelo menos, é o que aparentou. A descarga foi dada, a torneira ligada, a porta aberta e a luz apagada. Ouvi passos vindo pelo corredor, mas logo eles cessaram repentinamente. Um grito foi suprimido e a porta do quarto bateu com muita força, fazendo com que todos acordassem e levantassem. 

    Sai correndo e tentei abrir a porta. Era impossível, ela parecia estar trancada, então, resolvi usar a força. Com uns três chutes bem dados na região da fechadura, a porta se abriu. 

    O que se passava lá dentro era muito aterrador. O cabelo dela estava todo amarrado na cabeceira da cama e seus braços e pernas estavam sendo presos por algo invisível que fazia com que ela não se debatesse. 

    Não pensei duas vezes, precisava tirar ela dali. Ordenei pra que meu amigo tentasse soltar os membros dela da cama enquanto o outro pegava uma tesoura e cortava os cabelos dela da cama. 

    Mesmo com duas pessoas, a força que a prendia não cedia. Era algo muito, muito forte. Meu amigo parecia ter êxito na sua tarefa de soltar a cabeça dela da cama. Ela gritava desesperadamente por ajuda.

    Claro que não seria somente isso, algo mais ruim deveria acontecer. Até que o menino com a tesoura a segurou como uma faca pronta pra apunhalar. Olhou pra nós, com os olhos pretos e rosnou. Abriu a tesoura e, em um gesto suave, mas forte, cortou a garganta da menina e logo em seguida cortou a própria garganta. 

    Uma mancha de sangue se formou no chão e outra no colchão. Meu amigo caiu deitado com sangue ainda fluindo do corte de sua garganta.  

    Não sabíamos o que fazer mais, simplesmente saímos correndo pela casa. Chegando a cozinha, uma mulher, vestida de preto e com cabelos loiros, estava olhando diretamente para nós com seus olhos vazios e profundos. Parecia sugar nossa alma com o olhar.

    A gaveta de talheres se abriu e as facas saíram e ficaram no ar. Vieram em nossa direção e a última coisa que me lembro antes de acordar era da voz da mulher dizendo:

    - Bons sonhos, durma com os anjos!

    

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