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Primeiros encontros.

Primeiros encontros são bizarros. Estranhos em totalidade. Patrimônio cultural do constrangimento entre duas pessoas que sequer trocaram uma palavra antes ou conversaram somente através de uma tela brilhante. Como saber se o amor da minha vida na verdade não foi aquela pessoa que esbarrei numa estação de metrô praticamente intransitável e sibilei um pedido de desculpas inaudível só para não carregar minha consciência culpada pelos cantos? Como saber se o cara pelo qual estou me apaixonando já esteve na mesma cafeteria que eu costumo frequentar todas as terças antes do trabalho? Posso nunca o ter chamado atenção o suficiente para permanecer em sua memória até o exato momento. É quando as malditas borboletas no estômago estão decidindo entre fazê-la vomitar e sair correndo ou apenas lhe causar um leve tremor, daqueles que te paralisam e toda a bizarrice começa a soar um pouco menos brega. E, de repente, cada novo encontro torna-se uma série irremediável de primeiros tudo.

Beijo, sexo, casa, amanhecer, viagem, casamento, filho...

Poderia citar tantos outros exemplos, mas estou atrasada para um estúpido encontro com o meu residente italiano.

Uma grande perda de tempo, diria.

A fachada do Six Seven Restaurant era discreta. O letreiro em pedras brancas francesas carregava algumas tulipas amarelas ao seu entorno. O local estava aparentemente tranquilo para uma sexta-feira. Estacionou sem maiores problemas e contemplou o próprio reflexo no retrovisor. O batom vermelho ainda intacto, entrava em contraste com a pele pálida e repleta de pequenas sardas. Conferiu o vestido preto de decote generoso e finas alças que ia até a metade das coxas. Seda italiana. Presente de uma paciente vienense extravagantemente rica. Nada muito justo o bastante para esconder suas curvas. O salto alto da mesma cor começava a incomodar e os únicos passos que dera foram para chegar até a garagem de sua casa.

Exalava uma confiança ímpar.

Descera do carro ciente do que estava prestes a fazer. Vestira o casaco também vermelho, levando consigo a pequena bolsa em mãos. O restaurante ficava sobre o cais com vista para a Baía de Elliott, uma paisagem de tirar o fôlego. O sol que despencava no horizonte pintava o céu com um alaranjado embriagante. Parecia coisa de desenho animado e ela quase perdeu a noção do horário ao observá-lo, recordando-se da última vez que estivera num lugar assim.

Surreal.

Despertada de seus devaneios, prosseguiu a caminhada, subindo com todo cuidado os degraus da entrada. O maitre abriu um largo sorriso ao vê-la adentrar o recinto, como se já a esperasse ou conhecesse. A acompanhou em silêncio. Mesas redondas e quadradas de tamanhos diversos espalhavam-se ao longo do espaço, este muito resplandecente, com caríssimos lustres suspensos desde a recepção. Uma pianista tocava River Flows In You no pequeno palco à esquerda. Kandinsky, Picasso e Miró expunham suas obras-de-arte nas paredes brancas. Colunas que remetiam a troncos e galhos de árvores trazia o toque regionalista das colinas e montanhas de Seattle, entrando em um contraste harmonioso com o restante da decoração. A temperatura ambiente lhe pareceu agradável o bastante para desejar retirar o casaco, porém logo abandonara a ideia. Notou a presença de uma área aberta com panorama privilegiado da Baía de Elliott e suas barcas, atracando no porto. Roda-gigante, carrosséis e barraquinhas tumultuavam-se distante da pequena bolha recém-surgida ali.

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⏰ Last updated: Mar 01, 2020 ⏰

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The Love Book - OliGreyssWhere stories live. Discover now