2-Hello Mom

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Que o medo da solidão se afaste 
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...
                                     Oswaldo Montenegro

    Gritos.Gritos.Gritos.Gritos... Já não se pode dormir em paz em minha própria casa? Levantei devagar, só para conferir se estava tudo bem. Separei um jeans confortável com uma blusa 3/4 rosa claro e meu vans branco. Caminhei até o meu banheiro ainda ouvindo os gritos. 

    Deixei a água quente escorrer pela minha pele, ardendo onde estava os arranhões, porém, não era uma sensação ruim. Decide pensar em meus ematomas como um lembrete: nem tudo que é bonito é bom. Os machucados poderiam até desaparecer, mas a dor interna não. Sai me enrrolando na toalha, enxugando meu cabelo em outra.

    Parei em frente ao meu espelho observando a mancha roxa em meu olho. Peguei base e pó compacto, tentando encobri-la o máximo, não me sentia confortável tento ela em vista. 

    Cheguei na sala e, grande foi minha surpresa quando vi Lena e Jack descutindo com ninguém menos que minha mãe. Não a via fazia tempo, desde que a peguei transando com meu namorado, tivemos uma briga horrível e, como era maior de idade, sai de casa. Não me arrependo da minha escolha, mas hoje vejo o quão insignificante fora meu namoro para chegar a brigar com mamãe. Não falo com ela desde essa época, cinco longos anos.

    Encostei-me no batente da porta do meu quarto que dava para a sala, e os observei. Eles discutiam se minha mãe ficaria para me ver ou se ia em bora. Tentei anúnciar minha presença mas ninguém notou, até que simplesmente desisti e rumei para a cozinha, estava com fome. Lena havia feito café, o que agradeci ao céu, pois amava o gosto, mas não sabia fazer. Procurei algo na geladeira e encontrei um grande nada. Como eles conseguiram viver sem mim uma semana?

    Decidi sair para comer algo, talvez o Starbucks. Voltei ao meu quarto para pegar as chaves de casa e sai de fininho, não queria ter que encarar minha mãe agora depois de tanto tempo. O tempo estava fresco e ensolarado, o que ajudou a levantar meu ânimo. A caminhada até o Starbucks foi curta já que eu morava quase no centro da cidade. Pedi um bolinho com calda de chocolate e café expresso para levar e esperei ser chamada.

    Fui andando até um parque e sentei para comer, era bom ver como as pessoas reagiam no dia-a-dia.

"Sara, mulher você ainda me mata!" Era Lena ofegante e de olhos arregalados. "Sabe o surto que tive quando entrei em seu quarto e vi tudo arrumado? Você não pode sair por ai sem avisar a mim ou ao Jack, a bicha ta que nem louca te procurando! Droga Sara, eu vou ligar pra ele e dizer que te achei."

"Como me achou?" Perguntei quando ela se sentou ao meu lado depois de avisar ao Jack que eu estava bem. "Mahattan é bem grande pra você vir me procurar logo aqui."

    Esperei sua resposta e não obtive nenhuma. Lena olhava para frente fixamente, parecendo se lembrar de algo, e voar em seus pensamentos. Não queria interrompe-la, então apenas continuei a comer.

"Você não deve se lembrar, mas eu me lembro!" Ela começou, e ganhou minha total atenção."Quando nós nos mudando pra cá eu tive que terminar meu namoro com o Petter, lembro que eu chorava muito e você parecia não saber onde enfiar a cabeça. Acabou que você me trouxe pra esse parque e comprou um cachorro quente para nós duas. Você começou a contar sobre seus planos e como queria ser uma grande médica. Eu estava em transe vendo como você dizia tudo aquilo com firmeza e acabei superando meu término de namoro."

    Senti algo escorrer pelo meu rosto e levei a mão para limpar a lágrima que caiu sem minha autorização. Abaixei a cabeça e me lembrei do dia que tudo isso aconteceu, acabei virando fotógrafa e não médica, sorri com o pensamento.

"Venha, tem alguém querendo te ver" Lena quebrou o silêncio. "Mas acho que você já sabe quem é, não é mesmo?"

    Mamãe nós esperava na portaria do prédio, andando de um lado para o outro. Parou assim que me viu entrar e veio meio andando meio correndo até mim para me abraçar. Por instinto fui para trás de Lena, que me olhou com pena.

"Sra.Lovegood, não acho que Sara esteja pronta para um contato tão... íntimo, dê um tempo a ela, okay?" Eu poderia beijar Lena agora, ela disse isso tão calmamente que até eu fiquei menos tensa.

"oh... Claro, claro, ela precisa de espaço, eu entendo."  Mamãe parecia desconfortável, mas acho que aceitou."Bem, so vim mesmo para pegar as coisas de Sara!"

"Como assim? Pegar as minhas coisas para quê?" Perguntei totalmente desnorteada com sua afirmação.

"Bem..." Mamãe pigarreou."Seu pai e eu andamos conversando e achamos melhor você passar um tempinho conosco, sabe, já faz algum tempo que não nos falamos e eu sinto tanta saudade. Eu entendo se você me ódiar, eu odiaria, mas volta pra casa por um tempo. Só até você achar que está melhor, por favor filha, se não por mim, por seu pai!"

    A amaldiçoei por botar papai no meio disso tudo, ele sempre a deu o mundo e mesmo assim ela o traiu diversas vezes. Papai sempre fora meu porto seguro, e mesmo depois de sair de casa mantenho contato sem mamãe saber. Eu sabia que essa luta eu iria perder, e tirar um tempo de férias não me faria mal.

"Tudo bem, eu vou." Lena me olhou espantada quando aceitei. "Mas Jack vai comigo, ele está de férias por ser fim de ano e com certeza irá aceitar."

"Sara, você não preci..." Cortei Lena com um gesto de cabeça, e ela entendeu o recado ficando quieta.

"Ótimo, ótimo Sara. Vá la em cima e arrume suas coisa. Nós saimos daqui a noite." Ela parecia que ia explodir, então a deixei quando seu telefone tocou.

    Lena e eu subimos para o nosso apartamento conversando sobre coisas simples como: o fato de eles terem sobrevivido sem minha comida tanto tempo. Gargalhei como não fazia a tempo e aproveitei o momento, já que logo iria embora e ficaria um tempo sem ver Lena, o que partia meu coração.

    Jack amou a ideia de ir para a casa da minha família, que era em uma fazenda enorme. Papai é um homem de negócios, mas decidiu ir morar mais afastado depois que eu nasci, aquela fazenda era meu castelo e me trazia boas lembranças.

    Eu e meus amigos conversamos tanto enquanto arrumavamos as malas que só me dei conta de que horas eram quando minha barriga roncou e percebi ser 14:00.

"Bem, acho que já está bom. Se precisar de alguma coisa nós compramos na cidade lá perto." Falei indo para a cozinha. "Terei que me virar do aveso para fazer uma comida descente para nós."

    Rimos todos e comecei a preparar um macarrão alho e óleo. Acabei em menos de quarenta minutos, a receita era fácil e rápida de fazer. Jack colocou a mesa enquanto Lena fazia um suco de laranja para nós.

"Sabe, eu vou sentir saudades de vocês, não quero ser sentimental nem nada, mas..." Jack e eu rimos, sabiamos que Lena sempre fora muito sentimental. "vocês farão falta."

"Você também" Falamos em coro, e acabamos por rir todos.

    Passamos a tarde a conversar e ver filmes na sala. Jack não tentará me tocar novamente, apenas Lena se aproximou, o que não me encomodou. Vimos Nemo, Harry Potter e alguns programas bobos até decidirmos ir tomar banho e nós arrumarmos para a viagem até Carolina do Norte. Vesti uma saia jeans com uma blusa degrade azul e uma sandalha dourada, peguei meu casaco e minhas malas e sai para a sala já vendo Jack pronto.

    Mamãe chegou 15 minutos depois, me despedi de Lena com um abraço e lágrimas, tanto minhas quanto dela. Um Audi RS7 estava a nossa espera e nós levou até o aeroporto, onde o jatinho do papai estava. Jack parecia estar nas nuvens quando entramos, logo eu estava sentada confortavelmente em uma das poltronas.

"Não sabia que você era rica Sara!" Jack exclamou baixo ao meu lado.

"Eu não sou, meus pais são." Retruquei, odeio quando dizem isso, como se eu não trabalhasse para ter meu próprio dinheiro. Ainda ouvi Jack resmungar algo como Tipo de coisa que uma pessoa rica diria. Resolvi ignorar seu comentario.

 Curtam, e comentem por favor! Beijos Lana :3

Dry LipsOnde histórias criam vida. Descubra agora