Cidade Dorme

EP. 1 "A CARTA"

Faz meia hora que estou com esse maldito papel amassado em um lugar totalmente escuro e sujo,tentando esclarecer pra quem está lendo que eu não estou mentindo ou que é alguma paranóia minha,eu sei que vai parecer algo muito fantasioso,mas acredite em mim,neste momento enquanto escrevo,deveria estar procurando um lugar para me esconder,há pessoas interessadas em terminar essa rodada,não sei quantas sobraram,então todo dia pode ser minha vez.

Por hora,tudo o que você precisa saber é que meu nome é luke,um jovem de 19 anos que morou a maior parte de sua vida na zona norte da cidade,num bairro chamado vila verde,um lugar pequeno e pacato com bastantes árvores e sombras frescas com uma vizinhança muito educada e acolhedora. Sempre tive uma relação muito boa com meus pais,tenho um irmão caçula de 9 anos,mais agitado que eu,sou um pouco mais introspectivo,mau de nerd como dizem por aqui. Na escola onde curso o ensino médio nunca tive problemas com notas,aliás era o líder de turma,mesmo não querendo essa responsabilidade,a votação da sala foi mais significativa do que a minha vontade e Foi lá que conheci "Samy",sei que é um nome estranho,mas ele é o amigo que todos querem ter,alto,forte,bom em todos os esportes,joga no time principal de futebol,chama atenção das garotas,mas o que talvez tenha nos unido,tenha sido simplesmente o que às vezes falta nele o que eu julgo ter melhor em mim,poder intelectual.

Com isso a gente meio que se completava,parecíamos irmãos de sangue,ninguém mexia comigo na escola,pow sou amigo de um dos caras mais cobiçados pelas garotas da escola,um dos melhores jogadores do intercolegial,eu realmente tinha moral com todo mundo.

Sei que perdi muito tempo contando sobre mim,penso que será útil,ou seria,não sei se essa carta vai chegar a tempo na mão de alguma ajuda,ou serei o próximo brás cubas escrevendo uma memória póstuma,
Como disse antes,o bairro onde moro é pacato,mas a algumas semanas atrás começou o que me motivaria a escrever no que podemos dizer essa carta ou bilhete se preferir.

Era num fim de tarde de sexta-feira 15 de fevereiro,um dia normal como outro na sala de computadores na aula de história estudando sobre a guerra fria e todo aquele blá blá blá,minha cabeça não parava de pensar que aquela noite me reuniria com meus amigos do colégio para uma social na minha casa,meus pais viajaram para um cruzeiro e voltariam em algumas semanas,afinal de contas eles fazem 15 anos de casamento,eles merecem,sempre foram bons pais para mim e meu irmão,me desculpem,não disse seu nome,meu irmão se chama "Arnold",meu pai e seus vícios em filmes de ação,nem preciso dizer que meu irmão pagou o pato. Arnold decidiu ir pra casa da nossa tia marta,fica um pouco distante de onde moramos,nossa tia sempre preferiu lugares mais afastados da civilização,sabe como são as pessoas quando vão envelhecendo né?
Mais lá não deixa de ser aconchegante.

Enfim,já eram 21h da noite quando a rapaziada começou a chegar,alguns um pouco receiosos,mais todos de alguma forma amantes do gênero de terror,todas as sextas nos reuníamos na casa da tia Beth,mãe do Samy,infelizmente ela tinha medo das histórias e pediu pra que não fizéssemos mais essas reuniões com os amigos na casa dela,então aproveitei essas semanas fora dos meus pais para nos encontrarmos lá em casa.

Toda semana escolhíamos alguém pra trazer alguma história ou jogos de terror,pra que a gente passasse o tempo,quase todo mundo tinha uma experiência pra relatar,coisas que realmente nos deixavam com calafrios,nessa semana Yan,talvez o único que sorria ao falar das suas histórias de tanto que gostava do sobrenatural,foi o responsável por trazer algo para nos entreter.

Depois de algumas creepypastas,ele nos apresentou o que seria o começo de uma verdadeira história de terror,com todos ao redor de várias velas,sentados na grama do meu quintal grande,onde havia uma piscina e o meu cachorro "Spike" dormindo na casinha do lado da entrada do porão,com todo aquele clima armado pra que sentíssemos medo à cada conto,com seu notebook,abriu uma página clichê na internet,com fotos de fundo com demônios,letras ensaguentadas com aquele "Bem-vindo" na página inicial que já fazem parte do cotidiano de quem gosta do gênero,nada que assuste.