Hold on I think I'm ready now

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"(...)Sometimes the end is just the start, hold on

Stay strong, this where we find out who we are(...)"

As lágrimas vinham como vertente de um rio. Sentia-as cair em cascata sobre a face e encontrar jazigo nas peças de roupa; naquele momento à calça que vestia, sentindo as pernas ensopadas pelo líquido cristalino que parecia eternizar a dor de estar sozinho.

O antigo lar, aquele viajante onde outrora por décadas seu pai viveu sozinho na imensidão do silêncio, este que fora quebrado por Lisa, sua doce e falecida mãe. Silêncio que agora Adrian precisava suportar, o silêncio que fazia pressão em seus ouvidos e fazia-o transbordar de dentro para fora, vazando solidão em meio à solidão. O silêncio que era quebrado apenas por suas lágrimas que por vezes encontravam o chão, e ecoava um baixo, mas audível som agonizante.

Enxugou-as, não que temesse que alguém fosse vê-lo em deplorável estado. Não havia restado mais ninguém. Por fim passava a entender o que ser basicamente imortal significava a um vampiro, ou a um meio vampiro.

Caminhou por tempos de cômodo em cômodo, pondo ordem àquilo que havia quebrado, ajeitando o que chamaria de seu eterno lar, fosse na luz do dia, ou por fim à calada de sua eternidade quando encontrasse finalmente a paz e o descanso.

Redecorou, à imagem e semelhança conforme sua boa memória o instruía. Tal como aquelas vívidas recordações, recorrentes as que via sua família ainda unida e feliz, sua mãe correndo atrás daquele pequenino que havia crescido e agora teria a eternidade para ficar só.

Os dias arrastavam-se em tal proporção, que Adrian chegou até mesmo a perder-se nas datas, por um tempo chegou também a perder-se entre dia e noite. Tão trancafiado havia ficado nas entranhas de um castelo que seria seu mausoléu, seu túmulo, seu fim. Quando voltou a diferenciar de de noite, fora quando por fim deixou que a reconstrução do castelo esperasse. Saiu em busca de ar, vendo as ruínas do lar de uma pessoa que cresceu só, e achou no mundo um coração tão valente quanto o seu; Trevor. Ali, em meio às ruínas de duas construções tão distintas, encontrava-se em casa.

A curiosidade em achar mais sobre sua espécie em livros tão bem detalhados, a curiosidade em novos dialetos há muito perdidos e naqueles livros eternizados. A magia que o cativou pelas mãos habilidosas de Sypha, que agora ele também podia ler em meio aos livros ritualísticos.

Distraía-se com os estudos, tornava-se um autodidata. Letrado em tantas outras línguas, magia e conhecimentos gerais. Adrian Tepes achou ali um recomeço solitário à uma vida de tormenta.

Arou a terra, fez nela plantio de flores e frutos. Alimentou-se de carne e sangue de animais que se perdiam do bando. Aprendeu a lidar com tudo, e com o nada. Com o silêncio e com os berros noturnos que o acometiam quando por fim tentava descansar as pálpebras cansadas pelos inúmeros livros que lia. Era a solidão tomando conta do corpo e do peito vazio. Era a tristeza enraizando-se na alma que muitos diriam que ele sequer teria.

Aquela era mais uma daquelas noites, quando a insônia fazia tormenta, quando a dor fazia-o chorar de modo silencioso e discreto, mas de forma constante, molhando o lençol que o cobria na cama, estando sentado olhando para o quadro pintado de sua família falecida.

Não muito longe, ao menos não mais, estava Trevor. De volta ao lugar de onde soube depois que não deveria ter partido. A aventura ao lado de Sypha não era algo que o preencheria, como achou que faria. Não negava ter passado bons momentos ao lado da oradora, mas não mentiria e diria também que era a vida que almejava manter. Era uma aventura, isso era, mas ainda lhe faltava algo. Algo que numa noite fria e chuvosa, descobriu não achar nos braços da bela mulher. Nem em suas palavras.

Parfois, la fin n'est que le débutWhere stories live. Discover now