009

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[A cirurgia.]


Tudo começou quando eu dormi e estava com uma sensação ruim, tenho tomado alguns calmantes pra conseguir dormir e não ter pesadelos com aquela noite do acidente. A psiquiatra me receitou algo leve para não me causar dependência e desde então é a única coisa que me mantém de olhos fechados por algumas noites. 

O telefone toca. Eu acordo no sobressalto, é o pai de Noah me ligando. Meu coração treme e a falta de ar vem, eu quero chorar, eu quero correr pro quarto da minha mãe e abraça-la, mas não quero atender. Eu tenho medo. Não sei o motivo da ligação mas o pânico é maior. A ligação cai e vai pra caixa postal, ele liga de novo e eu atendo com a voz trêmula.

— A-alô? 

— Any? Te acordei? Desculpe, estou aqui em casa e a Wendy acabou de me informar que vão realizar uma cirurgia no Noah, achei que você... quisesse estar lá, pra caso... — Ele não precisa completar a frase eu entendo.

— Sim, eu quero. Eu só preciso trocar de roupa e avisar minha mãe. E chamar um táxi... — Começo a procurar uma roupa pelo quarto mas está escuro e quase derrubo o abajur. 

— Eu passo ai pra te buscar em 5 minutos. 

Eu concordo e desligo o telefone logo em seguida visto um moletom e calço meu tênis, enrolo meu cabelo em um coque frouxo e não me preocupo nem um pouco em passar algo na cara. Passo na porta do quarto da minha mãe que estava acordada praticamente a minha espera, eu não preciso dizer muita coisa porque ela automaticamente entende e me chama para sentar ao seu lado.

— Eu estou com muito medo, mãe. — Seu abraço se encaixa perfeitamente e então eu choro como se não houvesse mais sentido algum segurar o que estava guardado.

— Ele vai ficar bem, filha. É só um processo até o organismo se acostumar, até ele voltar... a ser o nosso Noah de sempre.

— Por que não eu ao invés dele? Por que? Era pra eu estar lá junto com ele... — Minha mãe me aperta contra si como se estivesse me protegendo a qualquer custo e eu então me dou conta do que havia dito. — Me desculpe. É que tá dolorido demais e eu não sei o que pensar.

— Ele só está assim porque a batida pegou ele primeiro, Any. O carro que bateu veio em uma velocidade extrema, e pela análise o que o Noah fez foi justamente pra te proteger, filha. — Meu coração dói mais ainda, ouço a campainha e me desvencilho da minha mãe ainda confusa com uma expressão triste. 

— Preciso ir, te mando mensagem. 

— Se cuida, eu te amo. Seja forte, por você e por ele. Ele vai acordar. Me ligue se precisar de carona.

Não digo mais nada e apenas limpo meu rosto molhado, desço as escadas e assim que abro a porta o semblante do pai de Noah é visível, ele sorri de lado, o filho tem o mesmo sorriso, eu quero apenas chorar, mas consigo ser firme quando ele apenas diz para irmos. O caminho até o hospital é silencioso, não há muito o que conversar, são exatamente duas horas da manhã, estamos cansados e exaustos a espera de algum milagre. 

Chego e o procedimento cirúrgico está na metade, assim disse o médico, ele permite que eu fique próxima de Noah, não muito, mas consigo segurar suas mãos através das luvas. Eu  fecho os olhos e consigo ouvir sua respiração através dos tubos, é calmo, sereno. Não sei qual a intenção, mas eu aperto a mão dele e fico lembrando de todos os momentos marcantes que temos, que nos fazem rir só de lembrar,  talvez no intuito de que ele possa estar vendo o mesmo. Lembro da nossa primeira vez, corrigindo, da minha primeira vez e que aconteceu justamente com ele, sempre conversamos que seria no meu tempo e que ele não queria me assustar, porque seria um momento nosso e  queria fazer dele especial. E foi, aconteceu como eu jamais imaginei, nós no seu quarto, escrevendo palavras soltas em nossa pele e quando Noah me olhou e me perguntou se era realmente o que eu queria, não tive duvidas. Era ele, é ele e sempre será ele. Sinto meus olhos marejarem ao lembrar e não posso limpar, porque se os médicos notarem vão me afastar de perto. Eu sinto algo me tocar, mas penso ser uma ilusão e de novo acontece. Meu coração acelera eu olho surpresa pra todos da sala, foco meu olhar na mão dele e seus dedos estão em um gesto de caricia com dorso da minha. Isso é real?

— D-doutor? — Eu digo com a voz embargada e animada, mas há medo e então levo meu olhar para minha mão. — Isso é possível?

— Santo Deus! Enfermeira cheque a anestesia, não é possível... — A enfermeira confirma que está tudo certo.

— O que você fez? — Ele me pergunta esperançoso tentando entender o ocorrido, meus olhos ainda estão marejados, mas com um sorriso de esperança. 

— Não sei, eu só... tava lembrando de momentos bons que nós tivemos... e então. — O médico sorri. 

— Poderia continuar para que pudêssemos fazer alguns testes com as reações do cérebro dele? — Eu concordo mesmo sem muito entender.

Três horas de cirurgia e ansiedade a mil, mas não passou daquilo, seria um sinal? Ou apenas um vislumbre? Mas os médicos viram. Eles acreditam que pode ser algo. Noah Urrea, se isso é um sinal de que você está lutando, então eu lutarei ao seu lado.


Vocês gostaram ou... eu não faço ideia de quem esteja acompanhando mas agradeço por lerem, isso é importante pra eu continuar escrevendo. Aceito sugestões de melhorias, um cheiro! 

remember?  | noany. ✓ [1º TEMPORADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora