I - Repetimos?

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Fecho os olhos e inalo o cheiro forte a perfume. É meu melhor amigo, Daniel. Conheço seu perfume a milhas de distância. Aproximo-me de uma das portas do armário de limpeza e uma mão puxa-me antes que fosse possível sequer pensar em algo. Quando finalmente consigo ajustar a minha visão ao espaço, deparo-me com Daniel, Sofy e Spencer.

Daniel é um romântico, chato e abusador. Com seu charme único, conquista a maioria das raparigas com quem tem dormido. No entanto seus cabelos encaracolados não são capazes de seduzir a única conquista que seu coração deseja. Sofy. É uma jovem carismática, divertida e completa. Ela não precisa de ninguém para a fazer feliz, nem para ajudar em nada. É muito independente. Ela é capaz de abdicar de tudo por um amigo, mas também sabe quando deve abandonar alguém. Já Spencer é a sensação do grupo. Porquê? É simples. É o jogador de futebol da escola que tem conquistado mais prémios e tem bastante hesito com as raparigas, embora nunca se tenha envolvido com nenhuma, que alguém saiba. Seu corpo avantajado, permite que ninguém se meta com nenhum de nós. Sua reputação nos salva.

Voltando ao presente, eles me encaram com o olhar. Sim, o olhar. O tal olhar que fazem quando estão prestes a tramar alguma, mas não querem me deixar de fora. Suspiro, puxando o balde da esfregona para perto de mim, pois sei que irá ser uma longa história. Ou pelo menos vão demorar a me convencer. Sofy olha para Daniel que a ilha de volta e em seguida ambos voltam-se para Spencer, que volta-se para mim. Típico. Suspiro e preparo-me para o pior.

-Que loucura querem que eu faça? - questiono.

Daniel tenta abrir a boca, mas é interrompido pela voz de Spencer.

-Estavamos a pensar em ir ao baile.

-Vocês sabem que não podemos. Não depois do que aconteceu ao ano passado.

No ano passado...

Seguro um pacote de confetes enquanto Daniel prepara algo para dar mais vida à festa. Passa algum tempo até que me cheira a queimado. Quando me volto, vejo a diretora, toda chamuscada e com o cabelo todo sujo de cinza.

Atualmente...

-Tu pegaste lume aos confetes, durante o discurso da diretora. E ainda sacudiste a poeira por cima dela. Achas mesmo que podemos voltar a entrar lá? - questiono um pouco irritado.

-A resposta é sim. - responde Sofy.

-Não contem comigo. - digo saindo porta fora.

Estou passando o portão da universidade, quando Spencer chega ao pé de mim, recuperando o fôlego. Ele coloca uma mão no meu ombro, abrandando o meu ritmo, enquanto os outros dois vêm ao fundo, dando-nos algum espaço.
Enviam sempre Spencer de modo a me manipular. Sempre o achei engraçado e senti algo por ele, mas parece que ele é o único que nunca se apercebeu disso. Mesmo quando lhe disse que gostava dele no oitavo ano.

-Feliz dia de São Valentim, tenho esta carta para te dar, espero que sintas o mesmo que eu. - seus olhos cruzam os meus e momentos depois me abraça.

-É claro que sim. Eu também te amo. És o melhor amigo que alguém poderia ter. Agora vamos nos deixar disso. Vamos ver aquele filme ao cinema de romance.

...

-Estás a ouvir? - questiona-me com algum espanto enquanto andamos.

-Sim, desculpa.

-Então, alinhas?

Tento compreender que me disse, mas ele percebe e volta a repetir. O plano é irmos mascarados e cada um por si, para não chamar à atenção e, quando estivermos dentro da festa, voltamos a nos unir todos uma vez mais. Visto ser um baile de máscaras, parece-me até uma boa ideia. Ninguém precisa de saber as nossas entidades. Quando dou por mim a concordar com o plano, Sofy e Daniel já estão pertinho de nós, celebrando. Olho Spencer nos olhos e questiono-me mentalmente que tipo de truque tem em seus verdes cristalinos. Seguimos caminho até casa e enquanto isso, discutimos todos os detalhes acerca do baile de máscaras da universidade.

Unmasked - Desordem No Submundo (LGBTQ+)Onde histórias criam vida. Descubra agora