Gente essa foi uma ideia que surgiu na minha cabeça aleatoriamente depois de ler um trecho de uma poesia sobre vidas passadas, eu acabei me inspirando e deu no que deu 😅. Então não prometo continuar nada, porém se a história for bem recebida talvez ela venha a ter uma parte 2 😊.
Pode parecer confuso em algumas partes, mas é porquê a narração é intercalada entre 1° e 2° pessoa sem aviso óbvio/explícito.
Eu sei que muitas pessoas não lêem as notas iniciais e finais dos autores, mas se por acaso você leu até aqui agradeço😊.
Sem mais delongas, fiquem com a história...
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E o vento levou
Poderia ter acontecido como aqueles clichês que as pessoas tanto gostam. Em uma tarde ensolarada de Primavera, Outono ou até mesmo do Verão, com os pássaros cantando a melodia da vida e o perfume das flores se misturando com o seu, mas não... Foi frio, sem vida e quase mórbido.
Eu lembro como se fosse a poucos dias atrás, você usava um casaco pesado e quentinho de cor azul escuro, seus cabelos escuros detinham uma tonalidade linda de verde e estavam revoltos, com algumas poucas mechas se atrevendo a seguir o vento, que hora era fraco como um sobrar de brisa e em outros era forte, lhe fazendo apressar o passo para chegar em algum lugar que eu desconhecia.
Devo confessar, para mim você não se encaixava naquele cenário, invernal e desconfortável, pois, diferente de mim, que "nasci" para as temperaturas mais baixas e solitárias, você era eloquente, quente, confortável e tinha um magnetismo que parecia atrair as pessoas por onde quer que passasse. Na época eu não sabia, mas naquele dia você não queria mais ser feliz, estava se adaptando ao frio quase igual a mim.
O vento soprou mais forte e com ele seu cachecol vôo em minha direção (contrária rua em que você estava), bem como um livro que estava em um dos bolsos rasos do casaco caiu ao chão, você parecia não perceber (ou se percebeu, não se importou). Eu apanhei o cachecol no ar, mas quando fui lhe entregar, não o vi mais na rua, a atravessei e juntei o livro. Pode parecer estranho mas, apesar de você ser um completo desconhecido para mim, fiquei triste por não poder devolve-los a ti.
O tempo passou rápido depois desse 'quase encontro', no entanto, eu não conseguia tirar o menino de cabelos esverdeados e cachecol preto de minha mente.
Nesse ano o inverno não foi tão frio, lembro-me de estranhar o fato, porém não dei tanta importância, afinal, ainda estávamos em seu início.
O tempo começou a passar se arrastando sem motivo específico, mas eu admito, foi nessa época que acabei tentando esquecer de ti.
Eu vi a neve cair, tão serena e imaculada, que parecia ter medo de chegar ao chão e morrer por tamanha impureza do mundo.
Eu ouvi o vento soprar em diferentes acordes, como um assobio recheado de segredos e histórias perdidas pelo tempo.
Eu presenciei o frio se estalar dentro dos corações que achavam ser os mais puros.
Eu lembro de um ano em que o inverno terminou relativamente rápido, como se a primavera estivesse cansada de esperar para trazer sua beleza colorida e calorosa para aquele cenário branco e frio. Sabe o que foi engraçado? Isso imediatamente me lembrou você, pois a primeira árvore que vi (um ipê) tinha a cor azul, tal qual seu casaco.
E a primeira flor que vi desabrochar foi uma linda Rosa negra, que, apesar de mostrar solidão e escuro, só conseguiu me fazer lembrar de ti.
Quando o silêncio reinava ao redor, eu acabava por apanhar 'seu' livro de capa colorida e lia uma das tantas frases grafadas com marcadores coloridos, uma em especial era, e ainda é, a minha preferida:
"O inverno não é tão amargurado e sem cor, ele apenas está limpando as coisas para primavera chegar com todo seu esplendor".
Com isso o tempo mais uma vez pareceu voar, eu procurava a 'garota primavera', como chamava-a em minha mente, no entanto você parecia ter sido simplesmente levada em comunhão com o doce aroma de Primavera. Você tinha me deixado sozinho vagando no inverno novamente, mesmo sem perceber... Mas, tudo bem, a culpa foi minha de qualquer maneira.
Meses se passaram, bem como algumas primaveras e invernos.
Senti meu corpo definhar devido a uma doença hereditária.
Vi as cores deixarem de existir lentamente sem me importar.
Vi meus (poucos) parentes me levarem a um hospital e me internarem lá, como um último ato de bondade.
Lembro-me de ver, a agora não mais, garota primavera entrar no quarto.
Lembro de achar que tinha começado a alucinar.
Senti a leve brisa do inverno adentrar pela janela me trazendo, pela primeira vez, o doce cheiro inconfundível de primavera e vi que estive certo esse tempo todo, ela realmente tinha um adorável aroma de flores.
Sorri.
Presenciei, pela primeira vez, sua voz sendo dirigia exclusivamente para um ser tão desprezível como eu. Ela dizia que já tinha me visto em algum lugar... Eu só sabia sorri de maneira genuinamente feliz, como a anos não fazia. E com mais uma suave brisa gelada, me lembrei do pequeno trecho que eu tanto tive afeto e o recitei: "O inverno não é tão amargurado e sem cor, ele apenas está limpando as coisas para primavera chegar com todo seu esplendor".
Lembro-me de lhe ver arregalar os olhos, sorrir e dizer "O inverno e a primavera"?
Meu sorriso se alargou um pouco mais.
E, infelizmente, por fim, senti minhas forças irem embora, tal qual o caminho que o vento trilhou para entrar naquele quarto... Mas eu lhe prometo meu, não tão mais pequeno e nem tão meu, pedaço de Primavera, nos iremos nos reencontrar em uma próxima vida, pode ser que você não me reconheça, não duvidaria se isso ocorre-se, mas não se preocupe, eu saberei quem você é assim que por meu olhos em você e ouvir sua alegre e doce voz novamente.
*FIM*

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Os caminhos do vento
Fanfiction"O inverno não é tão amargurado e sem cor, ele apenas está limpando as coisas para a primavera chegar com todo seu esplendor". - O Inverno e a Primavera. #História original baseada em um trecho de poesia barroca. Então por favor não cometam plágio...