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ERA TARDE QUANDO ANA TEVE DE IR CUIDAR DO PEQUENO PRÍNCIPE DE TELMAR. E é ainda mais tarde agora, enquanto ela caminha pelo castelo e tenta ninar o recém-nascido.
— Eu acho isso totalmente errado, mas você só dorme com isso, então vamos nessa, seu pequeno perturbado. — Ana fala com o bebê que a olha rapidamente, antes de voltar sua atenção para o teto. Então, sentindo que seria condenada à forca caso alguém escutasse aquilo, ela começa a cantar:
"Um, dois
A melatonina está vindo para você
Três, quatro
Querido, você não vai trancar a porta?
Cinco, seis
Estou farta disso
Sete, oito
Está ficando tarde
Então feche os olhos
Durma durante dias"E é claro que o bebê, após ouvir as duas primeiras frases, começa a ficar sonolento. Ana só consegue pensar que o garotinho é perturbado. Adorável, mas tão perturbado.
A garota balança a cabeça e começa a subir para o quarto do príncipe, vagarosamente para não acordá-lo e ainda cantando, baixinho e suave.
"Silêncio, pequeno bebê
Beba seu leite estragado
Sou louca pra ca*****
Preciso da minha receita preenchida
Você gosta dos meus biscoitos?
Eles foram feitos só para você
Um pouco de açúcar
Mas muito veneno também"Rezando pra nenhum guarda ouvir e achar que ela realmente vai envenenar a criança, Ana sobe as escadas para o primeiro andar, ouvindo uma movimentação lá fora e ignorando a mesma. Não deve ser nada, ela pensa.
Sequer sabe ela que, naquele exato momento, Caspian e os antigos reis de Nárnia estão atacando o castelo e que aquilo irá determinar o resto de sua vida. Então ela continua cantando, ignorante às batalhas que ocorrem lá fora.
"Cinzas, cinzas, hora de cair
Oooh querido, você me quer agora?
Não aguento mais
Preciso colocar você na cama
Cantar para você uma canção de ninar
Onde você morre no final"Mantendo o volume de sua voz baixo, a babá nota que chegou no segundo andar rapidamente, então sobe para o terceiro, onde ficam os quartos da realeza.
"Nove, dez
Nunca mais quero te ver
Onze, doze
Eu visto preto tão bem
Me*** atrás da cortina
Eu estou farta de apaziguar
Na próxima vez que estiver só
Pense bem ao pegar o telefone"Ana para de cantar ao colocar o bebê no berço, passando a balançar o móvel para manter o bebê dormindo.
Ana está cansada pra caramba, pois ela é a única babá da criança e os pais negligenciam-o um pouco. Ela odeia isso, pois sabe como é a sensação de um pai não estar presente. Felizmente ela teve sua mãe, mas o bebê mal tem isso.
— Vai dar tudo certo, Tombini, vai dar tudo certo. — ela sussurra para o bebê, com um sorriso nos lábios, mesmo sabendo que não irá, não.
É triste ver uma criança seguir um destino tão ruim e não poder fazer nada, mas Ana pensa que pelo menos Tombini terá a ela, e isso talvez deixa as coisas um poucos melhores. Mas talvez eu esteja sendo otimista demais, ela pensa. Afinal, nunca se sabe quando Miraz vai decidir despedir alguém, além disso, quem garante que ela iria viver após a guerra acabar? Miraz tem plena consciência de que ela fora amiga de Caspian e provavelmente só está deixando-a viva para usá-la como isca.
Tudo bem que Ana nem tem mais certeza se Caspian se importa tanto com ela, afinal ela segue a filosofia de que nunca sabe exatamente o que a pessoa pensa, então nunca teria certeza se alguém realmente gosta dela. Atitudes dizem algo, palavras são só palavras. Após o abandono de seu pai, Ana pensa dessa forma. Afinal, seu pai também dizia que a amava e já faz mais de dez anos que não o vê.
A babá pula de sua cadeira ao ouvir uma porta sendo aberta com um estrondo, e ela olha para quem a abriu com o coração acelerado.
— Caspian! — a telmarina disse, surpresa.
— Ana! — o príncipe disse, tão surpreso quanto ela.
A garota se aproxima dele rapidamente, preocupada com o que estaria acontecendo.
— O que faz aqui? Enlouqueceu de vez? — Ana sibila para o outro, que olha o corredor de forma preocupada.
— Os reis e rainhas antigos apareceram! Viemos atacar o castelo e libertar Nárnia! — ele explica rapidamente. Belo resumo.
— Isso é loucura. — a morena diz, chocada. Ninguém nunca havia invadido o castelo!
— Também acho, mas já estamos aqui mesmo. — Caspian diz e dá de ombros. Realmente animador! — Quer vir comigo?
Ana olha para trás, onde Tombini dorme, então olha para o amigo de infância, lembrando-se que estava só no mundo. Seu pai abandonou ela e sua mãe morreu há alguns anos, o mais próximo de família que tem é Caspian.
Então a garota assente com a cabeça e segura a mão que o outro estende, logo começando a andar apressadamente pelos corredores.
— Aonde vamos? — Ana questiona.
— Miraz. — Caspian responde e a ex-babá entende. Ela também mataria Miraz se tivesse a oportunidade, e ele tem.
O que posso dizer sobre essa empreitada além de "deu tudo errado"? A única coisa útil que saiu disso, foi Caspian descobrir que seu tio assassinou seu pai por ganância, e que eles deviam ter seguido o plano. Ou ter feito outro plano mesmo. Que ideia de jerico foi essa, afinal de contas?
Acabou que fugiram do castelo, com o alto preço das vidas de narnianos que ficaram presos lá dentro, além dos que morreram esmagados tentando manter o portão aberto.
Sentindo-se egoísta por pensar nisso naquele momento, Ana agradece por estar livre de Miraz. Agora está na hora de acabar com a raça desse desgraçado.
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Espero que tenham gostado.
Logo pretendo postar a segunda parte, que é outra one. Aviso quando fazer isso.
Até a próxima.
24/07/2020.
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Meramente Ana • Crônicas de Nárnia
Fanfiction[one-shot; parte I] Ana sempre trabalhou e conheceu o castelo onde vivem os soberanos de Telmar. Ela trabalha naquele lugar desde seus 13 anos e conhece ele desde antes, quando sua mãe ainda era viva e trabalhava lá. Era arrumadeira, até que o filho...