love and soul.

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Millie, em seus vinte anos de vida, nunca pensara que um sonho pudesse drasticamente mudar sua vida.

Uma onda de náusea a atingiu no momento em que acordara naquele lugar magnífico, aquele lugar tão lindo quanto os deuses. Aquele lugar onde já havia sonhado tantas e tantas vezes.

O castelo enorme de mármore e ouro, e todas aquelas vozes que lhe faziam cócegas na orelha lhe guiavam para onde seguir.

Mesmo sendo uma simples mortal, Millie sempre tivera privilégios, seja por causa de sua beleza inigualável e também, por ser filha do Rei Brown.
Tinha duas irmãs, que também tinham uma beleza única, mas que já eram casadas com outros cavalheiros.

Já Millie, diferente das irmãs, acabara sendo a única à não casar-se cedo, por mais que seja a mais bela de todos aqueles no reino.

Tamanha beleza que causava medo nos pretendentes e inveja até mesmo na deusa Afrodite, que de pura raiva, mudou completamente o destino da jovem.

Ao consultar os oráculos, seus pais choravam e negavam o destino da filha. Não aceitavam o fato de que ela deveria ser colocada em uma montanha, à espera de um monstro para casar-se consigo. Mas o que eles não sabiam era que tudo aquilo fazia parte do plano da deusa Afrodite.

Infelizmente, não havia nada que o Rei e a Rainha fizessem. Eles deveriam conceder ao oráculo e aos deuses. Se esse era o futuro de Millie, que seja.

Meses depois, tudo estava pronto. Millie atordoada com a ideia e não sabia o que esperar de seu futuro. Não sabia se sentia medo da morte ou medo do monstro.

Seu traje branco voava com o vento assim que foi posto no alto da montanha. Deitou-se ali e chorou baixinho, ainda à espera do monstro. Acabou sendo vencida pela exaustidão e adormeceu ali mesmo.

Zéfiro, deus dos ventos do Oeste, irmão de Bóreas, Noto e Eurus, soprou e levou Millie pelos ares sendo assim, colocada em um lindo vale ainda adormecida.

Ao acordar, seguiu as vozes e encontrara seus aposentos. Assustou-se com tamanha beleza do local e sorriu enorme ao sentir a seda dos lençóis na cama.

Ouviu passos atrás de si e virou-se a tempo de ver uma sombra preta esconder-se atrás dos móveis gigantes.

- Quem é? - Millie pergunta trêmula. Não conhecia aquele lugar, não sabia quem frequentava ali.

- Sou seu companheiro.

Millie abriu a boca e a fechou milhares de vezes, não entendia o fato que lhe estava na frente do nariz.

Lambeu os lábios e procurou o homem que havia lhe gritado, se era o companheiro que havia sido predestinado porque não aparecia em sua frente?!

- Não se aproxime! Farei com que tenha tudo o que deseja, do bom e do melhor. Lhe darei amor e carinho. - Millie escutou e parou de o procurar, a espera do resto da frase. - Com uma condição!

- Diga-me.

- Você não pode me ver. Nunca me verá e se o fizer, me perderá para todo sempre.

Millie não sabia o que dizer. Queria ser tratada de maneira boa, queria sentir-se amada e amava receber atenção e carinho. Estava presa naquele lugar, não sabia como voltar para seu reino junto à seus pais. Mas enfim, acabou aceitando a proposta.

Com o passar do tempo, Millie sentia-se realizada naquele lugar. Recebia tudo o que desejava e principalmente, recebia carinho. Apesar de não poder o ver, Millie poderia chutar que estava o amando. Tinha o melhor companheiro de todos que lhe fazia sentir do mais puro amor.

Infelizmente, meses e meses passavam-se e a saudade dos pais de Millie apenas aumentava. Ela gostaria de os ver, de os abraçar novamente e sabia que se pedisse, ele concederia.

Finn, por outro lado, que foi enviado por sua própria mãe, Afrodite, para acabar com a vida de Millie fingindo ser seu companheiro. Apaixonou-se por Millie, pela beleza e alegria da garota tão rápido que teve de andar escondendo-se de todos, principalmente de sua mãe para evitar a fúria da mesma.

Ela não poderia desconfiar dos sentimentos de Finn, e que o mesmo não estava seguindo o plano que havia sido proposto.

Dias e dias passavam-se e Finn não aguentava mais Millie insistindo tanto para rever seus pais. Não aguentava a ver chorar por ter que ouvir um "Não" de uma pessoa que nunca lhe negou um sequer grão de arroz.

Millie consultou os oráculos que negavam aquilo e a advertiram milhares de vezes, mas mesmo assim insistia naquilo dia após dia. E então, finalmente Finn cedeu.

Da mesma forma que entrara na vila, saiu da mesma. E uma Millie, animada e chorosa, voa de volta para seu reino.

Todos felizes com a volta da filha tão amada e bela, suas irmãs com a inveja estampada no rosto encheram Millie de perguntas.

Mas Millie riu e negou, dizendo que nunca vira seu rosto. Elas a convence de que Millie teria que ver o rosto daquele homem, enchendo de palavras que atiçaram a curiosidade de Millie.

E como dizem que a curiosidade matou o gato, não seria muito diferente de Millie. Assim que anoiteceu, retornou à sua casa com um outro coração. Um coração cheio de curiosidades sobre aquele rosto desconhecido.

Não sabia o que esperar. Não sabia se era belo demais ou horrendo de mais, e essa dúvida apenas atiçava a sua mente.

Finn sempre pregou o ditado que queria que Millie apaixonasse por si pelo o que ele é e não por sua aparência e nome. Não gostava desse pensamento e por isso, decidiu impor a regra de Millie nunca poder o ver.

Estava adormecido quando Millie acendeu uma vela naquele quarto tão escuro. No momento em que viu o rosto pálido de Finn, quase engasgou e lhe faltou ar.

Millie ficara totalmente imóvel e encantada pela beleza que o filho de Afrodite lhe escondia. Tão deslumbrada que sequer viu enquanto a vela derretia-se e uma gota solitária pingasse no peito dele que acorda assustado com aquilo lhe queimando.

Finn suspirou e encarou a feição de Millie, tão frágil e tão bela, e que agora teria que abandona-la.

– Eu lhe avisei, Mills. – Fechou os olhos e lhe deu as costas, indo embora para todo sempre.

Millie, que chorava toda noite, vagava pela vila sozinha e infeliz. Ninguém a fazia tão feliz quanto Finn. Não tinha feito aquilo por mal, queria apenas enxergar a sua face por uma curiosidade repentina.

Passou por muitos e muitos desafios e sofrimentos que a própria Afrodite lhe jogava. Millie não aguentava mais aquilo, ela não iria mais viver se não tivesse Finn ao seu lado lhe dando amor. E sendo assim, deitou-se em sua cama para entregar-se ao sono infinito.

Finn estava sofrendo longe de sua amada, arrependia-se até o último por largar ela para trás sozinha. Sabia o quanto Millie estava triste e arrependida com aquilo que fez e chegou a ponderar sua volta, logo tomando um grande choque ao perceber que ela não habitava mais aquele mundo tão belo.

Millie havia partido por não aguentar viver longe de seu verdadeiro amor.

eros e psiquê. 🏹 fillie.Onde histórias criam vida. Descubra agora