Ato final

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Essa one, inicialmente, não foi escrita no universo mlb, mas adaptei. É inspirada na música I don't love you - Urban Zakapa, que se trata de um grupo coreano, quem gostar pode ler ouvindo (vídeo acima) e quem não, fica aqui o registro da inspiração!
Quem gostar deixa aquela 🌟
Boa leitura!

♥️


Eu sabia que não deveria estar aqui, todos os meus amigos me falaram para esquecer, que eu não poderia fazer nada, que não poderia ser nada além de amiga dele.

Não, eu não era a melhor amiga, essa posição é dela.

Ela é a melhor amiga;

Ela é a namorada;

Ela é a futura esposa.

E eu? Eu sempre fui mais uma no meio do grupo de amigos, quase a ovelha negra, a que amava demais alguém que nunca fez esforço para retribuir meus sentimentos. Mas eu não posso culpá-lo, eu também a amaria se fosse ele, também a escolheria.

Agora eu me obrigo a estar aqui, nesse restaurante com pratos caros, bebidas caras, cadeiras caras, tudo é caro demais, até o papel de parede parece me esnobar, mesmo nascida em luxo e acostumada a isso, me sinto como alguém de fora, não pertencente.

Eu sabia que seria aqui o local do pedido, o clichê dos contos de fadas. O restaurante do hotel Le Grand Paris, cenário do primeiro beijo dos dois - quando Chloé organizou uma festa surpresa de aniversário para Adrien - era quase palpável a atmosfera entre os funcionários, ele queria a noite perfeita, e claro que André Bourgeois, o proprietário, daria a noite perfeita para os melhores amigos da filha, a noite perfeita com um pedido de casamento nada além de perfeito para o casal perfeito. Era perfeição demais, e eu era imperfeita.

Meu celular vibra com uma mensagem de Luka.

"Kagami, vá pra casa."

Ele sabe, todos eles sabem que eu estaria aqui. Queria ser parecida com o Couffaine que mesmo apaixonado aceitou que nada poderia fazer e que seu amor naturalmente se tornaria algo fraternal, ele conseguiu seguir em frente e esquecer Marinette, enquanto eu me prendia a falsas esperanças. Bloqueei o celular sem responder.

São 19 horas e sei que a qualquer momento eles vão chegar, peço por uma taça de vinho, o mais seco, não importa o sabor, eu só preciso do álcool. Não sei quanto tempo passou, não importa mais, Adrien acabou de chegar e Marinette está nos braços dele, ela parece não me enxergar, apesar de passar por mim, ele só olha pra ela, eu sou invisível e eles estão dentro de uma bolha.

Os pratos são servidos, as mãos acariciadas, a risada dela ecoa pelo salão e a dele vibra junto, ninguém mais deve ter ouvido as risadas sincronizadas, ninguém mais parece afetado, mas isso me faz pedir por mais uma dose, arrisco olhar pra trás e vejo Marinette corada, eu só posso ver as costas de Adrien, mas tenho certeza que ele está sorrindo. Ele sempre abre um sorriso para Marinette, o mais brilhante e aberto sorriso, ela merecia o melhor.

Afogo-me em mais vinho  ao recordar da rejeição. Eu já sabia aos 13 anos, eu percebi que ele a olhava diferente, aos 15 anos toda escola fofocou sobre o beijo dos dois na bendita festa, aos 17 não era surpresa nenhuma ver os dois de mãos dadas na escola, na cidade, em fotos, em relacionamento sério em rede social. Mesmo assim eu me forcei a passar por aquela situação, me obriguei a ir até a casa de Adrien junto a minha mãe - em uma de suas reuniões com Gabriel - e confessar meu amor, pedir para ele esquecer a namorada e dizer que eu o faria muito mais feliz, que poderíamos fazer coisas incríveis juntos, que eu seria pra ele o que ela nunca poderia ser, que éramos perfeitos um para o outro... Ainda me lembro dos olhos vazios, a falta de expressão, tão incomum naquelas duas esmeraldas tão calorosas, e a única frase que me marcou dentre todo seu discurso, a frase que me queimou antes de me dar as costas.

Eu não te amo.

Depois disso ele se afastou silencio e educadamente, me dando o tempo para matar o amor que me consumia e machucava, e Marinette nunca descobriu que eu me arrastei e implorei aquela noite para o amor de sua vida ser meu. Porém agora olhando pra trás, talvez, mesmo que soubesse, ela ainda me trataria com gentileza, porque assim como todos os nossos amigos sabiam, ela também sabia, Marinette tinha certeza que eu o amava.

Uma movimentação chamou minha atenção me deixando nervosa, por um momento, pensando no pedido, mas quando olhei pra trás Marinette estava sozinha a mesa, olhando para o rosto em um pequeno estojo de vermelho com bolinhas pretas, seu espelho, procurando preocupada algo de errado. Adrien talvez tenha inventado uma desculpa, falado que iria ao banheiro, mas a hora principal se aproximava, eu podia sentir.

Percebi quando Adrien se encostou à outra ponta do bar, a mais distante de mim, e olhou pra ela, admirado, como se ela fosse uma oração, a dona da sua total adoração e Marinette mais uma vez corou enquanto guardava o espelho. Ele nada fez além de sorrir e esticar a mão, fiquei confusa, pensei que a essa altura uma taça de champanhe com o anel flutuando estaria à caminho.

Os dois estavam ali, a ponta do bar, as luzes gradativamente foram abaixando, mas eu vi quando ele puxou um anel do bolso, vi quando ele segurou a mão de Marinette de maneira firme e presenciei as lágrimas de júbilo descer pelo rosto de porcelana enquanto ela dizia sim, balançava a cabeça e o beijava.

Naquele pequeno espaço de tempo com Marinette nos braços dele, sendo rodopiada, ele me viu, nossos olhos se encontraram por uma fração de segundos, levantei minha taça e virei o rosto.

Eu não te amo mais.

Era isso que eu queria falar, gritar: eu não te amo mais. Eu sempre fui a espectadora, essa nunca foi a minha história de amor. Eu precisava ver esse momento para pôr um ponto final.

Agora eu podia ir embora, sem olhar pra trás, esse foi meu último ato amando Adrien Agreste, eu não seria mais nada além da antiga colega da equipe de esgrima, eu finalmente estava aceitando meu lugar fora da vida deles.

Eu não te amo mais. Estou me libertando de você.

I don't love youOnde histórias criam vida. Descubra agora