Capítulo 0

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"transforme a dor em poder" começar esse livro, texto, desabafo ou pontos extras na matéria de escrita criativa com uma frase que talvez descreva minha saúde mental me faz pensar que minha descrição seja um pouco menos necessária agora, eu sempre achei que julgar um livro pela capa talvez seja mais acurado do que pensam, uma vez que a capa é a última coisa que produzem de um livro. Acredite, devoto leitor, minha vontade de escrever é imensamente menor que sua vontade de ler essas linhas, porém é isso que acontece quando uma menina de 18 anos de exatas ganha bolsa esportiva de basquete para cursar design de games.Sendo essa a milésima vez que começo meu projeto de livro - chamaremos assim esse amontoado de papel cheio de palavras - descobri que não existem muitas formas originais ou interessantes de começar a descrever a vida da capitã de basquete que quando não está treinando ou tentando entender filosofia tem como hobby principal chorar por garotas bonitas que nunca perceberão que existo. Mas, baseando nas incríveis respostas aos meus surtos diários que recebo da Gracie, único ser humano vivo que que mesmo depois de quase duas décadas ainda não me quis jogar pela janela, acredito que no final isso aqui vire um ótimo livro de humor porque sim, minha vida é uma piada carregada na vergonha alheia e dó por quem assiste, logo, empreendendo para tirar o melhor da situação com esses 2 pontos extras na média. Enfim, acredito que o suficiente de mim já foi dito, mas a Gracie acredita que umas descrições físicas não machucariam meus dedos e seria uma forma de você, caro leitor, atribuir uma face a minha voz imaginária na sua mente. Fisicamente, eu sou uma típica mistura de uma mãe italiana linda e um alemão que nunca se importou o suficiente pra ser chamado de pai gerando essa bagunça de pessoa ruiva de cabelos cacheados que são o maior terror de preparar pré jogo e olhos claros que concordaram em não enxergar em qualquer ambiente considerado mais claro que uma biblioteca abandonada. Em quesitos de gostos, sou tão seletiva quanto boa cantora e meus frascos de shampoo e condicionador choram toda vez que tomo banho. Brincadeiras à parte e sendo mais específica, perdidamente apaixonada por doces, roupas de cor pastel e jaquetas, eu sou a maior fã de qualquer tipo de filme de terror especialmente qualquer longa amador feito com um orçamento de apenas três dígitos, essas são realmente as verdadeiras joias do cinema internacional. Mentalmente, instável.Se você decidiu ainda me acompanhar nessa maravilhosa terrível jornada, acho válido defender o meu lado da história e o porquê esse curso é tão importante e íntimo para mim, onde tudo começa com minha família, em mais específico meu irmãozinho. Sendo a filha do meio de dois meninos, nunca tive uma oportunidade de demonstrar um lado que chamariam de feminino - o que me irrita profundamente, mas essa é discussão para outra disciplina -, sempre rodeada dos mais diversos videogames, esportes e lutas, é claro. Assim, junto com minha paixão por basquete, veio a minha vontade de acabar com o Rio (apelido de Valerio, o mais velho) em todas as áreas possíveis, incluindo os mil jogos que a gente já zerou juntos; foi então quando Theo, o mais novo, chegou que eu entendi a importância dessas mini competições, sempre que mamãe precisava passar noites e noites no hospital com ele por causa das múltiplas infecções de ouvido que mais tarde o deixaram surdo, porque, enquanto tínhamos os jogos eu e Rio estávamos bem em casa. Quando ele cresceu, queria jogar, como ele chama, "o jogo zumbi" com a gente, mas era uma outra época com muito menos acessibilidade, então a gente adaptava como dava, as vezes Rio era os ouvidos dele, as vezes jogávamos no quintal como nossa versão de VR. Em 2016, Theo fez 8 anos e também foi o dia mais gratificante da minha vida, entreguei nas mãos dele o primeiro jogo que produzi, não era muito original, tiro em primeira pessoa mas todas as ações, ruídos, ataques eram legendados na tela; pela primeira vez toda a minha família chorou com a morte de um zumbi, e eu ali percebi que podia trazer essa felicidade para muitas outras e tive certeza de que design de games era a minha chamada. Porém digamos que a vida não me deu esse prato de limões de graça. Grace sempre diz que eu sou meu maior obstáculo, mas você precisa me dar um desconto, não é pra qualquer um ser seu maior inimigo e nisso sou excelente, ela não aceita quando eu me elogio por isso, vai entender... Mas, preciso dar um pouco de crédito para um anjo como esses na minha vida, acho que tudo o que uma mulher insegura precisa é de uma amiga sensata que bata na sua cara toda vez que você ouse receber migalhas de meninas maravilhosas ou chorar por 127 minutos consecutivos por aquele mico que você passou na lanchonete derramando milkshake em você na frente da menina que você ia chamar para a after do seu jogo, porque isso sempre acontece com todo mundo, né? Para terminar de apresentar minha vida e as coisas importantes nela, minha metadinha conhecida como Grace é uma daquelas pessoas que são casa, abraço, em qualquer hora e lugar. Eu nasci dia 22 de janeiro de 2000 mas eu comecei a viver quando essa garota me cruzou no parquinho de infância com os olhos cheios de lágrimas e as mãos trêmulas porque 3 meninos mais velhos expulsaram ela da gangorra, foi a primeira vez que a defendi e depois desse dia ela nunca mais saiu do meu lado. Nossa amizade já passou por muito, sabe? Minha família é bem comum enquanto a de Gracie tem o nome de nossa faculdade o que às vezes não é a melhor coisa para a imagem dela, convenhamos, todo mundo sempre espera o pior de você e diminui todos os seus méritos mas isso não é algo que afeta minha pequena jornalista que tem esse espírito lindo de ajudar o próximo. Grace foi criada com mais dois irmãos, Mateo, 5 anos mais novo e ainda na escola, e Violet, um ano mais velha e a personificação da popularidade da forma mais cativante possível com cabelos castanhos, olhos mel e o namorado que todas as meninas almejam, Alec, capitão do time de futebol... Segundo Grace, ela sempre viveu as sombras da irmã prodígio e idealizada pelo pai mas ela sempre viu isso de um jeito positivo de ter seu espaço para ser quem quiser e desenvolver sua própria personalidade vestindo moletom, como ela descreve. Grace também namora - esse casal tem todo o meu coração aff-, Andre é o amor dela desde o fundamental e vice-versa, eles sempre conseguem ser interessantes separados e juntos, as vezes temos até noite de jogos na casa dela, Grace e Andre contra eu e Mateo ou Violet, mas convenhamos que só ganho com Violet, que aluna de medicina no terceiro ano sem nenhuma DP não é o próprio crânio do time né... Voltando a Andre, ele faz parte do 1% dos homens que suporto - e até gosto, só não conta pra Grace, eu nunca admitiria que ela está certa sobre ele ser legal, coisa de irmã né-, ele também está no time de basquete e em todas as temporadas a gente aposta em quem consegue marcar mais pontos, ano passado ganhei MVP e ele que pagou a pizza :) Apesar de ter sido muito relutante no começo, acredito que essa experiência de escrever sobre mim e não sobre uma personagem fictícia - existe primeira vez para tudo- não seja a pior experiência possível e uma forma interessante de ganhar pontos extra, a exposição vai ser gigante e a vergonha maior ainda mas não existe nada sobre minha vida que a faculdade inteira já não saiba, não por ser popular, talvez uma das últimas coisas que eu seja, mas pelas minhas gafes constantes e gigantes sendo juntamente com designer de jogos, capitã do basquete, também a que derrubou toda a salada no almoço em cima das patricinhas de odontologia, a que caiu na quadra durante a final porque não amarrou o cadarço e a mais vergonhosa de todas, a menina que levou 7 pontos ao tentar impressionar uma garota nos jogos internos tentando fazer uma cesta de 3, naquela noite ela saiu com uma veterana de ciências sociais... Talvez eu até goste desse projeto de meus pensamentos escritos e desde já, caro leitor, mil desculpas por todas as vergonhas alheias que virão e saibam que sempre que você sentir a intensa vontade de me bater saiba que isso já passou pela minha cabeça pelo menos 253 vezes no momento.

Dentre todas as cores do Arco-ÍrisWhere stories live. Discover now