we fall apart as it gets dark

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Deslizo meus dedos entre os fios sedosos de suas madeixas castanhas enquanto aprecio calmamente seus belos traços. Nunca deixava de me admirar com o quão magnífica conseguia ser a garota deitada em meus braços, aninhada a mim como um gato depois de termos acabado de nos amar. Era impressionante o modo como ela me fazia desligar de tudo quando estávamos juntas e apenas flutuar fora de órbita pelo espaço ao seu redor.

Me aconchego melhor ao seu lado sem parar de apreciar os seus graciosos contornos, e acabo suspirando baixinho lembrando do que o dia de amanhã nos reserva. Tento afastar esses pensamentos mas eles insistem em me torturar durante os instantes que se seguem até eu ouvir sua melodiosa voz que me arranca dos meus devaneios.

— Sana?..

— Sim? Estou ouvindo, Dah. O que foi?

— Nada, eu só queria lhe falar uma coisa. – Fala a mais nova parecendo estar nervosa com o diálogo que iria se seguir.

— Pode falar, meu doce. – Falo prestando atenção no que a mesma dizia e a vejo abrir um sorriso por eu ter usado o apelido que havia dado a ela.

— Bem, é que.. – Fala baixinho e respira fundo logo se sentando ficando de frente para mim. — Eu amo você, estou apaixonada por você, Sana.

Sou pega de surpresa com o que ela diz e me sento também ficando de frente para a coreana.

— An.. Por que você está me falando isso agora? – Pergunto meio hesitante depois de alguns segundos franzindo as sobrancelhas e ainda tentando processar o que ela está dizendo.

— Eu sei que você também me ama, não é? E já que nossos sentimentos são recíprocos, por que não ficamos juntas?

Suspiro já sabendo que fim essa conversa teria e aonde isso iria nos levar.

— Você sabe meus motivos, Dah. Já tivermos essa conversa antes, por quê você continua insistindo nisso?

— Porque eu te amo! – Encolho levemente meus ombros com a sua fala antes dela continuar. — E ainda não consigo entender qual a razão de você querer se casar com ele, sendo que depois continua sendo eu a pessoa com quem você passa as suas noites e me trata como se eu fosse a única pessoa no mundo para você.

Enquanto ela falava consigo sentir a dor na sua voz e isso me deixa completamente angustiada, sempre retornavamos nesse assunto desde que eu havia lhe dito que estava noiva e isso já estava se tornando exaustivo, mas nunca tinha-lhe visto como a vejo agora, tão desolada.

— Eu já te disse, eu não posso não me casar com ele. Meus pais conta-

— Contam com esse casamento para salvar a empresa e garantirem o futuro do legado da sua família com essa parceira. Eu sei disso. Mas pelo amor de Deus, Sana, em quê ano nós estamos? Como pode aceitar um casamento arranjado? Isso é tão surreal! – Disse me cortando e sem esconder sua evidente decepção.

— Olha, eu sinto muito por estar te magoando tanto, mas eu realmente não posso ir contra a decisão deles.

— Não, você pode. A questão, na verdade, é que você não quer correr o risco de desapontar seus pais ao se assumir, ao me assumir, então você prefere se esconder e me machucar ao invés disso. – Fala a morena e ao ouvir o tom de acusação na sua voz logo sinto a frustração e raiva se fazerem presente em mim.

— Você não está sendo justa, Dahyun. Você não pode me pedir isso. Eles são meus pais. Não pode me pedir que eu vá contra minha família só por sua causa e pelo nosso relacionamento.

Falo irritada, mas assim que vejo grossas lágrimas despontando copiosamente de seus olhos acabo sendo pega desprevenida e me arrependo do que disse desejando poder voltar no tempo.

— M-me desculpa, Dah, eu nã-

Tento pedir desculpas após escutar um soluço vindo da minha preciosa Dahyun, a bela garota que sempre estava com um sorriso no rosto. Porém antes que eu pudesse falar mais do que três palavras a mesma se levanta da cama, vestindo nada mais do que apenas suas roupas íntimas, indo para o outro lado do quarto enquanto limpa com força as lágrimas que continuavam a cair.

— Tem razão, Sana. Eu não devia te pedir isso. Realmente pensei que você pudesse sentir algo de verdade por mim mas acho que fui uma idiota esse tempo todo em não ter enxergado antes. Você é e sempre foi mais do que suficiente para mim, mas acho que não significo o mesmo para você, não é? – Fala a coreana e vejo mais lágrimas surgindo e marcando suas bochechas, desde que a conhecia nunca havia lhe visto chorar e sinto meu coração ficar apertado por ser o motivo daquelas lágrimas.

— Eu sinto muito, meu doc-

— Não! Não me chame assim.

A mais nova me corta rapidamente fechando os olhos com força, quase dolorosamente, e se afasta bruscamente de mim quando tento chegar mais perto dela.

— Por favor Dah, eu não queria lhe fazer chorar, vamos conversar, eu..

Não consegui terminar a frase pois não tinha certeza do que dizer. Por mais que eu quisesse contar para a garota totalmente vulnerável neste instante que eu também a amava, eu não podia, não podia jogar pro alto o futuro que meus pais sempre esperaram de mim. Não podia. Não conseguia decepciona-los.

— Está tudo bem, Sana. Entendo o fato de você não querer arriscar seu futuro por mim, pensando bem eu também não arriscaria. Quem iria apostar tudo apenas em um romance estúpido com uma garota tonta como eu?

Abri a boca para responde-la que eu iria, iria se não tivesse tanto medo. Mas não consegui, não saía nenhuma palavra da minha boca e um silêncio sufocante se seguiu por tempo suficiente para Dahyun se recompor e erguer seu rosto para mim. E me senti um ser humano horrível e detestável ao ver seus olhos vermelhos e levemente inchados.

— No começo, quando você me contou sobre seu casamento há duas semanas, pensei que pudesse lidar com isso e te fazer mudar de ideia. Ainda tinha tempo, sabe. Pensei que meu amor valeria a pena. Parece que eu me enganei, não estou bem e acho que nunca poderia ficar. Não posso mais estar aqui, Sana, e viver desse jeito as escondidas com você. Eu te amo, mais do que achei que poderia amar, e faria tudo por você e pelo seu amor. Mas no final, eu seria a única de nós duas que realmente estaria entregue e a única que sairia machucada.

Enquanto ouço tudo o que ela diz sinto uma imensa vontade de chorar, entretanto me recuso a deixar que a garota veja qualquer indício do quanto eu quero que ela fique. Sei que mesmo com o vazio que possa habitar a minha vida tornando-a opaca sem sua presença, ela estará melhor sem mim e todo o maldito drama que atraio.

Logo a acastanhada começa a se vestir rapidamente e eu apenas permaneço ali parada, a olhando ir em direção a porta e parar de costas para mim, com a mão na maçaneta prestes a sair e me deixar sozinha.

— Por favor, por favor, não me procure mais. Saiba que eu vou embora e não vou voltar, não porque eu não lhe amo, mas justamente porque eu te amo demais e não aguento mais ficar aqui ao seu lado sem realmente poder ter você. Mesmo que você tenha deixado meu coração arruinado, eu ainda lhe entregaria ele se um dia eu soubesse que isso seria o suficiente para você.

Quando ela termina de falar abre a porta e saí rapidamente do meu quarto, e por mais que quisesse ir atrás dela não consigo. Permaneço estática aonde estava e apenas percebo as lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto no momento que escuto a porta da sala bater e sinto a solidão me invadir.

Me obrigo a praticamente me arrastar em direção a cama e me cubro com o lençol até a altura dos ombros. Acabo percebendo que isso foi uma péssima ideia ao sentir o perfume da coreana emanando e invadindo minhas narinas – ele havia se tornado meu aroma favorito – uma mistura suave de flores e amêndoas. Praguejo silenciosamente ao não conseguir criar forças para me livrar da coberta, e acabo adormecendo com o cheiro da garota que eu amava ao meu redor e desejando que o frio que permanecia desde o momento que o seu corpo pequeno havia se afastado do meu fosse embora junto com as lágrimas que molhavam meu travesseiro.

i love you [♡] saidaOnde histórias criam vida. Descubra agora