enterro

29 11 13
                                    

Pov. Anne

Foi tudo muito rápido, uma hora ele estava me pedindo em namoro e um pouco mais tarde estava vomitando sangue até desmaiar, ele nunca havia me dito nada, nem ao menos aos pais.

Câncer metastático, eles não tinham nem ao menos ideia de por onde pode ter começado. Me pergunto porque ele nunca disse nada, nós poderíamos ter investigado isso, talvez encontrado com antecedência. Os médicos disseram que tentariam combater com quimioterapia, eu não via esperança em seus olhares, porém continuo acreditando numa possível cura.

O tratamento começou e em cerca de 30 dias os médicos o liberaram, eu estranhei, a cura não se dá assim tão rápido, foi quando eu me toquei, eles o liberaram para que pudesse passar seus últimos dias em um lugar que não seja uma maca de hospital, percebi que não existia mais esperança, que apenas deveríamos esperar o dia que ele iria nos deixar para sempre.

Fomos vivendo um dia atrás do outro e cada um mais perfeito que o anterior, a cada dia que passa eu o amo mais, o que mais dói é saber que em qualquer dia ele pode não estar mais aqui comigo.

Todos já sabíamos o que iria acontecer, mas não podemos prever a nossa reação, quando de fato acontecesse. Estávamos em sua casa vendo um filme, brigamos bastante até conseguir decidir, nos deitamos em sua cama, fiquei em cima de seu peito, sentindo sua respiração, ao longo do filme íamos fazendo diversos comentários, lembro-me de fazer uma pergunta e o mesmo não respondeu, insisti novamente e nada. Me levantei ligeiramente o chamando, sem ter nenhuma resposta.

Passei a me desesperar, não sentia nem ao menos sua respiração, gritei por seus pais, que logo chegaram no quarto, vendo meus olhos banhados em lágrimas, vejo sua mãe cair de joelhos no chão desesperada, imagino o tamanho de sua dor, ela está perdendo um filho. Não sei quanto tempo se passou, vejo paramédicos entrarem pelas portas do quarto, me pergunto se eles não podem tentar reanima-lo ou algo do tipo, mas me recordo de quando Chris assinou a tão temida por mim ONR (ordem para não ressuscitar), ou seja, eu estava vendo o amor da minha vida ir embora, sem que eu ao menos tenha a chance de salvá-lo.

Sua mãe me pediu para falar em seu enterro, preparei um discurso, porém não fazia ideia do que dizer, eu estava simplesmente devastada, o ver naquele caixão me causava arrepios, é incrível como a vida é, tudo estava caminhando como eu sempre sonhei, eu não precisava de mais nada, eu já o tinha.

Vesti uma roupa preta naquele dia, talvez por que essa é a cor que usamos em um enterro, meus pais estavam juntos, meus “amigos da escola” e ao meu lado meu irmão, a única pessoa que não me permite desabar.

Não conseguia me concentrar em nada que ocorria em minha volta, eu estava literalmente perplexa, podia ver todos chorando, enquanto sua mãe proferia algumas palavras, eu esperava acordar e ver que foi tudo um sonho, que nunca existiu, fora apenas algo de minha cabeça, mas infelizmente tive que retornar à realidade.

Vi quando sua mãe me chamou, pedindo para mim, ditar algumas palavras, em tão pouco tempo ela pode ver quando amor nós tínhamos um pelo outro. Caminhei até seu corpo, pude sentir uma lágrima escorrer pelo meu rosto, olhei em seu rosto e seu corpo coberto por um terno. Me virei para as pessoas, respirei fundo e comecei a falar.

-Conheci Chris a menos de um ano, eu estava andando no shopping até que alguém esbarrou em mim, me fazendo cair, levantei o olhar já pronta para brigar com quem quer que fosse, quando olhei em seus olhos eu senti aquele famoso frio na barriga, mas claro que eu não iria demonstrar não é mesmo? Pensei que nunca mais iria vê-lo, até que eu entrei em minha nova turma e lá estava ele, senti seu olhar sobre mim e ao mesmo tempo um frio na barriga.

Posso dizer que foi nesse pequeno frio na barriga que nosso amor passou a nascer, quando eu vi ele já estava me pedindo em namoro com uma caixa de pizza, posso dizer que aquele foi o dia mais especial e mais aterrorizante da minha vida.

“Não vou falar da nossa história de amor para vocês porque, como todas as histórias de amor de verdade, ela vai morrer com a gente, como deve ser. Porém, posso dizer que ele foi o grande amor da minha vida. Eu não o trocaria por nada nesse mundo. Você me deu uma eternidade dentro dos nossos dias numerados, e sou muito grata por isso”.

Me virei para o mesmo e dei um beijo em seus lábios gélidos e o vi ser colocado a baixo de sete palmos de terra, estava vendo o amor da minha vida me deixar para sempre naquele momento.

“Às vezes não há nenhum aviso. As coisas acontecem em segundos. Tudo muda. Você está vivo. Você está morto. E as coisas continuam. Somos finos como papel. Existimos por acaso”                    Charles Bukowski

Stay with me - ShortficOnde histórias criam vida. Descubra agora