Um silêncio sepulcral pairou por uns instantes no galpão. Tonks e Kingsley se entreolharam. A voz que ouviram do homem parecia um sussurro abafado e duplicado, como a de alguém que passara muito tempo preso numa caverna. Aparentemente o feitiço de tradução lançado por Kingsley fora eficaz e assim eles poderiam entender um ao outro, o que era um ponto positivo na investigação. Mas as incógnitas ainda eram muitas, pensou Kingsley, ao ajeitar o chapéu na cabeça e se aprumar com autoridade.
— Do que você me chamou?
O homem na pilastra não respondeu.
— Que raios é Jedi? – insistiu Kingsley aumentando o tom da voz e balançando o bastão metálico em sua mão, como se ameaçasse quebrá-lo.
O homem aparentemente mordeu a isca e franziu as sobrancelhas pintadas.
— Ratos imundos – disse ele entre os dentes muito sujos e pontiagudos, a voz duplicada ecoando baixo no galpão. – Se sentem superiores em seus templos imaculados. Acham que são os reis da Força. Trambiqueiros patéticos.
Ele cuspiu com raiva. Tonks apertou com mais força a varinha erguida.
— Revoltadinho, não é mesmo? – ela olhou por cima do ombro – Olha não tô entendendo nada com nada. Quim, vamo levá-lo. Esse aí bateu com a cabeça.
Kinsgley fez a ela um sinal de espera com a mão.
— De onde você vem? O que está fazendo aqui?
O homem não se mexeu. Kingsley percebeu que ele olhou por um breve momento para o bastão que lhe fora retirado, antes de voltar a olhar o auror. Tonks notou também.
— Quim, eu acho melhor a gente...
— Sim – disse ele, antes dela concluir.
Sendo peritos em reconhecer artefatos das trevas, eles sabiam que deveriam manter uma distância segura de qualquer objeto desconhecido e não catalogado no Inventário do Ministério. Kingsley então deixou o bastão cair de sua mão e, antes que este chegasse ao chão, ele o manteve suspenso no ar com o uso da varinha. O homem tomou um leve susto antes de voltar a manter sua postura carrancuda.
— Vai nos contar que objeto é este? – Kingsley soou impaciente, apontando o bastão.
O homem nada fez além de retribuir um olhar raivoso ao auror.
— Muito bem – disse Kingsley, apanhando um vidrinho no interior das vestes. – Mesmo agora entendendo a nossa língua, você se recusa a cooperar. Sendo Chefe Máximo da Ordem de Aurores, tenho autoridade para fazer o uso disto mesmo sem testemunhas. O que nem é o caso, pois temos uma bem aqui, e que por uma feliz ocasião é uma Auror de Nível Quatro. Ou seja, eu poderia lhe despejar um caldeirão inteiro desta poção que nem mesmo Cornélio Fudge poderia dar um piu.
Ele entregou o frasquinho a Tonks.
— Faça as honras, por favor.
Tonks sorriu maliciosamente.
— Veritasserum. – disse ela pegando o frasquinho enquanto saboreava a expressão confusa que surgiu no rosto do homem.
Com agilidade, Tonks fez uma combinação de gestos com a varinha e os braços. O vidrinho foi arremessado em direção ao homem, que a contragosto inclinou o pescoço para trás e abriu a boca, ingerindo todo o conteúdo incolor do soro da verdade. Como uma bola de borracha murchando aos poucos, ele desceu alguns centímetros do nível onde estava na pilastra e assumiu uma expressão mais serena.
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DISTINTO SOMBRIO - Parte III - O Estrangeiro
FanfictionPARTE III de IV: Sem as respostas que precisam na investigação do estranho sujeito, o Chefe de Segurança Máxima de Londres e a sua Auxiliar recorrem à uma poderosa ferramenta, que pode trazer toda verdade à tona. Porém, as dúvidas que eles possuem s...