Parte 1

87 10 10
                                    


Quando John pousou as malas no chão do hall de entrada da casa que herdou dos seus avós, sentiu que, finalmente, tinha dado o primeiro passo na nova fase da sua vida após ser abandonado no altar pela mulher com a qual viveu nos últimos quatro anos.

A existência da casa apanhou John e os seus pais de surpresa na leitura do testamento do seu avô. John esperava encontrar uma casa simples e num estado avançado de degradação tendo em conta as décadas de abandono. Mas a casa em estilo vitoriano que acabara por encontrar estava muito bem preservada. O cheiro a mofo, no entanto, era inegável. Bem como o pó, as teias de aranha e sabe-se lá que outros bichos estariam a passear pela casa.

John começou por abrir todas as janelas enquanto ligava para a empresa de limpezas que tinha contratado no dia anterior quando pensou que seria boa ideia ter ajuda na mudança. Confirmou que já se encontrava na propriedade e a mesma confirmou presença em meia hora.

O recheio da casa estava repleto de memórias e vestígios da sua família. Molduras com fotografias de familiares, inclusive dos seus avós e da sua mãe ainda bebé.

As camas estavam feitas, as loiças nos armários da sala de estar e na cozinha, os livros nos armários do escritório e sala de estar. Os bibelôs, os jarros onde deveriam estar flores... Tudo permanecia do devido lugar, como se os seus avós tivessem saído apenas para passar o fim de semana fora.

John perguntava-se porque teriam eles deixado tudo para trás daquela forma e estranhava as condições em que encontrara as coisas. Nos seus planos, chegou a imaginar que iria encontrar uma casa sem teto ou com paredes caídas.

Duas batidas na porta levam-no a olhá-la por instantes. A equipa de limpeza disse meia hora, não teriam passado mais do que dez minutos e ninguém sabia que ele estava ali, para além do seu melhor amigo. Talvez os vizinhos estejam curiosos sobre a pessoa que entrou na casa e queiram rapidamente matar a curiosidade.

John abre a porta e olha curioso para a sua visita.

— Olá! — Diz-lhe ela animada.

— Olá. — Diz John desconfiado.

— Sou a Angelique. Moro do outro lado. — Vira-se para indicar a casa em frente.

— Olá, Angelique. — John sorri para a menina loira parada na entrada da casa. — Sou o John.

— Olá, John. Vais morar aqui?

— É esse o plano.

— Dizem que a casa está assombrada. Já viste algum fantasma?

John sorri. — Bom, Angelique, ainda não vi nenhum. Talvez eles estejam envergonhados.

— Talvez...

— Devias voltar para casa. Tenho a certeza de que os teus pais não quererão que fales com estranhos.

Angelique sorri-lhe. — Não somos estranhos. Somos amigos.

John abre um sorriso rasgado. — Então, Angelique, como teu amigo digo-te que é melhor voltares para casa.

— Tudo bem, eu volto. Se vires algum fantasma, diz-lhes olá por mim.

John sorri-lhe. — Direi. — Após ver Angelique afastar-se, fecha a porta e vira-se para encarar a casa silenciosa que lhe dá as boas vindas, novamente.

— Bom, parece que tenho de deitar mãos à obra. — Murmura.

Quando o sol se põe, as limpezas estão feitas. A equipa de limpeza parecia uma comitiva de festas. Pelo menos dez pessoas estiveram na casa para a limpar o mais rápido possível. Cabia a John tratar do recheio e, quando se despediu da comitiva das limpezas, já tinha empacotadas em várias caixas todas as peças decorativas que se assemelhavam a recordações.

A Casa - Conto (Completo)Where stories live. Discover now