Capítulo 1

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Eles observam-me enquanto vou em direção a cesta em cima da mesa, onde estão os bolinhos de limão, feitos pela cozinheira da confeitaria dos meus pais. Sempre peço que ela faça uma fornada a mais, depois trago para os meus pequenos alunos. Minha família sempre foi contra eu dar aulas, ainda mais de graça, ainda mais nesta pequena escola.

Quero ajudar esses pequenos que agora se sujam com o glacê dos bolinhos. Ao alfabetizar crianças, dou-lhes mais chances de empregos melhores no futuro e de quebrarem o círculo da pobreza. Além disso, tenho a sensação de que sirvo para algo, pela possibilidade de estar fazendo diferença na vida deles, seja pelo ensino ou pelo pequeno bolinho que adoça seus dias difíceis.

_ Ana? Não precisava trazer nada! Seus pais realmente não se importam em você trazer coisas da confeitaria?

_ Eles não se importam dona Jô, pelo contrário ficam felizes em poder ajudar.

Minto mais uma vez, pois meus pais não sabem, apenas a cozinheira gentil que me ajuda a esconder o roubo dos bolinhos.

_ Sendo assim, agradeça a eles por mim!

_ Pode deixar! Bem eu vou indo, até amanhã!

Despeço-me das crianças indo em direção as ruas estreitas que levam a avenida principal, quero chegar logo em casa, jantar e me trancafiar na biblioteca nos fundos da casa.

Entretanto, meu plano logo se mostra impraticável, pois Leandro está sentado ao lado de minha mãe na mesa de jantar. E levanta assim que me vê.

_ Ana! Encontrei sua mãe no centro hoje. Ela convidou-me para o jantar.

Leandro é realmente muito bonito. Gostei do seu modo gentil de primeira.

Então a comida começa a ser servida, mamãe e papai monopolizam a conversa com Leandro, melhor assim, concentro-me apenas em comer. E como atitude previsível, ela sugere um passeio noturno no jardim de casa, entre eu e o nosso convidado. Seguimos para fora, mas logo sento num banco e ele faz o mesmo. Ainda lembro da primeira vez que o vi, fui com meus pais ao sítio de seus avós, anos atrás. Ficamos amigos e passei a ir com mais frequência, sua avó adorava as visitas, dizia que era bom uma presença feminina além da sua ali e seu avô sempre colhia as frutas mais doces e me dava numa pequena cesta para levar para casa.

Um ano depois começamos a namorar. Tudo ia muito bem, até semana passada.

_ Eu trouxe geleia, minha vó fez hoje de manhã, sua mãe guardou. Espero que goste e por favor converse comigo dessa vez.

_ Obrigada e agradeça sua avó por mim. Conversar? Mas, eu já falamos a respeito disso. Você não deveria ter partido para violência com o rapaz daquela maneira. 

_  Você tem razão eu fui impulsivo e peço desculpas.

_ Não sei não....

_ Eu prometo que mesmo que a raiva me corroa por dentro não vou te envergonhar novamente.

Leandro saiu no braço com o rapaz da floricultura. O motivo? Uma cantada boba escrita em um bilhete escondido dentro do buquê que comprei. Só percebi quando sai da loja e o mostrei. Ele com raiva voltou e bateu no rapaz.

Não gostei dele ter perdido o controle e partido para a violência. Não gosto desse tipo de cara, aceitei seu pedido de namoro ano passado justamente por conta da sua gentileza. Além disso, ele apoia o meu trabalho na escola ao contrário dos meus pais. 

_ Não é uma questão de vexame. Você foi violento sem justificativa, um bilhete não é uma desculpa para bater em alguém. Uma conversa resolveria.

_ Eu entendo, até passei na floricultura para me desculpar. 

_ Tudo bem, mas se isso acontecer de novo a gente termina de vez. 

Depois de um tempo ele foi embora com a promessa de que eu iria no sítio amanhã.

Um amor com limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora