28 de outubro de 1924.
Liverpool.
Querido,
Nunca sonhei com você.
Nunca almejei você.
Até a noite em que, na saída do teatro provincial, o luar, única coisa que adorávamos em conjunto, nos preencheu.
Quiçá tenha percebido ali a flama contida — que mais tarde não passaria de um vislumbre.
Qual seu nome, Macca?
Você relatou, durante a hospedagem em meu seio, que me amava. Então, por que se lançou ao de outro?
O que garantia a veracidade de suas promessas?
O que garantia que sua voz tenra desejava, de fato, o tocar de meus lábios?
O que garantia a sua autenticidade?
Nada era prova do seu desejo por mim, da sua necessidade.
Os seus olhos, sinônimos de compreensão, transmudaram-se em meu maior pavor.
Hoje, percebo que a eternidade é uma utopia — por mais que a sua repetição incessante me comovesse, era inalcançável.
Então, por quê?
Por que permitir a penetração da linha do destino profundamente em nossas vidas e quebrá-la após?
A ausência de comiseração.
A ausência de empatia.
Para quê?
Na máquina de escrever, todos os romances escritos para você permanecerão até o irrefutável fim.
Todos os atos foram utilizados de falcatrua?
Sua ida repentina era aguardada por mim de alguma maneira.
Nada prendia o seu amor ao meu.
O seu amor...
Existia amor?
Era racional e justificável.
Não, não havia amor.
Qual seu nome, Paul?
Passei a desconhecê-lo.
Cheguei a conhecer?
As bobagens de amor estão impregnadas por cada canto de nossa casa.
Isso me destrói.
Gostaria de percorrer as montanhas esverdeadas uma última vez, ou sentir sua chegada em meu colo enquanto lia na poltrona, ou analisar a sua face nacarada e bem desenhada depois do contato com o sol.
Oh, Paulie, se o retornar fosse realizado, nunca o soltaria: lançaria-me no seus braços e beijaria-lhe a boca, mostraria-lhe o precisar latente em mim.
A probabilidade de uma nova colheita no meu jardim tomado de sal é nula, mas há esperança.
Isso é um apelo: volte para a alacridade do meu âmago.
Volte para que as gotículas de chuva possam ser apreciadas e a areia da praia sentida.
Nosso travesseiro clama pelo cheiro do seu cabelo; meus lábios imploram pelo sabor dos seus.
Entretanto, se isso não for possível — como bem o sei —, seja cônscio que serei
Sempre seu,
John Lennon.
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mccartney | mclennon.
FanfictionOnde John Lennon escreve uma carta para Paul Mccartney. [oneshot].