Para além das tolas vontades

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Para além das tolas vontades

por Lilian Kate Mazaki



Tiago Siqueira era um jovem e promissor advogado. Trabalhava nove horas por dia no escritório montado por seu pai, a mais de vinte anos. Seus ternos estavam sempre alinhados e sua mesa mantinha-se limpa e organizada. Seus arquivos digitais e físicos eram os mais bem estruturados do escritório e sua secretária era a mais jovem entre as três que serviam aos atuais seis advogados da associação. Sempre sério e observador em ambiente de trabalho era também um homem saudável, praticante amador de tênis ao qual se dedicava pelo menos em três ocasiões da semana. Seu pai, falecido a alguns anos, sentiria orgulho dele, tinha certeza. Um profissional competente que nos fins de semana visitava a mãe e irmã no interior.

Um homem perfeito, ou quase.

A grande frustração de Tiago era a vida amorosa. Depois de uma juventude cheia de idas e vindas ele enfim havia se apaixonado e vivido o amor, aos vinte e dois anos. Uma mulher inteligente e de bom gosto, bela e gentil que o encantara de todas as formas que é possível fazer a um homem. O advogado planejou pedí-la em casamento, mesmo que eles mal tivesse completado um ano de namoro. Para ele não haviam motivos para esperar pois não seria possível encontrar tal sentimento de admiração novamente por outro alguém. Porém isso não dependia apenas da sua vontade.

Clarisse recusara seu pedido de casamento. Mesmo ele tendo se preocupado em levá-la ao restaurante mais caro e romântico da cidade, pedido o melhor vinho e escolhido a mesa mais discreta. Ela não apenas recusara como também rompera o relacionamento deles na sequência.

Tiago jamais esquecera o momento. Clarisse falara qualquer coisa que soara como um “não é você, mas eu não estou pronta para isso”, levantara e dissera “melhor pararmos com isso por aqui” e saira sem dizer mais nada. Não havia sequer lamentação nos olhos daquela que ele já considerava o grande amor da sua vida.

Mesmo que já tivesse passado quase três anos desde aquela noite de fracasso ele ainda se perguntava onde afinal havia errado. Seria sua culpa que as coisas tivessem terminado daquela maneira tão abrupta?

― Tiago? Você tá dormindo, cara? ― chamou uma voz distante. ― Cara?

Tiago despertou das suas lembranças. Levou alguns segundos para reconhecer o barzinho e também o homem sentado no banco do outro lado da mesinha de madeira. Ricardo o observava com uma expressão perplexa:

― Ah, desculpa. ― disse ele finalmente. Só então suas lembranças de ter chamado o antigo conhecido para tomar umas cervejas. ― Eu acabo ficando meio distante quando lembro desse assunto.

― Se você fica mal quando pensa no que aconteceu, por que me chamou aqui para falar da Clarisse de novo? ― perguntou Ricardo, servindo o copo já vazio do advogado. Aquela era apenas a segunda cerveja que tomavam.

― É que eu não consigo esquecer! Eu preciso entender para conseguir superar! ― exclamou Tiago, pegando o copo e bebendo todo o conteúdo de uma só vez. Ricardo suspirou e o serviu de novo antes de pegar seu próprio copo.

Clarisse e AlexOnde histórias criam vida. Descubra agora