São três horas da manhã. A única luz que reina no quarto é a do incenso aceso, do aroma preferido de Anna: citronela. Ainda que fraca, ilumina uma pequena mecha de seus cabelos loiros caindo sobre suas costas nuas. Ray observa com atenção a fumaça exalada do aromatizador sendo consumido pelo fogo com a mão sobre a cabeça da parceira, apoiada levemente em cima de seu peitoral.
Silêncio. A única coisa que os dois amantes escutam é o som de uma cigarra, típica de verão, além de suas próprias respirações. Conectadas, como uma só. Não que fosse uma coisa ruim. Isso era bom. Não fazer mais nada, além de sentir sua própria harmonia e cumplicidade.
- Como consegue gostar disso? - Ray pergunta com sua voz mansa, suave, sem quebrar o clima do dormitório.
- Do que? - Anna nem abre os olhos. Na verdade, ela já sabe do que se trata. Está preocupada apenas em sentir o contato suave e quente dos dois, que ficaria marcado em suas lembranças por dias.
- Disso. - Aponta com o queixo, mesmo que ela não esteja vendo.
- Ora, você também gosta.
- Não desse aí. É muito forte.
Ela abre os olhos e um pequeno sorriso, mudando de posição na pequena cama de casal. Permanece com a cabeça apoiada nele, mas de um jeito que possam se olhar diretamente.
- Falou o cara que fuma um maço de cigarros por dia.
- Eu tô parando, sabe. Agora, no máximo 2 ou 3 por dia.
- No fundo, você gosta sim, só nao admite.
- Gosto é de foder você. Quando estamos bem agitados. Como agora a pou-
- I-idiota! - suas bochechas coram de leve, e ela faz um bico. - Pensei que íamos ter uma conversa normal e fofa.
- Você quer fofura? - diz ele com um sorriso de canto de boca e um tom de ironia na voz. - Você é muito preciosa pra mim, minha coroa de fogo... Meu primeiro e único amor...
- Ah, agora quer ser romântico?
- Eu sou romântico. Muito. - com os olhos nos dela, ajeita a franja com a mão em um movimento sensual. - Foi por isso que você se apaixonou por mim.
- Ah, sim. - ela revira os olhos, sorrindo bobo. - Super romântico falando pra mim a declaração do Norman pra Emma no pedido oficial de namoro.
- Porra, como você sabe?
- Eu gravei e editei, duh. Tive que rever umas trezentas vezes.
- Não corta o meu barato...
Os dois começam a rir. Ele se senta e a pega em seus braços, cobrindo-a de beijos por todos os lugares. Quando ele finalmente para, os dois se encaram. A mão de Ray segura o pescoço de Anna, cujas mãos estão no rosto dele.
De novo, aquele silêncio. É nesses momentos que eles se entendem perfeitamente. Nada mais importa, além de sua união. Eles se aproximam lentamente e beijam-se com paixão por longos instantes, que pareciam intermináveis para o casal. O contraste da doçura de Anna com toda a fogosidade de Ray os fazem completos. Se esquecem do mundo ao seu redor.
Para a sua infelicidade, um pequeno incidente acontece do outro lado da cidade, longe dali, mas que mesmo assim atrapalha os dois. O celular de Ray começa a tocar, e quando ele olha o visor: Norman. A essa hora da madrugada, boa coisa não devia ser. Anna deixa o colo aconchegante e senta-se ao seu lado, entrelaçando suas mãos por debaixo do cobertor.
- Manda, albino. O que foi dessa vez? - seu leve tom de raiva anuncia que havia sido interrompido.
- B-bom, é que... - Norman fala atrapalhado. Sabia que tinha estragado alguma coisa. - Você tá na Anna, né?
- Sim, vim jantar aqui. Mas não se preocupe, o prato principal eu já comi...
Ele olha pra ela com a cabeça inclinada e dá uma piscadinha. Ela nada faz além de revirar os olhos. Já está acostumada com as piadas ridículas do namorado.
- Ah, haha, que bom... - ele claramente fica sem graça. Não é tão atirado quanto Ray. Pelo menos não quando está em público.
- Fala logo! - agora ele está irritado.
- Eu esqueci as minhas chaves! P-pode vir abrir pra mim?
- Porra, seu cabeçudo! Esqueceu na Emma? Volte lá e pegue!
- Não posso, ela vai me matar!
- Quem quer te matar sou eu!
Anna percebe o descontentamento de Ray, e decide ajudar o amigo.
- Vá. - sussura baixinho. - Pode ir ajudá-lo.
- Tem certeza? - ele tapa o microfone do celular para Norman nao ouvi-los. - Eu queria ficar com você...
- Temos o verão todo pra isso. Ele precisa de você agora.
- Tsc... Tá. - volta ao telefone. - Me espere aí na frente.
Ele desliga e dá um longo suspiro. Planejava em silêncio como matar Norman. Instantes depois, se levanta para procurar suas roupas espalhadas pelo quarto. Anna o observa atentamente, admirando seu belo físico. Vai até o seu armário para pegar um moletom e o veste, sentando-se na beirada da cama, onde Ray calça seu coturno preto, para ficar ao seu lado uma última vez. Se olham profundamente. Despedindo-se com um rápido beijo no pescoço, ele fala:
- Volto amanhã. Prometo compensar você.
- Tudo bem. Vou te esperar. Cuidado na estrada.
Ele assente com a cabeça e sai do quarto, deixando-a sozinha. Quando ouve, do andar de baixo, a porta se fechar, vai até a janela para vê-lo partir. Ao subir na moto, olha mais alguma coisa em seu telefone e o guarda no bolso do grande moletom preto, o qual Anna adorava usar para se proteger do frio nas noites geladas em que saiam com seus amigos. Aos poucos, sua silhueta desaparece noite adentro.
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Esse foi o one shot, espero que tenham gostado. Queria saber a opinião de vocês, escrevam aí nos comentários ou mandem no meu twitter, @senjuarabella. Me sigam também, eu aviso caso for postar mais alguma coisa.
Se por acaso o feedback for bom eu talvez continue a história, já tenho umas ideias. Também já tenho outra Noremma que eu gosto muito, quem sabe algum dia eu poste.
Obrigada por ler!
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One shot Rayanna
FanfictionO que os namorados fazem enquanto não são interrompidos? Era o que Ray e Anna se perguntavam antes de descobrir as maravilhas que aconteciam quando ficavam um tempo a sós. One shot rayanna.