LINHA DO TEMPO

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Em algum momento da minha infância eu me recordo de escutar as palavras "Viagem no tempo" e naquela época eu não entendia muito bem o porquê de alguém querer voltar para o passado.

Hoje a percepção que tenho é bastante diferente em relação a isso, em geral as pessoas com certeza não pensariam duas vezes para voltar no tempo. Imagine só você pode rever um familiar que já faleceu, ou até mesmo poder impedir a morte de alguém, ou algum acidente? Seria no mínimo impressionante, eu mesma iria tentar tirar na loteria e viver um pouquinho os 80's e cá entre nós, a música era incrível.

Talvez eu pudesse impedir as guerras, ou vazamentos químicos, ou os desastres que o ser humano causa, acrescentando um milhão de coisas ruins que acontecem diariamente, mas se eu alterasse a linha do tempo, nada poderia garantir que coisas piores poderiam acontecer, talvez eu nem existisse e até que sou feliz por existir.

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Quando chove muito a minha única vontade é de me esconder debaixo das cobertas e ficar lá, sentindo o vento gelado refrescando os meus pés que eu deixo do lado de fora, porquê só assim para manter o equilíbrio da temperatura ideal.

Porém hoje não foi um dia em que fiquei debaixo das cobertas me escondendo das obrigações, ao contrário disso estou folheando uma revista velha, com as folhas desgastadas que sugere opções para o futuro de meninos e meninas, é cômico e trágico a forma em o colunista aborda profissões importantes e de alto cargo para meninos aventureiros e entrega de bandeja a profissão de mãe e dona do lar para meninas.

Graças ao feminismo meu futuro está salvo hoje em dia.

Peguei meu celular pra olhar as mensagens recebidas e percebi que o assunto do momento entre meus amigos é sobre o último ano no colégio, que na realidade é daqui a um ano, mas as pessoas se desesperam demais por causa da ansiedade e não sou eu quem vai criticar o mal do século.

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Desde que me mudei para Portugal com os meus pais para concluir o ensino médio, enquanto eles realizam um sonho de viver temporariamente um cidade onde a maioria é da mesma religião eu me sinto muito pressionada, é como se eu estivesse dentro de uma caixa com cadeado.

Sou de família mórmon desde que me entendo por gente, todo domingo vamos a igreja e vivemos bela família exemplar. Meu irmão está fazendo missão em Recife, só retorna daqui um ano e 6 meses. Toda a família é batizada e selada na igreja, meus pais não poderiam estar mais orgulhosos e felizes.

Além disso eu participo do coral da ORM e estamos sempre ensaiando, ou nos apresentando em eventos sociais. Eu admito que fazer parte disso, mesmo sendo algo religioso é agradável.

A mamãe é formada em Design então é menos complicado conseguir um emprego na sua área em outro país, ela sempre foi do tipo muito sensível. Uma vez ela chorou por que ficou emocionada quando ouviu uma criança tocando uma bateria de plástico no show de talentos no colégio em que eu estudo. Até hoje eu lembro dos ruídos produzidos por aquele garoto, eu nem se quer conhecia a criança, mas certamente não queria ser a mãe dela.

As vezes a mamãe exagera em reações inesperadas, mas eu já me acostumei, quando eu vejo alguém com o rosto vermelho igual uma lagosta, praticamente da cor de seus cabelos ruivos eu já sei que vem o momento do drama, mas como eu disse, eu já me acostumei.

O papai era desempregado no Brasil, mas hoje ele trabalha em uma pizzaria, e bons tempos eu devo dizer, sempre tem pizza em casa. Porém teve uma época que eu não conseguia nem ouvir a palavra pizza sem querer vomitar na mesma hora. Ele é um bom pai, mas não me lembro de nenhuma conversa familiar que não envolva a religião no meio e seja recente.

As Voltas Que A Vida DáOnde histórias criam vida. Descubra agora