Capítulo Único

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Pela janela, Andrei observava a cidade ao longe, onde a vida acelerada acontecia em contraste ao seu novo cotidiano.

Após ser intimado por Barbara Donoghue, sua chefe, a se afastar temporariamente de suas funções como detetive depois de o estresse afetar sua saúde; resolvera retornar para a casa da família. Sua rotina há quase quinze dias era sair apenas para sua corrida matinal.

Quanto tempo havia se passado desde que saíra dali para a faculdade? Vivian, sua única irmã, não era mais a mesma menina irritante, embora a mãe, Louise, continuasse tão interessada por livros quanto sempre fora, e a família estava um pouco maior.

O membro mais novo dos Walsh, também em suas férias, mal tirava a atenção do videogame que tentava zerar há alguns dias.

Sorrindo, Andrei pegou o jornal deixado em cima da bancada e caminhou até a varanda dos fundos. Antes, seu lugar preferido era a mesa de trabalho, coberta de casos criminais para resolver; mas ali via-se absorto pelo quintal coberto de verde, árvores frondosas e um vento agradável que refrescava o início da manhã.

Precisava admitir que, por mais que não quisesse aquilo no começo, o descanso estava lhe fazendo bem. Sentira os pensamentos desacelerando, uma tranquilidade até então desconhecida o invadira e as dores de cabeça — que ele gostava de atribuir à tensão — desapareceram até quase sumir por completo.

Sob os cuidados da mãe e da irmã, ausentes naquele momento para as compras do dia, passara a dormir e comer melhor. As olheiras tinham diminuído e se tornara mais fácil manter o foco, a concentração e o bom humor.

Enquanto percorria as linhas com os olhos, vez por outra ouvia os pássaros e a vizinhança: música, um ou outro rádio ou televisão transmitindo algum programa matutino qualquer, carros e motos passando na rua, conversas e... um grito.

Levantou a cabeça ao captar o som incomum. Franziu o cenho. Fechou o jornal.

Estava começando a questionar se não estava delirando quando ouviu de novo, ainda mais perto. Na casa ao lado.

— Socorro!

Como se acionado por um mecanismo, ele levantou-se e voltou para dentro, passando por Josh, indo em direção ao quarto.

— O que foi, tio?

Em silêncio, pegou a pistola na primeira gaveta do criado-mudo ao lado da cama — sempre a mantinha próxima, por precaução — e respondeu:

— Está tudo bem. Mantenha a calma, fique aqui e tranque a porta assim que eu sair, ok?

Atônito, o menino assentiu e Andrei se precipitou para a porta de entrada, ganhando a rua. Identificou-se, afastando os curiosos que já começavam a se reunir, e gritou por cima do ombro para alguém chamar a polícia, uma vez que precisaria de reforços de quem estivesse em serviço e pudesse, de fato, agir.

A dona da casa, Rosamund, gritou mais uma vez e depois o silêncio voltou ao reinar. Porém não foi isso que o fez parar no meio do caminho.

Por uma das janelas laterais, viu Rosamund caída e acima dela uma figura de moletom cinza desferindo mais uma facada em seu abdome, já coberto de sangue. Não teve tempo de tomar qualquer providência, pois, para seu terror, a assassina levantou os olhos.

Encararam-se por não mais que um segundo ou dois antes que ela desse meia volta e saísse correndo pelos fundos.

Por reflexo, começou a persegui-la logo após gritar para chamarem também uma ambulância. Sabia que ali atrás havia apenas um pequeno bosque e um declive acentuado, no qual um desavisado poderia encontrar a morte; então não seria muito difícil alcançá-la.

A Casa ao Lado [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora