de você, para poder chamar seu nome

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Perdera a conta de quantas vezes havia acordado daquela forma. Suando frio e sentindo no peito a dor de perder alguém, mesmo que tudo se resumisse a pesadelos.

Tinha se tornado tão frequente que Nakahara as vezes evitava dormir, pois os sonhos eram como um jogo de roleta russa. Ele nunca sabia se seria um bom ou um ruim, mas sempre estavam ali.

Naquela noite, foi como se ele apertasse o gatilho e uma bala lhe acertasse a cabeça. Odiava quando era aquele sonho, ou melhor: pesadelo, em específico.

Era tudo tão real que sentia todos os sentimentos em si e quando acordava, demorava horas para se recompor.

Levantou, indo lavar o rosto para tentar afastar aquilo dos pensamentos. Enquanto secava o rosto, tentava entender o significado dos sonhos e por que carregavam sempre o mesmo rosto.

"— Hey, se você se atrasar de novo vão nos descobrir. E se nos descobrirem.. Sabe o que acontece com gente como nós."

Ouvia a voz daquele homem ressoar em seus ouvidos ainda, era assim que esse pesadelo começava todas as vezes e dali, ia de mal a pior. A descoberta, a punição, era tudo ruim demais pra um garoto de dezoito anos lidar tranquilamente.

Lá fora, as nuvens negras cobriam o céu, ainda ia dar uma da tarde mas estava tudo escuro. Uma tempestade se aproximava.

A família Nakahara morava um pouco mais afastada do centro, num lugar mais calmo e arborizado, perto duma estrada de terra. Então, quando chovia, podia se ter certeza de que teria lama para todo lado.

— Merda.. Logo hoje.

Resmungou para o nada. Quando o pesadelo lhe vinha, Chuuya gostava de sair para espairecer, mas hoje não sabia quando o céu iria desabar sob sua cabeça e, sem opções, ficou ali.

Fez café, o mais forte possível. Ficava horrível, em sua concepção, mas era um de seus jeitos de ficar acordado por mais tempo.

— Chuuya, está tomando esse negócio que mais parece petróleo outra vez?

Ouviu a voz de sua mãe, que se aprontava para sair. Suas feições eram sempre gentis e se via constantemente preocupada com o filho recentemente.

— Sim, mãe. Não esqueça o guarda chuva.

— Tudo bem, querido. Tem chá na geladeira, talvez devesse tomar ao invés.. Disso aí.

Ela perguntara antes se o filho estava com algum problema, mas depois de tantas negações fervorosas, desistiu.
Com um "tenha um bom dia" e um beijo jogador ao ar, saiu. Levando consigo o único guarda chuva restante naquela casa.

"— Já ouviu falar que cada flor tem um significado?

Ele perguntou, deitado na grama e ainda vestindo aquele sobretudo negro, que mais parecia uma mortalha. Vestia-o mesmo que fizesse um calor sufocante naquele dia. 

— Minha avó falava essas coisas..

Ele riu, os cabelos já grandes demais estavam jogados-lhe sobre o rosto. Mas o sorriso costumeiro estava ali, impossível para Chuuya deixar passar batido. Amava aquele sorriso mais do que tudo.

— Errada ela não estava.

De um bolso interno daquele casacão, ele tirou duas tulipas, uma vermelha e uma amarela.

— São para você, Chuuya.

O moreno disse, a voz um tanto triste. Assim como a expressão que caiu sobre seu rosto.

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