Lua Plena

17 1 3
                                        

Em São Luís era noite quase início de madrugada quando Irina acordava de um sonho perturbador (...).

Estava suada dos pés à cabeça. Seu corpo pingava suor em seus lençóis de algodão egípcio.

Ela levantou como quem levanta do túmulo - após ser considerada morta - levantou-se no susto. Sua respiração era cansada e ofegante - parecia travar uma batalha com seu inconsciente para justificar aquele sonho macabro - tinha sido de fato o pior dos pesadelos.

Ela se via morta - em seu próprio funeral e todos a sua volta pareciam sorrir como se divertissem com tal momento sinistro.

Foi então, que surge na porta de seu apartamento um belo homem - másculo, moreno, parecia desenhado à mão detalhe a detalhe. Seu corpo mesmo vestido era um convite escandaloso ao prazer - e como era bem vestido! Lá estava ele um Adônis vestido de branco (camisa gola "V" manga longa e bermuda de linho branca - usava uma engenhosa sandália de couro preta - que se trançava belamente sobre seu peito do pé.

- Não podia ser! - Mas era! - A consciência morta de Irina não podia negar - e por mais estranho que tudo aquilo poderia parecer Paolo era a única imagem que fazia algum sentido.

Ele entrou mudo - e ao sentir sua presença as outras pessoas da sala emudeceram e tudo pareceu ficar em câmera lenta.

Ele se aproximou do caixão onde o corpo de Irina jazia inerte e olhou-a atentamente dos pés à cabeça. Haviam vestido a moça como quem veste uma freira - até seus belos cabelos castanhos estavam cobertos por um lenço rosa claríssimo. O vestido que usava além de longo era manga comprida que lhe cobria dos pulsos aos calcanhares.

Paolo então se inclinou e a beijou na testa em um sinal cortes de respeito e afeto. Depois se demorou a analisar seu belo rosto - as linhas delicadas e comunicativas de sua boca chamaram mais uma vez por sua atenção e ele não poderia lhe negar um último beijo.

E assim o fez. Seus lábios se encontraram mais uma vez - e parecia que nunca tinham se separado.

Da sala quase saiu faíscas de seu público perplexo com a cena. Não se parecia tanto com a Bela Adormecida, pois a moça não acordava de seu sono profundo. Muito menos Romeu e Julieta - já que os dois de fato nunca foram um casal. Mais o desejo de Paolo era evidente e se pudesse se transfigurar em algum herói épico seria Orfeu para resgatar sua Eurídice das garras da morte.

Então ele se afastou e se colocou ereto ainda a admirar sua bela apaixonada. Ao levantar sua mão esquerda colocou entre aos mãos de Irina o mais belo e vivido botão de rosa vermelha e pouco desabrochado.

A admirou uma última vez e seguiu seu caminho porta a fora - sem emitir um som ou dizer uma palavra - foi embora lindo, encantador, misterioso, e ainda sozinho e solitário.

Neste instante do sonho-pesadelo que Irina acordou aturdida com todo aquele cenário. Mais ela não tinha certeza do que a incomodava mais - o fato de estar morta ou o fato de Paolo ir embora mais uma vez sem ter dado a oportunidade a ela de uma segunda chance.

Sua camisola de seda branca estava ensopada. Logo, ela resolveu que para voltar a dormir precisava de um banho quente lençóis limpos e secos e é claro uma camisola limpa.

Tomou um banho quente, trocou os lençóis de cama e resolveu dormir mesmo sem roupa alguma. Afinal morava sozinha. Que mal teria nisso? E foi o que fez. E a receita deu certo. Dormiu tranquilamente o que restou daquela madrugada e ao acordar pela manhã ás 7:00 horas em ponto foi ao trabalho na secretaria de cultura do estado.

Lua Plena - O ContoWhere stories live. Discover now