Caminhos Traçados

Capítulo 1

3 meses antes

Dayana

Morar no Complexo do Alemão não é tão ruim assim, como todos imaginam. Tem os momentos difíceis? Tem! Mas a gente tenta levar com amor, que da tudo certo.

Finalmente estou prestes a concluir meu ensino médio, foi uma barra pra chegar até aqui, muitas meninas da minha idade aqui do Cpx acabam desistindo, e não se formando. Mas eu quero ser diferente, quero dar orgulho pra mim mesma.

- Até agora eu não acredito que você não vai vir pra formatura, é de graça porra - Ester

- Amiga, na boa, pra mim não vai ser legal, sua família vai vir pra te prestigiar, na minha não tem ninguém - Dayana

- Seu pai é um filho da puta mesmo - Ester

- Está a dois dias sem aparecer em casa, não sei se choro ou se agradeço - Dayana

- Agradeça, agradeça muito - Ester

Minha mãe morreu quando eu tinha apenas 3 anos de idade, infelizmente não me lembro muito bem dela. Meu pai que deveria cuidar e me proteger, há 3 anos está entregue as drogas, ele é pedreiro, a única pessoa que sustenta nossa casa, mas ultimamente ele não está indo para as obras, com isso falta coisas dentro de casa.

Finalmente em casa! Pensei depois de um dia cansativo na escola, última semana de aula tá sendo braba.

Abri os armários a procura de algo pra preparar agora no almoço, e pra minha surpresa, não tem absolutamente nada, nada de arroz, nada de feijão, nada de macarrão, nada de nada mesmo. Suspirei

Não posso ficar todos os dias incomodando as pessoas, to comendo na casa da Ester, quase todos os dias.

Peguei meu celular e continuei a subir o morro, rumo a boca, a alternativa seria pegar empréstimo com o Gringo.

- Veio trazer o aluguel? - Foi a primeira coisa que o Gringo me perguntou assim que cheguei

- Boa Tarde pra você também - Sorri debochada

- Bora logo Dayana, solta a voz?? - Gringo

- Como está o Flávio? - Me referia ao filho do mesmo, menino lindo, mora só com o Gringo porque a mãe, que era minha amiga, saiu fugida do morro.

- Está bem, meu moleque gosta de você - Gringo brilhava os olhos, sempre que falava do filho

- Também gosto dele - suspirei - Meu pai tá dois dias sem botar o pé em casa, estou passando necessidades, eu preciso de um dinheiro emprestado, só pra mim comprar o básico, assim que ele aparece eu te devolvo - Ele escutava tudo atentamente

- Almoça com a minha cria hoje, ele vai gostar - Gringo

- Gringo, a questão não é só almoço, eu preciso comprar umas coisas - Dayana

- Eu sei, vou te ajudar, não vou deixar você passar fome por causa de um filho da puta - Gringo

- Muito obrigada, muito obrigada mesmo Henrique - Eu apertava a mão dele