Um Encontro no Beco Diagonal

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        A tarde de 17 de julho chegara rapidamente; Sirius ficara toda a manhã em seu quarto, evitando o irmão e a mãe no café da manhã, não que isso fizesse alguma diferença. Ele estava ansioso demais, excitado demais com sua ida à Hogwarts. Esperava mais do que tudo, embora em segredo, que o Chapéu Seletor o colocasse na Gryffindor. Mesmo sabendo o desgosto que isso traria à sua família, ou principalmente levando isso em consideração, era uma das coisas que mais queria.
        Seu relógioantado — um relógio encantando que gritava apenas as horas que seu dono queria saber - batera ao meio-dia. Sirius pegara a chave do cofre de Gringotes e a colocara dentro de sua capa verde-esmeralda. Descera as escadas de dois em dois degraus e chegara até a sala de estar, onde poderia fazer uma viagem através do pó de flu, saindo de sua lareira e caindo em alguma lareira no Beco Diagonal. Não era a primeira vez de Sirius numa viagem de Pó de Flu, então entrar na lareira, jogar as cinzas e dizer as palavras fora tão fácil quanto passar mais uma vez pelo enjoo que sentia ao ser engolido pelas chamas.
        Sirius caíra na lareira do Caldeirão Furado, o bar e estadia de bruxos que, naquele momento, encontrava-se vazio, a não ser por um homem estranho e curvado que ficava no bar. Sirius se apressou para sair do lugar e então entrou no beco de fato.
        O lugar possuía, de certa forma, um grande número de transeuntes. Algumas mulheres altas e finas dirigiam-se a Madame Malkin, a loja de roupas onde Sirius sabia que deveria comprar seu uniforme. Uns jovens, pouco mais velhos que Sirius, dirigiam-se a Artigos de Qualidade para Quadribol: a loja que vendia vassouras, livros e qualquer produto relacionado ao maior jogo do mundo bruxo, o quadribol. Mas o maior fluxo de pessoas ia exatamente para o lugar aonde o jovem Black deveria ir: Gringotes, o banco dos bruxos. 

Sirius parara em frente ao grande edifício branco com portas de bronze que era o banco dos bruxos. Cumprimentara o duende vestido de vermelho que guardava a entrada e dera um passo para dentro do lugar. Já ouvira Orion falar sobre Gringotes antes, mas vendo tudo de tão perto, ficara impressionado.
        Duas fileiras de duendes, uma a cada lado do Banco, separadas pelo caminho onde os bruxos passavam, carimbava papéis ou trocava dinheiro muggle por galeões ou sicles. Lá no fundo, havia um tipo de pedestal, onde um velho duende, com nariz e orelhas pontudas, ficava. Dois bruxos passaram à frente até que chegou a vez de Sirius. 

        — O cofre dos Black. — O menino dissera firmemente, passando a chave para o velho duende, que a pegara com suas mãos enrugadas de unhas enormes, pretas e afiadas. 

        — Número? — O duende perguntara desafiador, erguendo uma sobrancelha para o jovem rapaz, que esquecera de perguntar à Walburga o número do cofre. 

        — Eu... eu não sei... É o cofre dos Black. — Fora só o que Sirius soubera dizer. 

        O duende pareceu tomar aquilo de forma pessoal, talvez o histórico familiar do menino não viesse ao seu favor quando se tratava de simpatia, mas, de certa forma, o duende parecia saber lidar com a arrogância e petulância que deveria achar que Sirius arrecadara de sua família. 

        — Venha comigo. — A criaturinha pegara a chave de vez e descera do pedestal, andando por um caminho logo atrás no Banco. Sirius dera a volta na mesinha e seguira o duende.  

        Não demorara muito tempo para pegar o que precisava: o cofre da família Black era muito longe, muito fundo no subterrâneo de Gringotes, assim como os das famílias mais ricas e puro-sangue do mundo dos bruxos. O duende abriu a porta para Sirius, deixando-o cara a cara com a sua fortuna em galeões, sicles, taças e joias. Sirius pegara um saco de pano de dentro de sua veste e colocara o máximo de galeões que conseguira, e então guardara novamente no mesmo lugar, de forma segura.
        Saíra do banco alegremente, deixando isso transparecer em seu rosto e em sua forma de andar. Ninguém diria que ele era filho de Walburga e Orion Black, já que naquele momento ele sorria mais do que seus pais poderiam querer sorrir a vida inteira.
        Todo esse excesso de animação em Sirius fez com que ele se esquecesse por uma pequena fração de segundo do motivo de estar lá e do fato de que haviam várias pessoas lá também, saindo de Gringotes ou se dirigindo para lá. Nessa pequena distração, ele acabou esbarrando com alguém. Ambos foram ao chão antes que ele pudesse ver quem. 

        — Ai, olhe por onde anda! — Exclamara um jovem menino de cabelos pretos rebeldes e óculos arredondado. 

        — Você que olhe! — Sirius levantou-se depressa e encarou o outro rapaz. 

        Tinha aparentemente a mesma idade que ele, e, Sirius percebeu, fazia compras da lista de Hogwarts. Derrubara tudo no chão na queda e ele se sentiu levemente envergonhado pela falta de educação e abaixou para ajudá-lo. 

        — Não preciso de ajuda. — Disse secamente o outro rapaz, levantando-se quase de um salto e pegando três livros e um caldeirão, amarrotando-os nos braços. 

        — Deixe de ser arrogante, estou tentando te ajudar. — Sirius tentou pegar o caldeirão da mão do menino, que relutou e deixou novamente os materiais caírem no chão. 

        — Olha só o que você fez! Vá embora. 

        Só nesse pequeno rebuliço, ambos os jovens conseguiram fazer com que metade das pessoas que passavam por ali naquele momento ficassem olhando para eles como se fossem muggles em Hogsmeade. 

        — Olhe... — Sirius começou a dizer — meu nome é Sirius Black. Qual o seu? 

        — James. — O menino disse, recuperando novamente os materiais. — James Potter. 

        Pela primeira vez desde o esbarrão dos dois, James parecia sorrir. Foi exatamente nesse momento que Sirius gostou dele, pois sorria ironicamente, não só com os lábios, com os olhos. Isso o fazia lembrar de alguém. Isso o lembrava de si mesmo.
        Sirius estendeu a mão para cumprimentá-lo, mas as mãos de James estavam cheias. Ao invés disso, James entregou-o o caldeirão. Sirius deu risada.

        O resto da tarde que se estendeu no Beco Diagonal foi bem interessante: Sirius e James conversaram sobre quadribol, sobre o início das aulas em Hogwarts dali pouco mais de um mês, sobre suas famílias e, quando Sirius disse que queria ser da Gryffindor justamente por ser um Black, ganhou toda a simpatia de James.
        Depois que ambos compraram tudo o que precisavam para as aulas e alguns artefatos da Zonko's, dirigiram-se juntos para o Caldeirão Furado. Antes de entrarem na lareira para seguirem caminhos diferentes, ambos trocaram pergaminhos com os respectivos endereços, assim poderiam escrever um ao outro. Afinal, Sirius sabia que assim que sua mãe visse que comprara algo da Zonko's, teria um ataque tão grande que Sirius não sobreviveria se não pudesse relatar a alguém. E quem melhor que um novo amigo sarcástico que poderia fazê-lo companhia em Hogwarts? 

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⏰ Última atualização: Jun 25, 2015 ⏰

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