Parte 1 - Capítulo 1

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PARTE I

§ Quem você é quando seus sonhos são destruídos? §

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Ellen

Nós tratamos a vida como um livro sendo escrito, sempre mencionamos que estamos prontos para virar a página, escrever um novo capítulo, mas nem sempre estamos inclinados a fazer isso acontecer, considero que quem está lendo o livro sobre minha vida, está tão entediado quanto eu nesta festa. Ao menos quem tem a o exemplar que conta desde o dia que nasci, até o exato momento, consiga formar uma linha do tempo sobre como minha vida desceu a ladeira, e como meu freio acabou quebrando no processo, ou talvez seja falta de manutenção. Ouvir dizer que é precisa de certa periodicidade em manutenções, acabamos de descobrir o que me fez quebrar a cara.

Apoio o queixo na mão, brincando com as gotículas que transpiraram do copo de vidro, a pessoa que está lendo ao livro da minha vida provavelmente está se questionando quando eu farei algo fantástico como sair da casa da minha mãe, encarar o mundo em seus tons de cinza, que nem sempre está definido em uma escala perfeita. Aposto que essa pessoa, está com os dedos cruzados para que eu possa ter energia para começar a viver, todos os sonhos que tracei, quando vou parar de dar desculpas.

Enquanto houver desculpas, haverão dias como amanhã. Não importa o que Pitty disse.

Sei que afirmei que estou tentando, caro leitor da minha vida, estou tentando. Hoje mesmo recebi a notícia que fui aprovada para dar aulas. É, consegui um emprego. Não o do meus sonhos, mas o que faz pagar as contas que estava na hora de serem assumidas por mim.

Sempre fui apaixonada por ler. Logo depois notei que não era apenas leitura, eram as palavras, significados, origens, tudo que fazia parte daquele mundo. Era o melhor momento do dia ir até o dicionário, depois a internet, depois fazer anotações e no final me orgulhar sobre aquilo.

Surpreendi, não foi, leitor? Parece que enfim, meu livro vai ter um novo capítulo. Serei professora.

― Então, a vaga é minha ― digo para Renata, que está com uma cara de paisagem, me encarando ― Meu presente de Natal foi um emprego. Minhas turmas serão com pré-adolescentes. Será legal.

Meu entusiasmo não é contagiante. Eu perdi esse brilho há um tempo.

— Vou agendar uma hora do meu dia para você reclamar em paz — Sempre esqueço o quanto Renata é dramática em níveis colossais — Aposto que esse emprego irá irritá-la.

― Não acredito que seja verdade ― repreendo com um olhar ― Gosto, Rê. Eu estudei para isso.

Fiz estágio obrigatório, mas não significa que realmente sou boa. A vida abriu o portão do fracasso, posso usá-los todo dia. Queria ser como a Miranda, preferia usar Prada.

― Pode confessar que queria estar arrumando as malas...

Suspende as palavras, disse que não poderíamos falar sobre minha carta de rejeição do mestrado.

― Nem sempre o que pensamos é aceitável dizer em voz alta ― lanço uma piscadela, tenho certeza que ela está resistindo em revirar os olhos ― Então, outra festa de Natal? Achei que estavam cansados dessas festas onde as pessoas apenas bebem e fingem que se importam.

Posso não ser mestre ainda, mas tenho doutorado em fingir que não vivo em um mar de decepções e desespero.

― Esse teatro é muito importante ― dá uma analisada no espaço ― Aqui tem alguns clientes em potenciais, isso é perfeito. ― seu sorriso se alarga sem motivo aparente ― Contei que sua mãe é a melhor chefe do mundo?

Encontro PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora