Naquele dia nada mais faria sentido se não houvesse a possibilidade de existir aquela parede azul. Sua cor era opaca e desgastada, o tempo no inverno não permitia a chegada de individualidades lá. O cômodo era antigo e isolado de tudo e todos, mas era um refúgio a ele.
Um garoto cheio de descrições, culpas e felicidades não esperava o que viria pela frente. Sua vida nunca havia sido fácil, nunca havia sido como ele merecia.
No mesmo horário, ele tirava seus punhos para fora da camisa de linho e pensava se a outra vida seria mais gratificante que a sua. Nunca lhe faltara certezas, mas sempre lhe faltara coragem.
Ele, com mais prontidão que nunca, decidiu que seria melhor para ele e para todos ao seu redor se sacrificar. Se preparou, rezou para aquele que acreditava e decidiu, em meio ao inverno, ir embora para a eternidade. Com tudo pronto: seu canivete ao lado e uma carta delicada escrita para aqueles que em algum instante sentiriam sua falta, se preparou para encaminhar-se a paz.
Encostado na parede azul, uma mensagem veio de supetão em seu celular: "Filho, você terá uma irmã e acredito fielmente que ela te dará muita felicidade e, se quiser, você pode sentar-se com ela na sua parede azul."
Com a certeza de ir embora, ele decidiu que ficar seria uma nova passagem ao amor e então, além de irmão, sua irmã teria tudo aquilo que ele jamais teve: atenção, carinho, compressão e um coração repleto de histórias para a doce garotinha que viria.