Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar,
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.
Eu era criança e ela era criança,
Neste reino de ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do Céu vieram
A ambos nós invejar.
E foi está razão por que, há muitos anos,
Neste reino de ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino de ao pé do mar.
E os anjos, menos felizes no Céu
Ainda a nós invejar...
Sim, foi essa razão (como sabem todos, Neste reino de ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.
Mas o nosso amor era mais que amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar
E nem os anjos do Céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.
Porque os lugares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas os ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'Estou deitado toda noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
Ao pé do murmúrio do mar.
_Uma badalada de Edgar Allan Poe.
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