Querida Lisi!
Estou me debulhando em lágrimas como a manteiga derretida que sou; Emanuelle me procurou durante a formatura para contar que iria fazer testes com uma gravadora que havia ouvido suas rimas.
Eu fiquei surpresa quando ela me contou que tudo o que eu falei em uma sala de aula, tudo o que eu havia me esforçado fez a diferença. Ela me falou que, cada vez que eu chegava na sala ela ficava com raiva porque eu tinha uma vida completamente segura e não fazia ideia do que eles estavam passando e isso parecia um insulto a cada um deles. Mas quando eu me adaptei a eles, tudo mudou.
Emanuelle me disse que, conforme as aulas iam passando, eu consegui fazer ela acreditar que era capaz de tudo o que quisesse. Como Machado, como Carolina, como os Racionais, como qualquer um deles. Tudo o que ela queria era um louco que acreditasse que era possível.
Me abraçou e foi "curtir a festa", mas voltou logo em seguida, dizendo que havia esquecido de contar que também havia comprado um livro e veio me mostrar: era um livrinho desses de bolso que dizia na capa "Memórias da casa velha". "Vou ver se o nego era bom mesmo" ela riu ao sair e me deixou toda emocionada ali.
Valeu à pena, Lisi, valeu muito à pena.
Com amor, Cassandra.
Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2019.
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Cartas para Lisi
RandomUma professora escreve cartas para a irmã sobre os desafios de trabalhar em uma periferia do Rio de Janeiro.