Silêncio...

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O único som que podia se ouvir, era o vento, que gritava para o nada e batia os galhos das árvores na janela de Timmy, que se encolhia cada vez mais por baixo de seus cobertores.

Estava sozinho, os pais haviam saído para um jantar romântico, e pensaram que aquela era uma boa oportunidade para o seu filho de doze anos passar sua primeira noite sozinho, afinal, ele já era um homenzinho.

Um estrondo foi ouvido, seguido de um clarão, era um raio que havia caído.
E então, o silêncio reinou. Muito mais arrebatador do que o barulho, porque afinal, quando se está tudo em silêncio, é que ouvimos...uma voz desconhecida, que nos faz pensar que alguém está a sussurrar o nosso nome; o rangido nas escadas mesmo não tendo ninguém subindo. O sentimento de estar sendo observado, o vulto que vemos pelo canto dos olhos. Mas naquela noite, amargamente fria e silenciosa, nenhum desses sons vieram, tudo estava calmo; levando o garoto a relaxar e quase dormir, foi quando seus cílios baterem duas vezes seguidas nas maças do rosto, que ele ouviu.

Arregalou os olhos, já novamente desperto, pensando ter ouvido errado. Esperou, e esperou...nada veio. Suspirou, a tensão deixando os ombros e o sono novamente presente. E então de novo. Ele ouviu.


TOC! TOC! TOC!

Três batidas, fortes e mais barulhentas do que deveriam. O medo o percorreu desde sua espinha até sua nuca, suas mãos suavam e a tensão voltara. O que faria, se perguntava. Sua mãe dissera que não deveria abrir a porta para estranhos.

Mas e se fosse seus pais, que haviam se esquecido da chave. Olhou o relógio em cima da mesinha de cabeceira hesitante, meia-noite em ponto. Respirou fundo, e num ímpeto de coragem, jogou os cobertores longe, sentado se na cama, os pés foram de encontro as suas pantufas dos Monstros SA em frente a sua cama, Timmy encarou sua porta, era de madeira e já estava gasta.


TOC! TOC! TOC!

Engolindo em seco, levantou se cautelosamente e andou até a porta, a mão ainda estava suada quando se dirigiu a maçaneta. Suspirou e abriu, diferente do que pensara, a porta não rangeu, apenas se abriu silenciosamente.
Lá fora, no corredor e andar de baixo, a escuridão jazia. Timmy percorreu todo o caminho até a porta o mais devagar e silenciosamente que podia. E quando chegou, pegou seu banquinho e o posicionou em frente a porta, olhando pelo olho mágico...mas não viu ninguém. Franziu o cenho, será que tudo aquilo não passava de uma peça que sua mente o pregara?

Deduziu que não, quando mais uma vez, as batidas foram ouvidas...mas elas viam da porta dos fundos. Seu coração voltou a acelerar tão ruidosamente, que temeu que quem quer que estivesse do outro lado, pudesse o ouvir. Ele sabia que não deveria ir. Mas por algum motivo, quando o ser humano esta em tais situações, não se pode recuar, mesmo que quisesse.

Então, com o último respingo de coragem que existia em seu corpo esguio e pálido, Timmy avançou, atravessando a sala e passando pelo corredor que dava a lavanderia. Aquela porta não tinha olho mágico. O silêncio nunca foi tão barulhento. O sangue percorrendo por suas veias, o coração indo e vindo, a sua respiração saindo e entrando, a pequena gota de suor escorrendo pela testa, as mãos formigando, seu piscar demorado.

Todo aquele silêncio foi quebrado, assim que o clique da porta ao ser aberta soou. Daí em diante, até pouco antes das três da manhã, a casa da família Blackwood esqueceu se do silêncio, porque ele não mais existiu ali.








Quando o senhor Greg e sua linda esposa Donna adentraram em casa, cheio de risinhos um com o outro, pelo jantar divertido que a muito não aproveitavam, a mãe resolveu dar um beijo de boa noite em seu filho. Enquanto subia as escadas, os saltos provocando um ruído ao se chocarem com a madeira, Donna pensava numa recompensa por seu menino ter se comportado tão bem. Talvez um novo videogame...No andar de cima, encontrou a porta de seu filho aberta, e a cama vazia. Estranhou...Foi até o banheiro do corredor, mas ele não estava. Checou seu quarto e quando viu a cama ainda feita e sem nenhum sinal de Timmy, se desesperou, os passos eram apressados ao voltarem para trás e descer as escadas.

-Greg...Não acho o Tim...- Sua fala morreu ao encontrar o marido estático em frente a entrada para a sala. Olhou a porta dos fundos, a mesma estava escancarada, o vaso que antes residia na mesa ao lado da mesma se encontrava no chão, a água toda derrama, o vaso espatifado e as tulipas azuis pisadas. Seus olhos, tão verdes quanto os do seu filho, se encheram de lágrimas. O coração acelerou.

Empurrou seu marido pro lado, e então o viu...Seu filhinho...Atirado no chão, seminu. Marcas vermelhas de dedos em seu pescoço de marfim, os olhos opacos, sem vida, arroxeados em baixo. Várias marcas no corpo, e um líquido branco em seu peitoral infantil.


-Não...- Sussurrou a mãe, deixando um grito ensurdecedor escapar. O marido não pode fazer muito, ainda estava em choque. Às vezes, é melhor se assustador por ruídos provocados pelo vento ou sua mente fantasiosa, do que estar sozinho no silêncio.





















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