/Quando a escuridão me consumiu/

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- Estou com um pouco de frio - sussurro assim que acordo depois de não sei quanto tempo, pela textura dos lençóis eu sabia que ainda estava no hospital, estico meu dedo e sinto o metal frio da proteção lateral da cama que me faz recuar rapidamente, não abro os olhos temendo que nada tenha melhorado mas ao mesmo tempo a esperança de que tenha sido algo momentâneo aperta o meu peito, engulo fortemente. Sinto uma mão que passa pela minha testa e acaricia meus cabelos, admito que se fosse simplesmente pelo toque eu não reconheceria quem é mas o cheiro denunciou Namjoon, suspiro profundamente e levo minha mão até a sua acariciando-a, mais uma vez as lágrimas vem a tona
- Como você está, Hobi? - Sua voz soa rouca e baixa, mais do que o normal - ficamos preocupados com você, os meninos não puderam entrar então eu vim, mas estamos todos com muita saudades e muito preocupados com você - eu apenas escuto a sua voz sem dizer nada, não sei se ele sabe o que aconteceu, o porquê de eu não abrir os meus olhos para apreciar o seu belo rosto - o médico conversou comigo... - eu ouço ele fungando - você sabe que isso vai ser difícil mas vamos continuar te amando, não deixe que isso estrague a sua vida, eu sempre vou estar aqui para vo... - alguém entrou no quarto, não sei dizer se é um médico ou um enfermeiro mas ele me diz que eu poderia ir para casa agora - obrigado, nos vemos na recepção - Namjoon responde - você ouviu? Vamos para casa - pelas jeito que ele pronuncia suas palavras pude perceber que ele sorria, me sento na cama ainda sem abrir os olhos, sinto que ele se põe na minha frente quando meus joelhos tocam suas coxas - hey abre os olhos - ele diz com uma voz doce
- não tenho porque abri-los - abaixo a minha cabeça, triste - eu não consigo ver nada mesmo
- mas eu quero ver seus olhos, aposto que eles ainda são lindos e brilhantes, como sempre - ele encosta sua cabeça na minha - e tenho certeza que eles ainda podem me deixar feliz só de vê-los - novamente lágrimas escorrem pelo meu rosto e meu coração começa a bater cada vez mais rápido e mais forte me dando a sensação de que ele poderia rasgar meu peito e cair no chão do quarto a qualquer momento.
Vou abrindo os olhos devagar, deixo meu olhar baixo em teoria fitando o chão mas não sei o que eu estava verdadeiramente olhando, me pergunto o quão branco seria o chão daquele hospital, questiono a presença de manchas ou de pequenos acúmulos de poeira nas rodinhas da maca mas eu não poderia saber, levanto o olhar fixando qualquer coisa que estivesse na minha frente, gostaria de relatar minha vista ficando embaçada por causa das lágrimas mas dessa vez não posso dizer nada além da sensação das lágrimas enchendo os meus olhos. O polegar do Nam limpa minha bochecha dos rastros molhados que a minha tristeza deixou por lá
- lindo, seus olhos são lindos - ele suspira - você é lindo
Empurro meu tronco para frente, me jogando no peito do garoto que proferia palavras lindas para mim naquele momento de dor e agonia, minha alma extravasava toda minha dor em lágrimas e soluços enquanto meus punhos apertavam e torciam sua camisa, sua mão segurava a lateral do meu rosto e a outra afagava minhas costas eu sentia suas lagrimas no meu couro cabeludo o que só me fazia sentir ainda mais desesperado.
Cinco minutos se passaram e meu choro desesperado se resumiu em soluços secos, eu ainda sinto minhas bochechas molhadas e meu nariz ainda escorre um pouco, o líder beija minha testa e se afasta um pouco mas ainda segurando minha mão, mais uma vez ele se aproxima, eu toco o que ele tem na mão e sinto o meu moletom, levanto os braços e ele me veste após isso escuto o barulho de uma cadeira sendo arrastada e o Nam se senta, ele gentilmente pega o meu pé e coloca e meia e depois o sapato fazendo a mesma ação com o outro pé
- você quer usar óculos? - o mesmo pergunta ainda com o meu pé sobre sua coxa, eu nego com a cabeça - então eu acho que você está pronto - eu recolho a minha perna e ele se levanta colocando a cadeira no lugar, tento me levantar cautelosamente, apoio antes um pé e depois o outro, ainda estou apoiado na cama mas já estou em contato com o chão o que já é um bom progresso.
Tiro as minhas mãos da cama e dou um passo para frente, o que eu não esperava é que na minha frente tem uns fios pelo chão conectados a máquina que media até então meus batimentos cardíacos, tropeço e caio de peito no chão, felizmente coloquei as duas mãos na frente para amparar a minha queda mas nada consegue amenizar a dor do meu ego, eu me sinto envergonhado mais uma vez choro desesperadamente, me viro de barriga para cima em busca de ar.
Namjoon vem até mim e coloca minha cabeça no seu colo, ele acaricia meu cabelo esperando que eu me acalme
- Our love is six feet under - escuto a voz do Nam cantando docemente - I can't help but wonder, If our grave was watered by the rain, would roses bloom? - meu choro cessa aos poucos até que pare por completo e eu consigo levantar com a ajuda dele - Vamos? - ele pergunta e eu faço que sim chacoalhando a cabeça, entrelaçamos os nossos braços e vamos andando em direção a saída, deixo que ele me guie até o carro.
Antes eu não enxergava nada, agora eu enxergo a escuridão que me consome

Love is blind; NamSeokOnde histórias criam vida. Descubra agora