04. Quem pediu por uma aula de foxtrot?

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Calista Parker

— Calie, quer mais um pedaço? — Antes que eu pudesse responder, Collin serviu outra fatia do bolo red velvet em meu prato. Foi sua mãe quem encomendou o segundo bolo do meu aniversário. Ele tinha dois andares, três camadas de glacê, morangos e cobertura de cereja.

— Obrigada, Collin — murmurei desanimada. Remexi o pedaço com o garfo, sem qualquer apetite, enquanto ele me analisava à espera de minha mordida.

Aquela estava sendo uma das noites mais entediantes da minha vida, até desenhei um mapa-múndi em um guardanapo.

— O que está acontecendo com você, Calie? Quer que nossos pais pensem que não te trato bem? — Collin se curvou em minha direção e sussurrou em seu habitual tom passivo-agressivo.

— Desculpe, é que tive cólicas hoje. — Realinhei minha postura na cadeira e dei uma rápida garfada no bolo. Após engolir, tornei a sorrir para Collin. Um sorriso falso, mas convincente.

Garoto idiota.

Por ser meu aniversário, eu não tive muito progresso durante o dia. A pista estúpida de Hermes eliminava apenas o Canadá. Ou seja, só faltava cento e noventa e dois países para procurar. Sem contar que, depois de sua última mensagem, ele não voltou a me responder.

Não fosse o suficiente, as amigas de Calie passaram a tarde toda em casa para comemorar seu aniversário. Levaram um bolo improvisado de cenoura, velas e cervejas escondidas. Elas também tinham o plano de convencer Janet e Bill que Calie — aliás, eu — preferiria comemorar meu aniversário no Jz's Pizza ao invés de um restaurante pomposo. Não estavam enganadas. Até que foi divertido, principalmente porque Morgan e Beth me deixaram desenhar e pintar em suas mãos e braços: um girassol para Morgan e uma concha para Beth.

E como eu já esperava, Janet se mostrou irredutível ao pedido das garotas. Para a família de Calie, manter uma imagem agradável aos olhos do chefe de Bill era a maior prioridade naquele dia.

No jantar estavam presentes Collin, meu namorado; os pais dele, Margareth e Robert Dewey e minha família, Janet, Bill — meus pais —, Charlie e Tom — meus irmãos mais novos. Bill não costumava levar a senhora Esteno, minha bisavó, para sair de casa com frequência por conta de sua doença, então uma das enfermeiras ficou tomando conta dela.

O restaurante Richmond Station era do tipo cinco estrelas, por isso Janet me obrigou a prender a juba ruiva em um coque com presilhas peroladas. Também a usar um vestido de veludo com tiras cor de pêssego, junto do exageradamente alto par de saltos prateado e a corrente de ouro que Collin me deu no natal. Ela era muito sofisticada e, como pingente, havia um enorme e chamativo par de letras: CD.

Sim, ele não quis me dar um C, para eu poder dizer às pessoas que era de Calie. Tinha de ser um CD, como em Collin Dewey.

— Sua namorada é tão quietinha, Collin. — Como se a situação não fosse desconfortável o suficiente, o primo de Collin, Henry, estava visitando a cidade, e meu namorado teve a brilhante ideia de também convidá-lo para o jantar.

Não é que fosse uma pessoa desagradável, até era mais gentil que Collin. Só que minhas prioridades eram outras e aquele teatro todo só me atrasava mais.

— Ela não teve um bom dia. Sabe como é, mulheres são frágeis e seus hormônios estão sempre fora de controle. — Collin jogou o braço por cima do meu ombro e me puxou para si, expressando seu desejo de mostrar que eu era o seu troféu.

— As que conheço são bem fortes e independentes, você ficaria surpreso. — Henry direcionou sua atenção ao celular após o gesto ridículo de meu namorado. Eu não o censurava  por preferir dar atenção ao aparelho, teria feito o mesmo.

Ágape: Uma Promessa de Outras Vidas Onde histórias criam vida. Descubra agora